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Entre Espadas e Fé: A Incrível Jornada da Ordem de Avis

Entre Espadas e Fé: A Incrível Jornada da Ordem de Avis

No coração das lendas que moldaram Portugal, vive uma história cheia de coragem, fé e uma vontade inabalável. Tudo começou no século XII, quando um grupo de cavaleiros portugueses, que tinha ajudado D. Afonso Henriques em batalhas como Ourique e na conquista de Santarém e Lisboa, decidiu formar uma espécie de "task force" religiosa. Queriam transformar-se numa Ordem, como as famosas da Idade Média.

D. Afonso Henriques, que já tinha fundado a efémera Ordem da Ala, apoiou a ideia. Pediu ao cardeal de Ostia, enviado do Papa Alexandre III, que desse uma estrutura religiosa a essa milícia. A missão foi entregue ao abade Fr. João Cirita, que em Coimbra, num concílio com altas figuras da Igreja e cavaleiros, apresentou os estatutos da nova Ordem, baseados na regra de S. Bento e nos ideais da reforma de Cister. O momento ficou registado numa ata datada de 13 de Agosto de 1162.

Entre os cavaleiros presentes estava D. Pedro Afonso, meio-irmão do rei, que viria a ser o primeiro mestre da Ordem. A sede inicial era em Coimbra, mas, após a conquista de Évora em 1166, mudaram-se para lá, ficando mais perto da linha da frente na luta contra os Mouros. Assim nasceu a "Ordem de Évora".

Mais tarde, pela semelhança com a Ordem de Calatrava, D. Afonso Henriques decidiu colocar a nova Ordem portuguesa sob a tutela religiosa dessa Ordem espanhola, que já tinha o selo do Vaticano. Foi um passo estratégico para ganhar reconhecimento.

Em 1211, a sede muda-se de novo, desta vez para Avis, uma região em plena reconquista. Aí a Ordem encontrou a sua identidade definitiva: a "Ordem de Avis". Liderada por mestres como D. Fernando Anes e D. Fernando Rodrigues Monteiro, cresceu em fama e poder.

A Ordem tinha uma missão clara: viver com humildade, obediência e castidade; proteger a fé cristã, combater os inimigos e acolher os necessitados. Usavam uma cruz verde em forma de flor-de-lis como símbolo, que se tornou icónico.

Para facilitar a vida no campo de batalha, D. Afonso IV pediu ao Papa Inocêncio VI que autorizasse a troca do escapulário por uma simples cruz verde ao peito. Pedido aceite em 1353.

D. João, um dos mestres da Ordem, acabaria por se tornar rei e fundar a dinastia de Avis. Mais tarde, a liderança da Ordem passou a estar nas mãos da realeza, um sinal do seu peso político.

Durante o reinado de D. Maria I, em 1789, a Ordem foi secularizada. Mas em 1894, D. Carlos reformou-a e passou a chamar-se "Real Ordem Militar de S. Bento de Avis", com graus como cavaleiro, oficial e grande-oficial. Foi extinta em 1910 com a República, mas voltou em 1917, já como "Ordem Militar de Avis".

Hoje, esta Ordem continua a representar a tradição militar portuguesa, homenageando os que se destacam ao serviço do país. Uma história cheia de batalhas, fé e transformação, que continua a inspirar.

Paulo Freitas do Amaral - Autor e professor de História

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