"Como temíamos e infelizmente já prevíamos, o cenário encontrado após o fogo de artifício da passagem de ano em Olhão é alarmante.

Depois de visitar o local do lançamento, constatamos, com grande preocupação, a presença de milhares de resíduos de pirotecnia espalhados por toda a área terrestre e pela zona lagunar da Ria Formosa. Entre os resíduos identificados encontram-se esponjas, pedaços de prata, fios, plásticos, cartão contaminado com pólvora e muitos outros materiais altamente prejudiciais. Infelizmente, muitos destes já devem ter sido levados pelas correntes para outras áreas, agravando ainda mais os danos." A plataforma de lançamento foi instalada numa área de proteção parcial tipo II, uma zona de elevada sensibilidade ambiental.

No entanto, os resíduos dispersaram-se por áreas de proteção parcial tipo II e tipo I, sendo estas últimas, zonas particularmente mais protegidas e frágeis da Ria Formosa. "Este facto eleva a gravidade da situação para níveis inaceitáveis, pois os danos não afetam apenas as espécies de aves protegidas – muitas delas já sob pressão devido a atividades humanas – mas também todo o ecossistema terrestre e marinho, que é vital para a biodiversidade e equilíbrio da nossa região", afirma Alexandre Pereira.

O impacto das explosões vai muito além do ruído e do stress causado às aves. Os resíduos depositados contêm materiais como plásticos, metais e químicos tóxicos que contaminam o ambiente e representam uma ameaça direta para a fauna, flora e ecossistemas marinhos da Ria Formosa.

"Trata-se de um dos ecossistemas mais ricos e vulneráveis de Portugal, e é inaceitável que ações como estas continuem a ocorrer numa área protegida.

Este episódio representa uma clara violação dos princípios de preservação ambiental e expõe uma gestão irresponsável, que coloca em risco este património natural único."

Medidas urgentes e indispensáveis Perante esta situação, Alexandre Pereira exige ações imediatas e concretas:

I. Limpeza Imediata da Área: "A Câmara Municipal de Olhão e as entidades competentes têm a obrigação de proceder, sem demora, à remoção completa dos resíduos em todas as áreas afetadas, sejam terrestres ou lagunares. Este trabalho deve ser acompanhado por técnicos especializados para minimizar os danos ambientais já causados."

II. Responsabilização pelos Danos Ambientais: "Quem tomou a decisão de autorizar o lançamento de fogo de artifício numa área protegida deve prestar contas. É fundamental que haja transparência e responsabilização para evitar que erros como este voltem a repetir-se."

III. Compromisso com Alternativas Ecológicas: "Olhão tem de avançar para práticas mais sustentáveis e responsáveis. Espetáculos de luzes, projeções ou fogo de artifício silencioso e ecológico já são uma realidade em várias partes do mundo. Estas alternativas oferecem celebrações igualmente deslumbrantes, mas sem colocar em risco as aves, os ecossistemas e a saúde pública."

"Apesar dos inúmeros apelos que fizemos para a transição para festejos mais ecológicos e para a deslocalização da plataforma de lançamento, prevaleceu a teimosia em manter práticas antiquadas, insustentáveis e devastadoras para o ambiente. É profundamente lamentável que a preservação ambiental tenha sido colocada em segundo plano em nome de uma suposta tradição que já não tem lugar nos dias de hoje.”

"Olhão e a Ria Formosa merecem mais"

"Olhão merece uma gestão que coloque a biodiversidade, o equilíbrio ambiental e o bem-estar de todas as espécies – humanas e não humanas – no centro das suas decisões. A Ria Formosa é um tesouro inigualável, não apenas para os olhanenses, mas para o país.

Não podemos aceitar que ações irresponsáveis continuem a ameaçar aquilo que nos torna únicos e que é, ao mesmo tempo, tão frágil. Fica aqui o meu apelo a todos os que partilham esta visão: que exijam das entidades responsáveis não só respostas, mas sobretudo ações. Unidos, temos a força para proteger este património, evitando que algo assim volte a acontecer no futuro."