O Movimento Juntos pelo Sudoeste, constituído no final de 2019 como reacção ao avanço descontrolado da agricultura intensiva no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV), acaba de publicar o seu manifesto, aproveitando o momento político para fazer um forte apelo ao novo Governo para pôr os olhos na situação ambiental do Sudoeste de Portugal, que corre o risco de implodir, engolido pela voracidade imparável do modelo agrícola difundido no Perímetro de Rega do Mira (PRM).
A infraestrutura de rega, alimentada pela albufeira de Santa Clara, projectada e construída na década de 60 do século passado, que funciona por gravidade e apresenta à data de hoje deficiências estruturais que provocam entre 30 a 40 por cento de perdas de água, teria, supostamente, capacidade para irrigar 12 000 hectares. Mas a ocupação galopante do território por actividades agrícolas intensivas, invasivas e abusivas dos valores e da riqueza natural, substituindo sistemas extensivos e tradicionais, tem alimentado um apetite voraz e uma rentabilidade cega que, sendo mais “atractiva", traz um custo incomportável para todo o Sudoeste, que perdurará no tempo.
Neste momento, quando a Barragem de Santa Clara vê a sua reserva de água a níveis alarmantes, em total dissonância crescem diariamente as áreas plastificadas na zona costeira entre Vila Nova de Milfontes e Odeceixe/Rogil, numa aparente cegueira perante a inexistência de condições para persistir neste alucinante ritmo de expansão. Simultaneamente, a Associação dos Beneficiários do Mira (ABM), entidade concessionária da gestão deste precioso recurso, acaba de “acordar” para a realidade da seca, lamentando a fraca precipitação mas sem questionar a sua responsabilidade - desde 2013 que as reservas da Barragem de Santa Clara estão em declínio evidente.
Já antes do cenário actual de seca extrema se ter revelado em toda a sua gravidade, o Juntos pelo Sudoeste alertava para um crescimento desproporcional da agricultura intensiva, sem respeito pelas especificidades e sensibilidades da região sudoeste. Aliás, o movimento de cidadãos constituiu-se na sequência da Resolução de Conselho de Ministros 179 de 24 de Outubro de 2019, que estabeleceu um regime transitório de dez anos para o PRM e supostamente traria soluções, mas que na práctica veio agravar uma situação claramente insustentável, possibilitando o triplo da área de culturas cobertas por plástico, quando a ocupação da altura já causava uma ferida profunda na região, com custos ambientais, sociais e humanos extremamente graves e que têm sido amplamente divulgados, em Portugal e noutros países da Europa.
Tudo isto tem acontecido, aliás, pela mão do mesmo legislador que, através da Resolução do Conselho de Ministros n.º 11-B/2011, implementou o regulamento do Plano de Ordenamento do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (POPNSACV), instrumento de gestão territorial fundamental para enquadrar os valores naturais que aqui se encontram, que conduziram à sua colocação na Lista Nacional de Sítios, em 1997, e que levaram a considerá-lo Zona de Protecção Especial em 1999 e em Sítio de Importância Comunitária em 2004.
Numa época dramática, depois de uma pandemia ter assolado o planeta e de uma horrenda guerra na Europa terem exposto as fragilidades da estratégia agrícola em Portugal, assiste-se uma seca que só tem paralelo no ano de 2005, sem que o Governo tome as rédeas à situação do Sudoeste e estabeleça limites claros ao grau de destruição a que uma região pode ser sujeita; na realidade este ímpeto do agronegócio só é possível porque o Estado português abdicou e continua a abdicar de cuidar e vigiar partes muito significativas do seu território, permitindo a instalação de interesses que não devolvem nada à região e que estão em completa contradição com os valores que se pretendem proteger, assim como a realidade de uma situação assustadora de escassez de água. Concretamente, o Movimento Juntos pelo Sudoeste pede coragem política para colocar um travão imediato a novas explorações e/ou ampliações de projectos existentes e para repensar todo o modelo de (sub)desenvolvimento que tem sido imposto ao Sudoeste.
Link para Vídeo:
htps://www.youtube.com/watch?v=7Ak4Fj9Szg4&feature=youtu.be
Link para Campanha de crowdfunding:
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Documentario Oficina de Luz:
htps://www.youtube.com/watch?v=ZToXYc405sM