Artigo de opinião de Luís Duarte Costa – Vice-Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna.
No dia 11 de Fevereiro comemoramos o Dia Mundial do Doente. Sempre se falou de doenças e problemas na Saúde, mas nunca como nos últimos dois anos em que, quase diariamente, os telejornais abriam com notícias sobre a infecção COVID-19. Quantos novos casos, internamentos em enfermaria ou UCI, óbitos e recuperados. Esta doença mudou a nossa vida e o nosso sistema de Saúde.
Apesar de ainda não ter terminado, há algumas lições e oportunidades que podemos tirar desta experiência, para bem dos doentes e da retoma a uma vida activa e com saúde que celebramos neste dia 11 de Fevereiro.
A que saliento em primeiro lugar é que qualquer sistema de saúde se deve basear nas especialidades generalistas da Medicina Interna (MI) e Medicina Geral e Familiar (MGF) e, por outro lado, na Saúde Pública. Os doentes são um todo e a hiper-especialização só resolve a patologia e não o doente. O doente é o alvo e a saúde deve girar à sua volta, centrada na pessoa que necessita de cuidados. Foi claro nesta pandemia a centralidade da MI nos doentes internados e da MGF nos doentes de ambulatório.
Em segundo lugar é a absoluta necessidade de coordenação das várias entidades, públicas e privadas, que prestam serviços de saúde. Neste campo ainda estamos muito longe deste objectivo, consequência também da hiper-especialização de áreas da medicina que tendem a isolar-se e fechar o diálogo. Tivemos uma boa experiência com a plataforma única de registo de seguimento dos doentes COVID-19, mas tudo o resto foi muito reactivo e pouco proactivo.
Em terceiro lugar a aposta na literacia em Saúde. A educação para a Saúde é a única forma de resolver problemas crónicos no nosso sistema de saúde, como a sobrelotação das urgências, e de capacitar a pessoa doente para as decisões da sua saúde. Nunca como agora contactei com pessoas tão informadas e esclarecidas sobre uma infecção viral, suas manifestações, tratamentos, evolução e prognóstico. Podemos fazer o mesmo, com o apoio de toda a sociedade, para vários outros problemas de saúde.
A última que quero salientar é mais polémica, mas tão importante como as outras. Os recursos são finitos. Hospitais, enfermarias, médicos, enfermeiros, ventiladores e até oxigénio e, claro, o financiamento. Qualquer um de nós sabe isso. Colectivamente é que parece que não. Tem que haver prioridades para os custos, cálculo de benefícios e avaliação de preços, sempre baseado no que é mais importante para o doente e a sua saúde. Ninguém melhor que os Internistas e Médicos de Família para apoiar e conduzir os doentes no complexo sistema de Saúde, priorizando o que mais importa ao doente e libertar o que não se traduz em valor para a sua saúde.
Para celebrarmos o Dia Mundial do Doente, na minha opinião, devemos colocar o doente no centro da decisão, dar-lhe informação fiável para que possa decidir em conjunto com o seu médico assistente, o que o tem como um todo e o preza por isso mesmo. Devemos reorganizar o sistema nacional de saúde, fortalecer a coordenação practicamente inexistente e orientar os doentes para os locais correctos, sempre na base dos médicos generalistas, como são todos os internistas.