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Opinião: «O Arquivo Municipal de Lagos»

Opinião: «O Arquivo Municipal de Lagos»

Artigo de Opinião de Armando Amaro, Arquitecto/Investigador lacobrigense.

Toda a documentação, importante, produzida pela administração da cidade de Lagos desde a sua fundação, constitui por definição o Arquivo Municipal. Pela história e longevidade da nossa localidade, o nosso arquivo deve(ria) ser um importante testemunho dos vários acontecimentos, decisões e transformações que ocorreram na cidade, que se entreligam com a história do Algarve.

Infelizmente, ao longo do tempo, o espólio do arquivo foi sofrendo várias perdas.

O terramoto de 1775, que provocou inúmeros estragos na cidade, significou também a perda de importante documentação histórica, onde se incluem “51 pergaminhos”. A Câmara Municipal passaria a funcionar em casas alugadas – onde ocorre um incêndio em 1808 – até se mudar para a Praça Gil Eanes em 1860. Em 1884, no edifício dos (Antigos) Paços do Concelho, um incêndio consumiu parte da documentação. Em 1967, um terramoto afetou o edifício dos Paços do Concelho o que levou à desocupação do mesmo para obras, entre 1982 e 1986, ficando os serviços instalados provisoriamente no Quartel de Santa Bárbara.

O impensável acontece, dia 12 de maio de 1982, quando é avistada documentação a voar de um camião que percorria a Avenida dos Descobrimentos, que seguiu em direção ao descampado junto ao estádio do Esperança de Lagos, onde se queimou documentação do Arquivo Municipal, juntamente com outros objetos que se encontravam no quartel. A documentação que voou e/ou sobreviveu ao fogo e que foi salva por alguns cidadãos, era referente aos anos de 1834 a 1850, 1913 a 1919 e 1950, e encontra-se no Museu Dr. Formosinho.

Atualmente o espólio do Arquivo Municipal, depois dos vários desastres, reúne documentação desde 1745 até à atualidade, apesar de ter falhas em vários períodos. O que subsistiu constitui, no entanto, um único e valioso recurso para a história local.

Infelizmente, esta documentação, esteve demasiado tempo inacessível aos estudiosos, investigadores e público em geral. Devido à inexistência de informação ou de um serviço, dotado de recursos humanos, que permitisse o seu acesso e utilização, apesar da insistência de alguns em perguntar pela documentação existente, não existindo uma resposta adequada até há bem pouco tempo, com prejuízo para o estudo da história local de Lagos.

Existe hoje um pré inventário, que permite saber o que existe, mas é necessário, diria até urgente, garantir as condições mínimas de um serviço de arquivo aberto à população. Na perspetiva do Presidente da Câmara, o futuro do arquivo passa por procurar um edifício, fora do centro urbano, onde possa agregar toda a documentação que se encontra espalhada, onde se inclui a documentação do arquivo histórico que terá de esperar (meses ou anos) para ser devidamente instalada e tratada.

O arquivo, atualmente, encontra-se disperso por vários locais: no edifício no cemitério novo; no edifício/garagem da Porta da Vila; no Convento da N. Sra. Glória, onde existe documentação amontoada em caixas sem quaisquer condições há mais de 5 anos; no edifício dos Antigos Paços do Conselho, onde se encontra a documentação histórica. A possibilidade de um novo edifício, prevista pelo atual executivo, resolveria o problema da dispersão da documentação, da necessidade de mais espaço – pois os vários locais estão no limite da sua capacidade – e libertaria o edifício do Convento da N. Sra. Glória. No entanto, o Arquivo Histórico necessita de medidas imediatas: a elaboração de um inventário e a sua disponibilização ao público, a certeza de que continuará a ter uma sala de consulta para o público, bem como, a organização e tratamento da sua documentação, por forma a salvaguardar a conservação da mesma.

O serviço e organização do nosso Arquivo Municipal está anos atrasado, em relação aos maiores concelhos algarvios e é, por isso, urgente valorizar o nosso património arquivístico, garantindo as condições físicas e os recursos humanos que este merece.

Aguardarei com expetativa o desenvolvimento desta situação e convido todos a estarem atentos a este e outros temas da nossa história e cultura local.

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