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Da solidão à Saudade

Da solidão à Saudade

Artigo de Opinião de Hugo Palma

Saudações Lacobrigenses, é com orgulho que começo a minha caminhada no Jornal Correio de Lagos, este é um espaço de construção literária de opinião com bases democráticas que respeita a liberdade de expressão. Serão abordados temas que considero pertinentes no âmbito do comportamento humano, relações, arte e tudo ao que à condição humana diz respeito. O seu propósito é procurar conhecer mais sobre a trajectória da nossa Humanidade, para tal é preciso perguntar para encontrar respostas, levantar hipóteses para suscitar a reflexão e investigar para promover conhecimento. Considero a arte literária uma forma primordial para a expressão das memórias e testemunhos permitindo que uma experiência pessoal seja transformada em memória cultural de acesso, verídica ou fictícia. A escrita em si é um instrumento capaz de tornar comum o que é particular, de colocar à disposição de todos aquilo que, de outra forma permaneceria como experiência individual. Dou o primeiro passo desta caminhada escrevendo sobre a solidão que leva à saudade, todos nós em algum momento da nossa vida sentimos o seu profundo significado. Numa sociedade caracterizada pelo individualismo excessivo e deterioração das relações humanas, o fenómeno da solidão bate à porta de cada vez mais pessoas, deixando um lastro de sofrimento e isolamento na vivência diária. A solidão da não presença física de outras pessoas com quem nos possamos relacionar remete-nos muitas vezes para um diálogo interno, a deambular por pensamentos e emoções que dispomos no nosso repertorio pessoal. Se existe um equilíbrio ou homeostasia da presença constante dos objectos internos relacionais mais relevantes, estamos então sós fisicamente, mas no meio de uma multidão. A solidão física torna-se numa ferramenta essencial para a estrutura da nossa personalidade, construtos e a forma como lidamos com um estar só, com o eu e seus objectos. Estar só é viver concentrado em si mesmo, uma clausura interna feita por amarras de ecolalia. Com a solidão no coração somos por vezes remetidos às pessoas que perdemos ou momentos que são impossíveis de voltar a viver, assim a saudade assola o nosso ser. Saudade uma palavra que só a nós Portugueses pertence, permanece intensamente no nosso coração. Surge como um lembrete de pessoas e momentos que mais estimamos e amamos, um reafirmar das nossas vivências mais marcantes. 
Somos levados a viajar por tudo o que somos, no passado, no presente e no futuro mediante uma compilação de sentimentos que tem como intuito a expressão pessoal. A saudade remete-nos para a finitude como se tudo o que amamos e prezamos no mundo pudesse desvanecer-se numa imagem nostálgica do nosso amor. Quero deixar a minha singela e sincera homenagem a todas a mulheres expressa através do poema de uma grande mulher que tinha o seu coração enraizado nossa cidade.

“O mar dos meus olhos”
 Há mulheres que trazem o mar nos olhos Não pela cor Mas pela vastidão da alma E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos Ficam para além do tempo Como se a maré nunca as levasse Da praia onde foram felizes 
 Há mulheres que trazem o mar nos olhos pela grandeza da imensidão da alma pelo infinito modo como abarcam as coisas e os homens... Há mulheres que são maré em noites de tardes... e calma

Sophia de Mello Breyner Andresen, in Obra Poética
 

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