Artigo de Opinião de Lèlita Santos, Especialista de Medicina Interna - Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna.
Uma vez mais a Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) assinala o mês de Dezembro como o mês da Medicina Interna, sendo que, neste ano de 2021, no dia 14 de Dezembro, comemora também o seu 70º aniversário. O objectivo, neste mês, é destacar a importância desta especialidade médica no contexto hospitalar e no Serviço Nacional de Saúde (SNS). A SPMI é uma sociedade científica com intensa actividade e a maior do país, com mais de 3000 associados e mais de 1000 jovens médicos em formação.
A SPMI tem 21 Núcleos de Estudo e um Centro de Formação certificado. Os Núcleos de Estudo organizam cursos de formação e actualização e sessões científicas, desenvolvem apoios e colaborações com associações de doentes e elaboram orientações clínicas e projectos de investigação científica com altos padrões de excelência.
A Medicina Interna é a especialidade fulcral do Serviço Nacional de Saúde no hospital, correspondendo a cerca de 14% do total dos especialistas hospitalares. Muitos internistas são líderes de opinião em várias áreas do conhecimento médico a que se dedicam. A Medicina Interna é composta por profissionais competentes, que exercem as suas funções assistenciais em áreas muito diversas, sem esquecer a capacidade da visão global e versátil do doente que os distingue dos especialistas de órgão. Este modelo de exercício da Medicina Interna é motivo de orgulho para a medicina portuguesa e um exemplo da mais-valia da especialidade.
Os serviços de Medicina Interna são responsáveis por 42 por cento das altas médicas hospitalares o que corresponde a 23 por cento do total do SNS. Nos serviços de Medicina Interna são internados 70 por cento dos doentes com AVC, 80 por cento dos que têm insuficiência cardíaca, pneumonias, DPOC e Lúpus e 31% dos doentes com diabetes.
O mês de Dezembro é um período de muito trabalho para a Medicina Interna. É neste mês que se nota um maior aumento da afluência de doentes aos Serviços de Urgência e as necessidades de internamento nas enfermarias também sobem, sobretudo nos Serviços de Medicina Interna. Os doentes com patologias agudas ou crónicas descompensadas recorrem mais ao Serviço de Urgência do hospital, onde são atendidos pelos internistas que diagnosticam e tratam os doentes complexos, polimedicados e com multimorbilidades. Os doentes precisam de tratar a doença aguda, mas, também, do adequado enquadramento desta com as outras patologias coexistentes.
Neste último ano de pandemia, a Medicina Interna demonstrou ser uma especialidade essencial na resposta hospitalar aos doentes COVID-19 e, os internistas, contribuíram mais uma vez, com o seu desempenho, para o prestígio da Medicina Interna. Foi bem evidente o seu papel decisivo para que fosse evitada a rutura do SNS. Os Internistas trataram a maioria dos doentes COVID-19 de grau moderado a grave nos Serviços de Urgência, nas Enfermarias, nos Cuidados Intermédios e, em vários casos, nos Cuidados Intensivos. Também coordenaram e organizaram equipas, tirando partido da sua experiência como especialistas centrados nas necessidades globais do doente e agregadores da multidisciplinaridade com outras especialidades. Adivinham-se já as próximas dificuldades dada a evolução da pandemia, mas os médicos de Medicina Interna, como sempre, estarão presentes, continuando a diagnosticar e a tratar com segurança os doentes que necessitem dos seus cuidados.
Os Internistas, cumprindo a sua vocação, conseguem trabalhar com qualidade em vários cenários. Estão presentes no internamento hospitalar e domiciliário, na urgência, nos cuidados intensivos, nos cuidados Intermédios, na consulta, no hospital de dia, nos cuidados paliativos. Certamente que os doentes sabem quem é o seu internista!