Artigo de Opinião de CARLOS MEDINA RIBEIRO
Os veículos eléctricos, de que agora tanto se fala, têm mais de um século de existência, pois já em finais do séc. XIX se podia combinar um acumulador, um motor e um reóstato, transmitir o movimento às rodas... e toc’ andar! Mas o calcanhar-de-Aquiles eram as baterias, demasiado pesadas, volumosas e demoradas de carregar, defeitos que, a despeito dos esforços de muita gente, impediram a massificação dessa solução até aos nossos dias — contribuindo, certamente, para a felicidade das petrolíferas. E, apesar de já terem começado a surgir soluções para esse problema (os híbridos, as baterias de lítio, as células de hidrogénio, e os super-condensadores), o certo é que ainda há um longo caminho a percorrer no que respeita ao carregamento e, portanto, à autonomia. De qualquer forma, os veículos eléctricos já são ideais para FROTAS — de portos, aeroportos, fábricas, forças de segurança, autarquias, correios, empresas de distribuição, telecomunicações, SMAS, gás, electricidade, etc., pois, movimentando-se em áreas restritas, podem dispor de locais e horários apropriados ao carregamento. Para esses, portanto, o problema da autonomia não se põe. Quanto aos de uso particular já não é assim, mas a grande novidade dos últimos anos foi o aparecimento de uma empresa que, em vez de electrificar veículos já existentes, se dedicou em exclusivo ao paradigma eléctrico. Trata-se da Tesla que, tendo à sua frente um visionário norte-americano que não olha a despesas, começou a lançar no mercado (e até para o espaço!) veículos de gama-alta, complementados com uma densa rede de carregadores que não pára de crescer. E o que é que isso tem a ver connosco? Bem... É que quando os turistas escolhem os seus destinos têm em conta muitas realidades: uns dão preferência a locais exóticos, outros valorizam a segurança, outros a neve... e outros ainda o sol e as praias. O que sucede é que a esses, que sempre existiram, se junta agora a “família” dos condutores dos automóveis eléctricos, cujo número cresce exponencialmente, e a propósito dos quais se aplica, como uma luva, o princípio de que “é pos
sível converter um problema numa oportunidade”. De facto, repare-se: segundo as informações actuais, só em Palma de Maiorca há mais do triplo dos carregadores do que em todo o Algarve, enquanto que os de Lagos se contam pelos dedos das mãos, e os existentes na via-pública são... ZERO. Ora, e sendo verdade que, antes de vir até cá, o turista “electro-mobili
zado” tem em máxima conta a existência de pontos de carregamento, parece óbvio que esse problema é, por outro lado, uma mais-valia competitiva para quem ofereça a respectiva solução. Assim sendo, não estará na altura de, seguindo o exemplo dos privados, a Cidade fazer alguma coisa nesse sentido? Além do mais, lembremo-nos de que, devido ao seu elevado preço, o possuidor de um veículo eléctrico tem um poder de compra bem alto, não sendo provável que venha alimentar-se de enlatados, nem pernoitar na praia — sendo, por isso, uma vítima preferencial da anunciada “taxa turística”, acerca da qual não me pronuncio, pois já não há espaço para trazer aqui o sempre actual Esopo, desta feita com a sua fábula da “galinha dos ovos de ouro”.