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Depois das eleições, o sobressalto

Depois das eleições, o sobressalto

Artigo de Opinião de José Alberto Baptista.

“Há sempre luz se formos suficientemente corajosos para a ver.” (Parte final do poema de Amanda Gorman, lida na tomada de posse do Presidente Biden)

Começamos por reconhecer que o trabalho e a organização do acto eleitoral do Domingo passado são dignos de agradecimento, envolvendo nesse agradecimento todos os responsáveis pelas autarquias locais (Câmara e Freguesias), os seus funcionário e os resilientes das mesas de voto.

A Cidade agradece esse contributo, sem o qual a vela do voto democrático se poderá extinguir. A democracia é uma luz que às vezes bruxuleia e que precisa, por isso, do pavio da nossa vontade e coragem para manter a chama viva. Como se veio a comprovar quando as urnas fecharam.

Se ao vencedor estava de antemão dedicado o louro da presidência, já no mais tudo era incerto, apesar das sondagens nos quisessem fazer acreditar que as margens de erro são sempre as suas e não aquelas que a vontade insondável de milhares de eleitores reservam para esse momento único, e solitário, em que acreditam que jogam o seu futuro e dos seus. A nível nacional, propagaram-se as opiniões que os meios de comunicação social acolheram, ou orientaram. Por isso, fiquemo-nos pelos resultados do nosso Município, em que cidade e freguesias se concentram na grande imagem de Cidade.

Difícil é fazer uma análise mais construída que aquela que a abstenção permitiu fazer; mas, tanto como a abstenção, é a ambiguidade de algumas votações.

E vamos começar pela de Marcelo R. de Sousa. Dos seus cerca de cinco mil e oitocentos votos (iremos arredondando os números para tornar o texto mais líquido) a que partes partidárias poderemos designar a pertença?

E que dizer dos que votaram em Ana Gomes, nos seus mais de mil e duzentos votos?

Em relação aos mais de quinhentos e setenta votos de Marisa e aos quatrocentos e quarenta de João Ferreira, é fácil localizar a origem e, por isso, também facilmente se colam na quadratura do círculo das próximas autárquicas em Lagos.

E falta-nos agora falar dos mil e trezentos votos de André Ventura. Têm sido os votos deste candidato objecto de escrutínios de opinião e de sensações mediáticas. Veremos se merece o mesmo escrutínio e a mesma sensação entre nós, não só pelos votos em si, como pelo crescimento desmesurado no período que decorre entre as eleições legislativas e as presidenciais (mais de mil votos)!

Se pudéssemos fazer um alinhamento só destes resultados para eventuais resultados municipais, apesar das dúvidas acima emitidas, e considerando o abaixamento da abstenção, poderíamos criar um diagrama em que o PS manteria a maioria na Câmara Municipal, em que os partidos e cidadãos do centro democrático poderiam manter os seus vereadores e, pasme-se, o partido extremista teria a sua representação no Executivo.

Neste alinhamento, para a Assembleia Municipal, o PS necessitaria porventura das suas freguesias para manter a maioria, mas, o partido extremista teria inevitavelmente membros na AM.

A este alinhamento falta, contudo, uma variável importante, que é a de saber como neste contexto de votação presidencial se irão encaixar os votantes locais que não se sentiram representados nos candidatos presidenciais.

Do seu comportamento irá muito depender a composição dos órgãos municipais.

Por isso, este exercício de alinhamento dos resultados eleitorais presidenciais com os eventuais votos autárquicos no próximo Outubro só tem uma função: a de reforçar o sobressalto das presidenciais em Lagos, deixando às estruturas partidárias e de cidadãos o melhor método de reflexão e de resposta.

Já percebemos, desde há muito tempo, e o escrevemos, que cresce uma obscura ondulação de populismo, motivada por razões de falta de coesão nacional, po desconforto de populações e desassossego de classes médias e intermédias, por descrença do factor político como factor positivo na vida do cidadão: eis, assim, o húmus perfeito para fazer irromper qualquer erva grotesca ou daninha.

O sol não se esconde por acaso…Por isso, tempo é este de a nossa democracia local continuar o caminho para a luz, para a luz que a jovem poetisa Amanda Gorman nos disse que encontraríamos se fossemos suficientemente corajosos para a ver…

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