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Covid-19 - João Dias, Enfermeiro e Deputado da CDU, ao ‘Correio de Lagos’

Covid-19 - João Dias, Enfermeiro e Deputado da CDU, ao ‘Correio de Lagos’

“Quando dizemos que é preciso continuar a viver e a economia tem de funcionar, não caímos no excesso de dizer, como Balsonaro e Trump dizem, que isto é uma gripezinha”

“Isto é, efectivamente, uma doença de saúde pública preocupante, mas que não deve servir de desculpa para nos cortar direitos”. O alerta é do deputado da CDU pelo círculo eleitoral de Beja, João Dias, também profissional de enfermagem, em declarações ao ‘Correio de Lagos’, sobre a Covid-19, quando, na passada segunda-feira, dia 12 de Outubro de 2020, esteve na Docapesca, nesta cidade algarvia. Ainda antes de ser decretado o estado de calamidade em Portugal, o deputado comunista garantiu que “nas nossas reuniões toda a gente tem máscara”, defende o seu uso na rua quando haja pessoas e deixa um apelo à população: “previnam-se!”. Tanto em relação ao novo coronavírus, com medidas de segurança, como contra a gripe, recomendando para tal a vacina.

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Correio de Lagos - A Covid-19 também já chegou ao Governo, com um ministro infectado. Que medidas tomou o PCP para controlar a pandemia?

João Dias - O PCP já tomou essas precauções internamente há algum tempo. A Festa do Avante foi um bom exemplo. Quando foi uma luta bastante difícil, nós provámos que somos responsáveis. E quando exigimos medidas de proteção e segurança para a população, também as praticamos internamente. É evidente que nas nossas reuniões utilizamos meios de protecção, nomeadamente máscaras. Toda a gente tem máscara. Temos, também, álcool gel para a desinfeção e descontaminação das mãos. Temos todas essas medidas porque - eu costumo dizer isto - nem nos tempos da ditadura (e eu nasci antes do 25 de Abril de 1974), nós, comunistas, mandámos um camarada para a morte. Não é, agora, numa situação destas, que o faríamos.

Mas ao mesmo tempo que exigimos medidas de prevenção, segurança, cuidados de saúde, um Serviço Nacional de Saúde que responda às necessidades, também exigimos que a economia e a vida não podem parar. E é este balanço e este equilíbrio que têm de imperar.

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Na rua, “em situações de contacto físico, deve usar-se a máscara”

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Correio de Lagos - O uso da máscara deve ser obrigatório na rua?

João Dias - No nosso entendimento, a máscara deverá ser uma avaliação que as autoridades de segurança devem fazer e nós temos de respeitar.

Correio de Lagos - E qual é a sua opinião?

João Dias - Sou deputado e profissional de saúde, enfermeiro. E como enfermeiro, aquilo que eu digo é que as pessoas, em situações em que devido à proximidade e à situação de contacto físico não seja possível prevenir, deve utilizar-se a máscara. Muitas vezes vamos rua sozinhos. Poderá ser uma avaliação que a pessoa faz e não há necessidade sempre de utilizar a máscara. Mas no encontro com alguns aglomerados de pessoas e estando até em causa aquilo que é a nossa segurança até com pessoas que desconhecemos, acho que devemos todos precaver-nos. E essa precaução é uma proteção de todos. Estamos confrontados com uma doença contagiosa, comunitária, mas que implica acima de tudo também muita consciência individual de cada um de nós.

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Correio de Lagos - Contudo, cada vez mais existem abusos, excessos, festas com dezenas pessoas no mesmo espaço e sem quaisquer medidas de segurança...

João Dias - Temos de ter esta consciência: naturalmente, nós, o ser humano, somos seres sociáveis, temos necessidade de contacto e de nos sociabilizar com outros. E quando estamos confrontados com uma situação de algum isolamento durante alguns meses, essa necessidade torna-se ainda mais evidente e por vezes até esquecemos as medidas de segurança. Assistimos a isso nas praias, assistimos a isso nalguns eventos, em festas privadas e noutras situações. Ora, aquilo que dizemos, mesmo por isso, é que deve haver algum equilíbrio e cumprimento das medidas de segurança. As pessoas não devem cair no excesso. Quando dizemos que é preciso continuar a viver e a economia tem de funcionar, não caímos no excesso de dizer, como Bolsonaro e Trump dizem, que isto é uma gripezinha. Aquilo que nós dizemos é que isto é, efetivamente, uma doença de saúde pública preocupante, mas que não deve servir de desculpa para nos cortar direitos, para nos cortar muito daquilo que podemos fazer. Vou dar o maior exemplo.

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Grande parte dos trabalhadores, nesta altura em ‘lay-off’, perdeu trinta por cento do seu salário. Eles estão em risco de perder o emprego e estão submissos e humildemente a aceitar esta situação. Isto é algo que nos faz alertar. (…) o pavor não é positivo e prejudica pessoas até mesmo na luta pelos seus direitos”

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Correio de Lagos - Qual é?

João Dias - Nós temos, neste momento, centenas de milhares de trabalhadores com o salário cortado em 30 por cento. Se dissessem, há meses, que iam cortar 30 por cento dos salários dos trabalhadores, ninguém aceitaria isso de ânimo leve e haveria uma revolta por parte das pessoas. Grande parte dos trabalhadores, nesta altura em ‘lay-off’, perdeu trinta por cento do seu salário. Eles estão em risco de perder o emprego e estão submissos e humildemente a aceitar esta situação. Isto é algo que nos faz alertar.

As pessoas têm de ter consciência de que não podem ir para uma festa, correndo o risco de prejudicar a sua saúde e a dos outros, de uma forma pouco cuidada e desrespeitando as normas da Direcção-Geral da Saúde. Não nos podemos esquecer: a Direcção-Geral da Saúde não é uma entidade qualquer. São profissionais de saúde que estão lá a emitir as recomendações que são consideradas em função daquilo que são as orientações internacionais e daquilo que o estudo e a ciência sabem acerca da doença. E portanto, devemos respeitar, seguir as orientações dos profissionais de saúde.

Mas, também, não podemos entrar no outro extremo que é o pavor. O pavor não é positivo e prejudica as pessoas até mesmo na luta pelos seus direitos.

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Havendo a possibilidade de ter a garantia com uma vacina contra a gripe, então que nos vacinemos até que venha a segunda vacina que será a da covid”

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Correio de Lagos - Covid-19 e gripe no Inverno - o sistema de saúde em Portugal está preparado para enfrentar tudo isso, com a segunda vaga da pandemia do novo coronavírus? Que medidas devem ser tomadas?

João Dias - Temos obrigação de já conhecermos alguma coisa desta doença. E por isso, temos obrigação de saber responder, pelo menos em termos preventivos e de organização. Em Março deste ano, estávamos muito bem piores. Mas há uma coisa que temos de ter a certeza: com as medidas higiénico-sanitárias que estamos a ter, nomeadamente a etiqueta respiratória, uso da máscara e o distanciamento físico, é provável - e até os médicos e outros profissionais o dizem - que haverá uma redução da incidência da da gripe. Não nos podemos esquecer que temos cerca de duas a três mil mortes anualmente por gripe. E estamos a falar da Covid a atingir atualmente quase duas mil. Não sabemos qual vai ser a evolução. São duas doenças respiratórias. Por isso, é aconselhável conseguirmos prevenir pelo menos uma e o que temos a fazer é vacinar, o que é fundamental. Porque não sabemos o que acontece se uma pessoa tiver em simultâneo Covid-19 e gripe. E também não sabemos o que acontecerá se alguém tiver uma doença a seguir à outra, se Covid, primeiro, e gripe, depois, ou o contrário. É que nunca tivemos esta situação. Por isso, havendo possibilidade de ter a garantia com uma vacina contra a gripe, então que nos vacinemos até que venha a segunda vacina, que será a da Covid e que, naturalmente, então nessa situação, nos trará outras condições em termos de imunidade de grupo. Neste momento, o que tenho a dizer à população é: previnam-se! Previnam-se quer em termos de comportamentos, quer em termos até de hábitos e nomeadamente no que tem a ver com o acesso à vacina. A vacina está aí para a população de risco, mas também

para a outra população se o médico prescrever e custa poucos euros, dois a três euros. Se a pessoa estiver incluída no grupo de risco, tem direito à vacina contra a gripe gratuita.

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O Algarve é bem o exemplo daquilo que tem sido a fragilidade do Serviço Nacional de Saúde”

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Correio de Lagos - Acha mesmo possível a relocalização do Hospital de Lagos, como tem defendido?

João Dias - Ser possível, é. Estamos agora confrontados com uma situação que é a seguinte: o Algarve é bem o exemplo daquilo que tem sido a fragilidade do Serviço Nacional de Saúde. Em relação ao Hospital de Lagos, há quem diga que é quase um luxo o Serviço Nacional de Saúde ter mais um hospital, tendo em conta que tem um nas proximidades, em Portimão, e existe o Hospital de Faro.

Por outro lado, vamos ver quantas clínicas e quantos hospitais privados surgiram, nos últimos anos, nestas localidades. E porque é que surgem? Surgem porque o Serviço Nacional de Saúde falha. É o médico de família que não tem e depois temos de ir mostrar exames, análises, a um médico privado, porque quando vamos mostrar ao médico de família já não temos tempo, as análises, ou os exames clínicos, já não têm validade. Por outro lado, é o problema de não haver consultas no hospital.

Portanto, se tivéssemos aqui este recurso, nunca seria um prejuízo. E o problema é que se olha para o Serviço Nacional de Saúde como um negócio. Até pelo serviço público, olha-se para esses gestores a geri-lo como se estivessem a gerir uma empresa. Ora, aqui o ganho do Serviço Nacional de Saúde e de um hospital é a população mais saudável. Se tivéssemos aqui um hospital pequeno, maior ou médio, seria sempre uma vantagem para a população, seja ela dos municípios de Vila do Bispo, ou de Aljezur, ou propriamente de Lagos, ou mesmo de outros que aqui pudessem recorrer quando nesses locais a resposta estivesse esgotada.

Agora, estamos numa situação que temos a possibilidade de vir a ter muita gente a ocupar camas devido à Covid. Ora, esgotando a possibilidade num lado, tínhamos sempre um recurso aqui. E portanto. não podemos considerar que um investimento na saúde é um investimento que se perde ou que é desnecessário. Para nós, é um investimento; para muitos dos governos é um gasto. E para os privados é um ataque àquilo que é a oportunidade de fazer negócio.

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Comprar o Hospital de São Gonçalo de Lagos “é uma avaliação” que “o município terá sempre de efectuar” (…) “mas não estamos cá disponíveis para salvar aquilo que são os maus investimentos e os maus negócios do privado

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Correio de Lagos - E em relação ao privado, admite que em vez de um novo investimento, com a construção de um novo hospital em Lagos, com a pretendida relocalização, é viável o governo e a Câmara Municipal comprarem o Hospital de São Gonçalo, que pertence ao grupo dos Hospitais Particulares do Algarve e que estará disponível para o vender?

João Dias - Essa é uma avaliação que o município terá sempre de efectuar. Não posso fazê-lo sem ter informação nesse sentido. Podemos estar a falar de um hospital que foi pensado e criado não sei com que propósito e não responder. Não sei. Aliás, poderemos ir até adquirir uma coisa e depois ter de ir lá gastar dinheiro para o ajustar e aperfeiçoar em termos daquilo que é a resposta necessária. Por isso, só com base em documentação é que poderemos fazer uma análise. Mas também digo uma coisa: não estamos cá disponíveis para salvar aquilo que são os maus investimentos e os maus negócios do privado. Se eles [Hospitais Particulares do Algarve] entenderam por bem fazê-lo [Hospital de São Gonçalo de Lagos) ali, seria porque achavam que iriam ter essa oportunidade [de negócio]. Isso é natural, é próprio. E nem estamos a dizer isto como perjúrio, ou por falar mal do privado. O privado faz um investimento, se aplica determinada verba, tem de ter retorno económico. Mas também não temos de estar aqui a salvar-lhe a pele, pois eles lá sabem os riscos que correm e é com base nisso que tomam as suas decisões. E nós tomaremos as nossas.

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Carlos Conceição

José Manuel Oliveira

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