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CCDR Algarve: Abraçar o digital

CCDR Algarve: Abraçar o digital

É uma condição para progredir na carreira, mas o último ano e meio mudou a forma como os docentes olham para a formação digital. De obrigação a manancial de recursos imprescindível, foi um saltinho. 

Muito à custa da pandemia que, ao forçar as aulas online, quebrou o grosso da resistência. A transição segue agora em velocidade cruzeiro com a esmagadora maioria dos docentes a tratar por tu uma mão cheia de novas ferramentas de ensino.

A gargalhada de Helena é sonora e ecoa pela casa. Aos 62 anos, a professora de português ri-se, enquanto abre o portátil que recebeu, novinho em folha, via Ministério da Educação, em maio passado.

Com sentido de humor, brinca com a resistência que, durante anos, a afastou do que dizia ser “o bicho da tecnologia”. Com o ecrã já ligado, faz questão de exemplificar o que a fez mudar de ideias, nos últimos dois anos, quanto às vantagens da introdução do digital em contexto de aula. “Nem os nomes das ferramentas eu queria pronunciar. Go Conqr? Prezi? Eu trabalhava com Word e Excel e nem queria ouvir falar em mais nada. O próprio check-in para avaliar as minhas competências digitais foi algo a que me submeti por obrigação. Sempre a resmungar”, confessa.

O gelo que se quebrou

Hoje dá a mão à palmatória e explica, com exemplos, como o uso de mapas mentais, flashcards, fluxogramas, slides ou questionários online ajudam a ensinar e a aprender, tornam as tarefas mais colaborativas e alcançam objetivos com muita eficácia. “Se não tivesse já frequentado algumas oficinas digitais, não imagino como teria sido quando chegou a pandemia. A transição para as aulas online foi mental e emocionalmente muito puxada, mas conseguimos graças à bagagem que já tínhamos e ao facto da formação de professores ter conseguido estar alguns passos à frente para nos apoiar”, admite.

No extremo oeste do Algarve, Ana Cristina Madeira tem noção de como tem sido o desafio de capacitar centenas de docentes que lecionam nas escolas das Terras do Infante. Durante anos, sem financiamento, a formação para os professores de Lagos, Aljezur e Vila do Bispo era feita pro bono, de forma voluntária e com a prata da casa. “Com a candidatura aprovada pelo CRESC Algarve 2020, a partir de 2016 foi possível assegurar formadores mais qualificados e de áreas específicas”.

Pandemia. E agora?

A responsável pelo Centro de Formação Rui Grácio sublinha o desafio que foi manter a formação de professores num contexto pandémico: “tivemos de transformar um plano de cerca de 40 formações, que tinham sido projetadas para ser dadas presencialmente, e adaptá-las para o digital, numa altura em que muitos de nós ainda não dominávamos sequer as aplicações de videoconferência”. Ano e meio depois, naquele centro, com exceção de uma formação de curta duração na área da Educação Física, que foi presencial, todas as outras se mantêm à distância “e assim deverão continuar até ao final deste ano letivo”, avisa.

Dos 600 docentes abrangidos pelos 4 agrupamentos das Terras do Infante, pelo menos 90% deverão concluir até 2023 formações na área do digital e da autonomia e flexibilidade curricular, outra área formativa apoiada pelo CRESC Algarve 2020. “Não contabilizamos o universo completo porque é preciso ter em conta que há cerca de 10% de docentes em mobilidade”.

Em Loulé e São Brás de Alportel, outro centro de formação assegura a formação digital a 1100 professores. De fora, continuam os educadores de infância, que deverão ser abrangidos por outro programa também financiado pelo CRESC Algarve 2020. Manuel Nora, que coordenou o centro até meados do verão, diz que o diagnóstico está feito. “A grande maioria dos professores está no nível de proficiência 2 (de 3)”. Neste caso, apesar da pandemia ter vindo acelerar algumas ações, desde 2015 que toda a formação é feita em suporte digital, com o próprio portfólio de formação nesse formato. “As formações têm-se centrado no contexto digital, nas ferramentas de ensino à distância e, sobretudo, nas aplicações e plataformas pedagógicas que podem ser mobilizadas em contexto de sala de aula. Avançámos também na área administrativa, nomeadamente na avaliação de alunos”.

De volta às aulas presenciais

Com o ensino presencial de volta, o desafio é assegurar a qualidade das ferramentas a mobilizar. “Os alunos têm um conjunto de bits de informação disponível que deve ser aproveitado do ponto de vista pedagógico. A partilha, a troca de dúvidas, a ligação facilitada e permanente aos professores e colegas é algo que vai ficar para o futuro”.

Ana Cristina Madeira concorda com o colega de Loulé e acrescenta que “há um benefício enorme na transição digital, mas nem tudo é ecrã. Há a componente pessoal e interpessoal na educação. Já havia falta de uma proximidade. Os miúdos e até os professores andavam muito perdidos com tanta aula à distância. É bom regressarmos ao presencial, que valoriza de outra forma a dimensão humana”.

Ao nível da formação de professores, a diretora do Centro de Formação Rui Grácio lembra que, para efeitos de progressão na carreira, cada professor tem de completar 50 horas de formação, em 4 anos. Mas o que antes era visto como uma imposição, depois da pandemia e das aulas online, é cada vez mais o caminho natural de aprendizagem contínua.

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