A Rede 8 de Março é uma plataforma nacional que reúne coletivos, associações, partidos e pessoas a título individual mobilizadas na construção da Greve Feminista de 8 de Março de 2021 em Portugal.
«Nos anos anteriores ocupamos ruas e praças por todo o país e, vários sindicatos chamaram à greve feminista internacional. Este ano voltamos a convocar Greve para dia 8 de Março, com as devidas precauções devido à situação pandémica. Iremos realizar acções online e nas ruas e nas praças de várias cidades (respeitando as normas em vigor) - Faro, Coimbra, Lisboa, Porto, Braga, Ponta Delgada e Angra do Heroísmo – para lutar contra a discriminação, violência e desigualdade que persiste nas ruas, nas escolas, nos locais de trabalho, na justiça e na proteção das vítimas de violência de género.
Entendemos que a pandemia veio agravar as desigualdades, carregando sobre os ombros das mulheres outras tarefas, que se prendem com a articulação da vida profissional e familiar em contexto de confinamento, teletrabalho, ensino à distância etc. Sabemos também que são as mulheres que estão na linha da frente em muitos sectores - em especial na saúde e na educação, nos serviços, nos supermercados, no sector das limpezas que não encerraram durante a pandemia. Os motivos para exigirmos respostas e mudanças são muitos! Não queremos pagar a factura desta pandemia, nem voltar à “normalidade”, pois foi essa “normalidade” que originou e perpetuou as desigualdades que hoje vivemos.
A nossa convocação vai além de uma greve tradicional – ou seja laboral - as nossas reivindicações estendem-se ao âmbito da reprodução social, à esfera dos cuidados domésticos e familiares, à vida estudantil e à sociedade de consumo.
Pretendemos unir-nos às mulheres de todas as partes do mundo, construindo redes de solidariedade, de apoio e de aprendizagem transnacionais para combater as desigualdades que sofremos.
Os sindicatos que se somam à greve emitindo pré-avisos são o Sindicato de Trabalhadores de Call Center e o Sindicato de Tod@s @s Professor@s. Além desses, temos o apoio à greve do Sindicato Independente Profissionais Enfermagem.
- PORQUE É QUE FAZEMOS GREVE?
Convocamos greve porque o contexto pandémico atual, com os seus inegáveis impactos económicos e sociais, reforçam a necessidade da luta feminista por melhores condições de vida. As mulheres, a quem normalmente já são reservadas as posições mais precarizadas, foram as primeiras a ser dispensadas, sendo que, em Portugal, entre março e abril de 2020, 9 em cada 10 empregos perdidos eram ocupados por mulheres. São também as que estão maioritariamente na linha da frente no combate à COVID 19, nos hospitais, lares e serviços. Além disso, os casos de violência doméstica têm vindo a agravar-se com um consequente aumento das tentativas de femicídios desde o início deste ano. 34% das queixas apresentadas corresponderam a vítimas de violência doméstica pela primeira vez. A violência patriarcal já fez pelo menos 4 vítimas mortais este ano e 32 (27 mulheres) em 2020. A violência e controle policial também tem sido aprofundada em nome da segurança sanitária.
- Porque em Portugal a violência machista mata, em média, duas de nós a cada mês; porque somos 80% das vítimas de violência doméstica e 90.7% das de crimes sexuais; porque não acreditam em nós quando denunciamos, e nos atribuem a responsabilidade das violências que sofremos; porque somos as que vivem em alerta permanente, pelo assédio a que estamos sujeitas no espaço público e no local de trabalho;
- Porque é a nós que nos é exigida a conciliação entre a atividade profissional, a maternidade e a vida familiar; porque o trabalho doméstico e de cuidados que sustenta a vida não é partilhado entre homens e mulheres e recai sobretudo em nós, é invisibilizado e desvalorizado;
- Porque somos as mais precárias no mercado de trabalho; porque somos as mais pobres na sociedade; porque a desigualdade salarial faz com que trabalhemos 52 dias por ano sem receber;
- Porque a contratação de serviços domésticos reproduz muitas vezes várias desigualdades raciais, de género e de classe, porque é um trabalho frequentemente desenvolvido por mulheres migrantes e racializadas, sem contrato e sem direitos;
- Porque a educação que temos não é economicamente acessível a toda a população e ela reproduz narrativas hegemónicas, coloniais e capitalistas e reforça as discriminações raciais, sexistas, de classe, de orientação sexual e de identidade de género;
- Porque recusamos a exploração dos nossos corpos e das nossas identidades, a imposição de estereótipos de beleza formatados e comportamentos padrão que promovem estigmas e discriminações;
- Porque rejeitamos a sociedade de consumo, que nos condiciona a liberdade e nos transforma em meras consumidoras; porque estamos comprometidas com as lutas contra as alterações climáticas, contra o consumismo, contra a dependência de energias fósseis e em defesa da soberania alimentar;
- Porque rejeitamos as guerras e a produção de armamento; porque as guerras originam milhões de pessoas refugiadas, entre as quais muitas mulheres e crianças, vítimas de redes de tráfico humano e sexual, da pobreza e da destruição.
Pelo mundo temos visto ameaças constantes aos nossos direitos e infelizmente Portugal não foge a exceção e temos visto o avanço da extrema direita. A resposta é a nossa luta conjunta, para que não haja retrocessos, mas avanços. A luta não pára até que todas as pessoas sejam livres deste sistema que nos oprime, precariza e mata.
No dia 8 de Março, dia Internacional da Mulher, saímos à rua pelos nossos direitos, contra a exploração capitalista e a violência machista e racista.
Se as mulheres param, o mundo pára!»
Concentrações:
Lisboa: Rossio 18H | Porto: Avenida dos Aliados 19H | Coimbra: Praça 8 de Maio 17H | Braga: Avenida Central 18H30 | Faro: Mercado Municipal 11h30 | Ponta Delgada - S. Miguel 18H (Açores) | Angra do Heroísmo - Ilha Terceira 18H (Açores) |
Assembleia online Nacional às 18H