A digitalização dos eventos científicos complementará o formato presencial que garante a partilha de experiências e a transmissão de conhecimento prático
Num ano que ficará marcado pela urgente adaptação da educação médica ao modelo digital devido à Covid-19, os profissionais de saúde são unânimes ao considerar que a sua formação não ficou comprometida e que, apesar da digitalização passar a fazer parte de uma nova normalidade, o modelo convencional deverá regressar. Estas são as principais conclusões de um webinar promovido pela Mundipharma que reuniu a Ordem dos Médicos e sete Sociedades Médicas, com o intuito de repensar a atualização científica no presente e num futuro próximo.
Em tempos de pandemia, algumas alterações foram impostas mas as atividades formativas mantiveram-se. As sociedades médicas viram-se forçadas a ajustar os modelos aos recursos existentes através da aposta em plataformas digitais, cursos de e-learning e formação à distância. Quando questionados sobre o futuro dos eventos científicos, os profissionais de saúde presentes no webinar sugerem a possibilidade de um modelo “híbrido” em que um grupo reduzido de pessoas estará presente fisicamente e um grupo maior poderá assistir à distância através da transmissão livestreaming das sessões.
Miguel Guimarães, Bastonário da Ordem dos Médicos reforça que “A Ordem dos Médicos, estávamos apenas no dia 2 de março, foi a primeira estrutura, em conjunto com a Apifarma, a recomendar o cancelamento ou adiamento de eventos científicos. Com o recurso às novas tecnologias, felizmente tem sido possível dar seguimento a muitas formações e estou certo de que o modelo digital sairá reforçado, por exemplo também em algum do acompanhamento de doentes crónicos. Mas a prática clínica e a formação médica contínua não poderão ficar dependentes apenas destes modelos. A relação médico-doente presencial é a essência da medicina e os meios digitais nunca permitem que seja exercida em pleno. Da mesma forma, a partilha da cultura e de experiências clínicas entre pares são também basilares para uma formação completa.”
A digitalização dos eventos traz algumas vantagens na medida em que esse formato permite chegar a milhares de pessoas, algo que jamais seria viável numa sessão presencial. Estas sessões digitais devem ser certificadas pelas sociedades médicas, com vista a reforçar o papel pedagógico, rigoroso e científico.
No entanto, o desafio das novas tecnologias coloca-se a vários níveis e também acarreta entraves, não apenas no que respeita aos médicos que estão menos familiarizados com estas ferramentas. A classe médica reconhece que neste momento está a ser convocada para inúmeras formações à distância, o que para aqueles que têm maior atividade assistencial, dificulta o acompanhamento de todas estas sessões.
Por outro lado, apesar de reconhecerem que a solução digital dominará o futuro, os profissionais de saúde defendem que a relação entre médicos é como a relação médico-doente, em que precisam de estar frente a frente. É essa proximidade que favorece a transmissão do conhecimento prático e as trocas culturais.
Em jeito de conclusão, os profissionais de saúde concordam que vão investir mais no ensino à distância, mas seguramente voltarão ao modelo convencional que assegura o networking e a vertente social. Isto porque o médico não é só informação. Há toda uma componente de partilha de experiência, de convívio e de encontro que é muito importante nas reuniões e congressos.
Assistido por cerca de 500 pessoas, o webinar “Qual o papel das Sociedades Médicas na formação dos profissionais de saúde na era pós-Covid” contou com a intervenção do Bastonário da Ordem dos Médicos e de sete sociedades científicas e pode ser visualizado no seguinte link: https://mundipharmapro.com/