Decorreu na terça-feira, 14 de maio, a 9ª Reunião do Conselho Local de Acompanhamento da Ação Climática do Município de Loulé, uma das iniciativas integradas na Semana do Clima.
Diversas entidades estiveram reunidas no Cineteatro Louletano, uma casa cheia para assistir a apresentações e debater ideias em torno de dois temas fulcrais: a água, a floresta e a biodiversidade.
A sessão arrancou com uma abordagem ao Roteiro Nacional de Adaptação Climática XXI, por Pedro Matos Soares, investigador principal do Instituto Dom Luiz, da Universidade de Lisboa, que veio falar sobre projeções climáticas, extremos e índices. Este projeto “dá-nos uma visão de futuro do clima português” e tem em vista apoiar os exercícios de políticas públicas de adaptação às alterações climáticas nos diferentes níveis de intervenção territorial.
O aumento e intensidade das ondas de calor até ao final do século e da perigosidade de incêndio florestal e a erosão da costa e zonas dunares são ameaças bem reais. Como tal, este Roteiro apresenta a modelação de medidas de adaptação nestes setores.
O painel seguinte, moderado por Pedro Prista, investigador associado do ICS da Universidade de Lisboa, trouxe para cima da mesa um dos temas mais pertinentes para o Algarve, a água. O vice-presidente da APA – Agência Portuguesa do Ambiente, José Pimenta Machado, apresentou o estado da arte e o futuro na região. A 20 de outubro de 2023, o Algarve vivia a pior seca de sempre, e à data de 10 de maio deste ano, apenas uma barragem no Algarve – Funcho -tinha reservas acima dos 50%. São dados que preocupam os responsáveis, numa região em que são consumidos por ano 237 hm3, sendo a agricultura o principal setor de consumo (56,8%).
É urgente a tomada de medidas para promover a eficiência hídrica e combater a seca.
O vereador da Autarquia, Carlos Carmo, trouxe uma apresentação sobre a gestão de água no Município de Loulé, o único concelho no Algarve que tem mais do que uma entidade gestora (Município, Infraquinta, Infralobo e Inframoura). Sendo o concelho com o maior consumo da região, Loulé conta com 36 captações municipais e 23 sistemas de distribuição.
Este responsável referiu as medidas que têm vindo a ser tomadas para promover a eficiência hídrica neste território e adiantou que até 2025, serão criadas 197 zonas de monitorização e controlo, mas o Município tem vindo a otimizar a pressão na rede de distribuição e a renovar o parque de contadores (até 2026, serão substituídos 10 mil contadores).
Esta reunião do Conselho contou ainda com um painel dedicado à floresta e biodiversidade, moderado pela investigadora da Universidade de Lisboa, Luísa Schmidt. A responsável da Divisão de Proteção Civil do Município, Telma Guerreiro, falou dos contributos da gestão florestal municipal na resiliência climática. A oradora apresentou dois projetos que estão a ser desenvolvidos no interior: os Condomínios de Aldeia e o combate à desertificação.
Quintã, Malhão, Vale Maria Dias, Cortelha, Montes Novos e Besteirinhos são as localidades da freguesia de Salir, a única do concelho em termos de elegibilidade de financiamento no que concerne a perigosidade e risco de incêndio, onde estão a ser implementados os Condomínios de Aldeia. O objetivo é a transformação da paisagem na envolvente das áreas edificadas, em que se preconiza a reconversão de territórios classificados como matos ou floresta noutros usos e geridos estrategicamente.
Com a mesma filosofia, na freguesia do Ameixial, foi implementado o projeto de combate à desertificação. A limpeza dos terrenos, as sementeiras de espécies melhoradoras do solo e a plantação de árvores, entre sobreiros, azinheiras e medronheiros, mas também rearborização dos terrenos de pomar misto de sequeiro (alfarrobeiras e figueiras) foram alguns dos trabalhos realizado. Foram igualmente beneficiados 6 km de rede viária.
Por último, o professor da Universidade do Algarve e consultor, Miguel Freitas, trouxe a Agenda da Sustentabilidade, Floresta, Biodiversidade e Desenvolvimento Rural 2020-2025, um instrumento que tem como foco a água, a biodiversidade e carbono e a inovação.
No que toca à água, o orador referiu, neste vasto trabalho de mapeamento e avaliação, o PERLA – Plano Estratégico de Recuperação de Linhas de Água. Ao nível da biodiversidade, Miguel Freitas relembrou que o Município de Loulé continua a alargar a sua área protegida, com a criação da Reserva Natural Local da Foz do Almargem e Trafal e o projeto para a Nave do Barão. Relativamente ao carbono, as Aldeias Resilientes (Cortelha, Amendoeira, Sarnadas, Águas Frias e Cortinhola) ou o Programa Cuidadores da Floresta são parte deste trabalho.
O Conselho Local de Acompanhamento da Ação Climática do Município de Loulé integra cerca de 85 entidades representativas dos diferentes organismos públicos e entidades externas como empresas, associações, clubes, várias organizações da sociedade civil.
O presidente da Câmara Municipal de Loulé, Vítor Aleixo, relembrou que o CLA “é o órgão mais importante da política climática levada a cabo pela Autarquia de Loulé, pois, abre as portas à participação cívica e ao envolvimento dos cidadãos, do ponto de vista individual ou das organizações a que pertencem”.
Esta é uma “política que necessita cada vez mais do envolvimento de tudo e de todos, de uma forma crescente e muito dinâmica”.
“Este é um problema absolutamente incontornável, que nos vai mobilizar. O que está a acontecer em muitas partes do mundo, amanhã pode acontecer aqui. Ou trabalhamos e envolvemos todos e fazemos uma transição justa, sem deixar ninguém para trás, ou o futuro próximo será pior e distópico”, sublinhou ainda o presidente da Câmara de Loulé.