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Presidente da Junta de Freguesia, Luís Paixão, entrega carta a Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República

Presidente da Junta de Freguesia, Luís Paixão, entrega carta a Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República

Marcando presença na visita do Presidente da República ao concelho de Vila do Bispo (Budens e Sagres), Luís Paixão, Presidente da Junta de Freguesia de Sagres, teve oportunidade de entregar uma carta a Marcelo Rebelo de Sousa.

Conheça, na íntegra, a missiva do autarca ao Chefe de Estado.

“Assunto: Visita ao concelho de Vila do Bispo - Sagres

Exmo. Senhor Presidente da República Portuguesa

Prof. Dr. Marcelo Rebelo de Sousa

Dirijo-me a V.Ex.ª desta forma, porque, ainda que possamos estar juntos na visita ao concelho de Vila do Bispo, penso não ser oportuno entrar em diálogo, pois não faz parte da agenda e a situação epidemiológica que se vive no momento não aconselha.

No entanto, como presidente da Junta de Freguesia de Sagres, não posso deixar passar esta oportunidade sem lhe dar a conhecer um pouco de Sagres e a da sua realidade.

Existem referências a Sagres 4000 anos antes de cristo, mas foi o Infante D. Henrique quem lhe deu projeção, ao escolher Sagres para construir a sua Vila e aí viver grande parte da sua vida.

O Infante, homem de visão, escolheu Sagres porque Sagres era, e continua a ser, um ponto estratégico para a navegação. É o ponto de passagem obrigatório do tráfego marítimo que navega entre o Norte da Europa e o Mediterrâneo.

Sagres é uma zona muito ventosa e o Infante percebeu que havia necessidade de criar condições para as embarcações se abrigarem nas suas baias e enseadas. Esta permanência podia arrastar-se por longos períodos e o Infante defendia a necessidade de se providenciar algum apoio a estes navegantes que, durante a sua espera, viam-se privados de mantimentos e de assistência religiosa.

Como no tempo do Infante, Sagres continua, devido á sua localização geográfica, a ser um ponto estratégico para a navegação marítima. Anualmente passam ao largo de Sagres, milhares de embarcações de recreio que navegam ao longo da costa portuguesa, sem poderem dispor de um local de refúgio e de apoio entre Sines e Lagos e quando a intempérie é maior a barra de Lagos fecha, deixando as embarcações desamparadas.

É inadmissível que hoje as condições de segurança para os navegadores sejam idênticas às de quase 600 anos atrás, continuam a ser obrigados a se abrigar nas baias do Beliche ou da Mareta.

É inadmissível que Sagres não tenha um porto de recreio e que o Porto da Baleeira não disponha de um local de abrigo temporário onde as embarcações de recreio possam se abrigar e descansar, com sanitários, balneários e abastecimento de água potável e combustível.

Sagres apenas tem um Porto de Abrigo para pescadores, que está a cair aos bocados, devido à falta de manutenção, que põe em causa a segurança dos pescadores e que transmite aos visitantes uma imagem degradante de um País da União Europeia, que tem como principal sector da economia o turismo.

Sagres é das localidades mais visitadas do País, apesar do comboio e a Via do Infante só chegarem até Lagos, apesar da Estrada Nacional 125 entre Lagos e Vila do Bispo ser um entrave para a circulação, apesar da entrada de Sagres não ter as mínimas condições de segurança para peões e automobilistas e não ter a dignidade que se impõe a uma Vila que recebe mais de um milhão de visantes anualmente. A entrada de Sagres é uma infraestrutura rodoviária que todos, nos últimos 20 anos, consideram de extraordinária importância sofrer obras de requalificação, mas que até ao momento nada foi feito.

Apesar das dificuldades para chegar a Sagres, quem visita Sagres deixa-se levar numa viagem inesquecível de experiências, sensações e emoções.

Os Gregos e os Romanos a esta zona chamavam de Promontório Sacrum, ou seja, Promontório Sagrado, daí o nome Sagres. Os sítios sagrados são locais que surpreendem os visitantes pela sua beleza e grandeza, que irradiam uma intensa espiritualidade, não deixando ninguém indiferente perante tamanha imponência.

Sagres é um Santuário Natural, que possui um magnetismo que atrai gente dos quatro cantos do mundo. Esse magnetismo é mais intenso na Fortaleza de Sagres e no Cabo de São Vicente, senão vejamos:

A Fortaleza de Sagres, apesar de estar constantemente em obras desde a década de 90, apesar do centro expositivo nunca ter funcionado, facto que faz com que quem visita este local saia dele com o mesmo conhecimento cultural do que quando entrou, não impede que a Fortaleza de Sagres seja o monumento mais visitado do algarve.

O Centro Expositivo Multimédia dos Descobrimentos, em construção desde 2015 e cuja data para a sua conclusão era final de 2019, ainda está na primeira fase. Espero que quando se iniciar a segunda fase não sejam necessárias obras, pois com o tempo os materiais vão se degradando.

Tenho esperança que quando o Centro Expositivo Multimédia dos Descobrimentos entrar em funcionamento quem vá visitar a Fortaleza de Sagres saia de lá a conhecer a importância de Portugal, de Sagres e do Infante D. Henrique na descoberta de novos mundos.

Relativamente ao cabo de S. Vicente, Artemidoro, que viveu na segunda metade do século II d.c, dizia que no Cabo de S. Vicente o pôr do sol era cem vezes maior do que noutros locais e que ninguém ponha o pé lá depois do sol se pôr, uma vez que os deuses vinham descansar à noite dos seus trabalhos e das suas viagens pelo mundo.

O cabo de S. Vicente foi, desde meados do seculo IV lugar de devoção e peregrinação para muitos cristãos, que aí se deslocavam em romaria para visitar o túmulo de S. Vicente.

Hoje em dia, a romaria ao cabo de S. Vicente não é para visitar o túmulo de S. Vicente, mas para ver o pôr do sol, que como Artemidoro disse, é cem vezes maior e para contemplar uma beleza natural única, onde a terra e o mar se fundem, considerado pelo site oficial da National Geographic, como um dos dez locais do mundo com vista oceânica mais bonita.

Infelizmente no Verão torna-se caótico visitar o Cabo de S. Vicente para assistir á sua beleza, devido á falta de ordenamento do estacionamento e do trânsito, formando-se filas de vários quilómetros de carros estacionados em ambos os lados, impossibilitando a circulação rodoviária.

A natureza foi generosa para com Sagres, mas o Homem, aquele que tem o dever de gerir o território não o tem sido.

Sagres é um paraíso para quem procura um algarve genuíno, sempre com o mar como pano de fundo, com um rico património histórico e cultural, com uma fauna e uma flora única e com uma beleza natural inconfundível.

Em Sagres respira-se o ar da História, do Culto e do Sagrado.

A freguesia de Sagres e as suas gentes, ficam muito gratas se V.Exª dedicar um pouquinho do seu tempo às necessidades desta terra, que de certo modo, contribuiu para a expansão de Portugal.

Confiando plenamente no empenho de V. Exª, agradeço a atenção.

As minhas cordiais saudações.”

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