(Z1) 2025 - CM de Vila do Bispo - Um concelho a descobrir

Lagos: retrato de um concelho sem liderança e sem estratégia

Lagos: retrato de um concelho sem liderança e sem estratégia

PEDRO CABRAL

Presidente da Comissão Política da Secção de Lagos do Partido Social Democrata

O presente artigo pretende fazer um retrato conciso do concelho de Lagos. O município de Lagos tem a área de 213km2 (média nacional: 299km2), e tem uma população estimada de 35.241 habitantes (2024). A população de jovens com menos de 15 anos representa 12,8% da população a (média nacional: 13%) e a população com mais de 65 anos representa 25,5% ( média nacional: 23,8%). Por cada 100 jovens existem 199 idosos (média nacional: 183 idosos por 100 jovens (2022)). Em 2011 em Lagos, havia 113 idosos por cada 100 jovens! Ainda analisando as características da população residente em Lagos, deve ser realçado que a população estrangeira residente passou de 6.791 residentes em 2011 (21,8% da população residente), para 13.758 residentes em 2023 (39,8% da população total residente em 2023, 34.552 residentes). O sector económico preponderante no concelho é o turismo, que beneficia das características próprias de Lagos, excelentes para este sector: clima atractivo, com baixa pluviosidade, verões quentes e secos, primavera e outono com temperaturas amenas e invernos suaves. O nº de horas de sol por ano é cerca de 3.000, o que corresponde a mais de 300 dias com sol! Para além do clima extremamente atrativo, Lagos beneficia ainda do seu território incluir uma significativa zona costeira de uma beleza inexcedível nas suas múltiplas praias e nas suas falésias e grutas majestosas. O restante território, onde se situam algumas vilas e aldeias com características próprias, também tem zonas atrativas, ainda que pouco exploradas como é o caso da Mata de Barão de S. João e a barragem da Bravura. Por fim e também muito importante, a própria cidade de Lagos, com um património histórico muito relevante, constitui um atrativo turístico de primeira grandeza. Para além do sector do turismo, no sentido lato do termo, que inclui outras áreas como por exemplo a manutenção e reparação de barcos de recreio, em Lagos existem outros sectores que contribuem para a economia local, alguns tradicionais, como a agricultura e a pesca. Outros sectores importantes são o comércio a retalho (que inclui as grandes superfícies), a prestação de serviços diversos (na área da saúde, contabilidade, serviços jurídicos, serviços de reparação e manutenção diversos e outros serviços não especificados), a produção de congelados de peixe e a aquacultura. No sector público, são os órgãos das autarquias locais que têm maior impacto na economia local, a vários níveis, e em particular a Câmara Municipal, que é o maior empregador no concelho com mais de 1.100 funcionários, e recursos financeiros muito significativos (superiores a Faro), que no período de 2021 a 2024, foram superiores a 70 milhões de euros por ano! O sector da assistência social também tem um peso significativo no emprego e na economia lacobrigenses.

Este retrato conciso, que realça os pontos fortes e fracos de Lagos, levanta várias questões e sublinha a existência de problemas graves em Lagos. Considero que o mais grave problema é o êxodo dos jovens lacobrigenses e o progressivo envelhecimento da população, conforme acima foi referido. Um município que não consegue reter ou atrair jovens terá o seu futuro comprometido. A excessiva dependência do turismo continua a ser um problema há muito detetado, mas em relação ao qual pouco tem sido feito. A principal questão que levanto é qual tem sido e qual deve ser o papel da Câmara Municipal na resposta aos principais problemas que afetam Lagos e aos desafios que se lhe deparam. Infelizmente para os lacobrigenses, o executivo socialista, ao longo dos anos, nunca foi capaz de assumir o papel de promotor principal do desenvolvimento de Lagos. Nunca houve liderança, nem o estabelecimento de objectivos, nem qualquer estratégia. Os factos assim o comprovam. Ao aumento populacional no concelho de 2001 a 2024, que ascendeu a 9.843 pessoas (25.398 hab. em 2001, para 35.241 hab. em 2024), correspondendo a um aumento de 38,8%, a Câmara Municipal não foi capaz de delinear uma estratégia de promoção de habitação no concelho. É confrangedor verificar que a câmara socialista em 24 anos (de 2002 a 2025), apenas construiu 29 fogos! Em 2025, à pressa, tem lançado concursos para construção de fogos, que considerando o superavit financeiro superior a 30 milhões de euros que a CML tem tido desde 2019, já poderiam estar construídos e habitados há vários anos, evitando que muitos jovens tivessem que optar por sair de Lagos por não existirem habitações a preços acessíveis. Um dos efeitos muito negativos desta inépcia do executivo socialista é a existência de centenas de habitações ilegais espalhadas por todo o concelho, sem condições mínimas de habitabilidade e segurança. Ainda outro exemplo de falta de iniciativa e de estratégia do actual executivo socialista, é o facto de nos últimos vinte anos não se ter construído um único lar para a terceira idade, que é uma absoluta necessidade num concelho com uma alta percentagem de idosos, apesar de haver IPSS disponíveis para fazer parcerias com a CML. O espaço disponível para o artigo apenas me permite referir ainda o abandono a que o executivo socialista votou o centro histórico de Lagos, com património num estado lastimável (exemplo da Igreja de S. Sebastião), ou espaços públicos ao abandono e/ou encerrados (exemplo do Parque Júdice Cabral). A Câmara Municipal, fruto das competências legais que lhe estão atribuídas e dos amplos recursos financeiros que tem à sua disposição, tem que desempenhar o papel principal de promotor do desenvolvimento do concelho de Lagos, estabelecendo objectivos, delineando uma estratégia, planeando e executando as opções tomadas para resolver os problemas existentes. Este processo deve ser acompanhado e discutido com a Assembleia Municipal e os principais representantes dos sectores económicos e sociais do concelho.

Em 12 de outubro irão realizar-se as eleições autárquicas. Os lacobrigenses irão ter a oportunidade de avaliar os candidatos, a sua credibilidade, competência, experiência e sentido de serviço público, assim como de avaliar os respectivos projectos de desenvolvimento e de progresso de Lagos, concelho e freguesias. Pessoalmente, estou convicto de que há apenas uma opção que pode potenciar os pontos fortes de Lagos e resolver os problemas do concelho, mas serão os lacobrigenses que terão a responsabilidade de escolher a opção melhor para Lagos.

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