Artigo de opinião de João Campos, Secretário-Geral da JSD Algarve.
Findou mais um mês de agosto e muitos turistas portugueses (os que vieram e os que, desta vez, não vieram para o Algarve) apressaram-se em exclamar: o Algarve está caro! Fui ouvindo muitos relatos de pessoas que contabilisticamente me iam explicando que estava mais barato ir para Espanha ou até ir de avião para o Norte de África.
Fora as críticas habituais da confusão e deste ou daquele mau serviço a que já estamos habituados porque em agosto é impossível oferecer uma oferta turística tão cuidada quanto noutros meses, realmente ouviu-se bastante de que o Algarve estava com preços mais difíceis de pagar e que por isso até se teria, aparentemente, notado a vinda de menos gente.
Eu, enquanto algarvio, gostaria exatamente de aproveitar esta oportunidade anual para escrever sobre a Região que temos quando o País se lembra da existência do Algarve. E esta oportunidade tem como objetivo fazer a seguinte observação: o Algarve está caro para o turismo português, mas está, primeiro que tudo e mais importante, caro para o residente algarvio.
Segundo dados do Idealista, para julho de 2023, o preço por m^2 no Algarve fixou-se nos 3.177 euros, sendo a 2ª região mais cara do País, só ultrapassada pela Área Metropolitana de Lisboa (AML). Mas se formos à lupa por município o cenário parece mais negro ainda. Loulé conta com um preço por metro quadrado de 3.834, Vila do Vispo com 3.629 €/m^2 ou Lagos com 3.574 €/m^2. Estes valores são, por exemplo superiores ao concelho do Porto (3.441 euros/m2) e a todos os concelhos da AML à exceção de Lisboa, Oeiras e Cascais. Contudo, não é só nestes 3 concelhos algarvios que o preço das casas se encontra alto. Lagoa, Aljezur, Albufeira e Castro Marim têm todos o preço por metro quadrado superior a 3.000 euros e Faro, Tavira, Silves, Vila Real de Santo António estão cima da média nacional (2.531 €/m^2). Por outro lado, os preços nos consumos do quotidiano, seja na restauração ou nos supermercados também não se destacam por serem propriamente mais baixos. E é com este fardo que os algarvios têm de viver.
Há desafios que temos conseguindo vir a ultrapassar como o combate à sazonalidade do turismo, ou até mesmo a própria diversificação do turismo e expansão do mesmo para territórios mais interiores e ainda a aposta em setores económicos além do turismo, como é o caso da produção de bens tradicionais. Aliás, os números de crescimento económico, demográfico ou a taxa de emprego na região demonstram bem isso. A economia está a crescer.
Não só a economia cresce como, fruto desse dinamismo – sobretudo imobiliário -, há recolha de impostos municipais em volumes consideráveis em diversos municípios do Algarve, como é o caso de Loulé, de Lagos e Albufeira.
Mas para um jovem (ou menos jovem) algarvio mediano continua a ser impossível comprar casa ou pagar uma renda a preços razoáveis e constituir família, como no passado a geração dos meus pais conseguiu. Os salários não acompanham este crescimento de preços e continuam baixos, instáveis e precários. Não tenho dedos nas mãos e nos pés suficientes para contar a quantidade de amigos que saíram da Região porque não encontraram no Algarve as oportunidades e as condições económicas que pretendiam. Esses amigos vão de enfermeiros qualificados a indivíduos com competências menos especializadas, num quadro onde sabemos haver falta de mão-de-obra em quase todos os setores no Algarve. Há falta de médicos, há falta de professores, há falta de quadros intermédios em serviços públicos, mas quem quer fixar-se aqui ou regressar quando para um salário tabelado a nível nacional sabe que no Algarve tem de dar mais 200 ou 300 ou 400 euros acima do que daria noutro ponto do País só para ter uma casa ou às vezes apenas um quarto?
No relatório “Portugal, Balanço Social 2021” da autoria de Bruno P. Carvalho, Mariana Esteves e Susana Peralta, da Nova SBE, o Algarve destacava-se como a região de Portugal Continental com maior taxa de risco de pobreza. No que diz à taxa de privação material severa – indicador que mede o acesso a bens considerados essenciais – o Algarve era a 2ª região de Portugal Continental com a taxa mais baixa, só abaixo da região Norte, com 6,7% de pessoas com dificuldade em aceder a 4 dos 9 bens considerados essenciais neste indicador. A nível nacional este indicador fixava-se em 4,6%.
Portanto, não é difícil concluir que, em vários aspetos, o Algarve tem uma vida mais cara que a média e nos indicadores de desigualdade, pobreza e outros de medição do bem-estar social está também pior que a média nacional. Não está nada fácil a vida em Portugal, nestes tempos de estagnação económico-social e inflação, mas está especialmente difícil viver no Algarve.
O Algarve está caro, sobretudo, para os algarvios.