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Votar por pombo-correio em 2025: a vergonha que persiste

Votar por pombo-correio em 2025: a vergonha que persiste

Ontem, 27 de maio de 2025, os votos dos emigrantes começaram finalmente a ser contados na Feira Internacional de Lisboa. Mais de um milhão e meio de boletins foram enviados para 192 países, mas apenas cerca de 296 mil chegaram a tempo de contar. Em pleno século XXI, continuamos a tratar o voto dos nossos compatriotas no estrangeiro como se estivéssemos em 1925, e não em 2025.

Estamos perante um problema recorrente, conhecido, e, pior do que isso, aceite como se fosse inevitável. É profundamente injusto para quem quer participar na vida democrática do seu país e se vê impedido de o fazer por culpa de um sistema anacrónico, assente nos atrasos dos correios e nos labirintos da burocracia. O voto por correspondência, da forma como está organizado, é mais um obstáculo do que um direito garantido.

Durante a minha passagem pela Secretaria de Estado das Comunidades, tive a oportunidade de coordenar o Grupo de Informatização Consular (GIC), responsável por uma modernização profunda nos nossos postos diplomáticos. Foram introduzidas soluções digitais que melhoraram significativamente o contacto dos cidadãos com o Estado português. Essa experiência demonstrou que, quando há vontade e organização, é possível simplificar e agilizar os serviços públicos prestados fora de Portugal.

O mesmo princípio pode — e deve — ser aplicado ao processo eleitoral. Existem meios tecnológicos fiáveis, testados e auditáveis que permitiriam, com segurança, a implementação do voto electrónico para os portugueses residentes no estrangeiro. Outros países já o fazem. Portugal tem todas as condições técnicas para o fazer também. O que falta é apenas dar o passo.

Esta não é uma reivindicação ousada nem um salto no escuro. É uma atualização natural do modo como exercemos a cidadania num mundo cada vez mais digital e interligado. Os portugueses no estrangeiro continuam a demonstrar interesse e vontade de participar. Cabe-nos garantir que o sistema está à altura desse interesse.

O voto é um direito. Torná-lo acessível é um dever.

Paulo Freitas do Amaral

Professor, Historiador e Autor

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