Vitória Cunha – Coordenadora Núcleo de Estudos de Prevenção e Risco Vascular da SPMI
A hipertensão arterial (HTA) não sai de moda. Iremos continuar a falar e a escrever sobre esta pandemia – esta sindemia, aliás – enquanto nos mantivermos tão longe do controlo ideal, daquele que continua a ser o fator de risco mais diretamente relacionado com as principais causas de morte em todo o mundo: o enfarte e o AVC.
Poucos serão os que não terão ouvido falar de HTA, mas infelizmente nem todos sabem quais os valores ideais, os comportamentos que podem contribuir para um controlo mais adequado, e a maioria ainda não foi adequadamente informada que tomando a medicação prescrita pelo médico é mais que meio caminho andado para um controlo eficaz. A maioria desta informação deve ser obviamente veiculada pelo médico, se não toda, considerando pelo menos o momento do diagnóstico. Ainda assim, cabe ao indivíduo com HTA ouvir os conselhos atentamente, procurar cumprir o melhor possível, e assumir as rédeas no que diz respeito à toma diária da medicação e responsabilidade sobre a sua doença. Porque, sim, a Hipertensão é uma doença, e o mais difícil de encaixar é que é crónica e silenciosa. Ou seja, só dá sintomas no fim da linha, quando surgem as complicações, como o enfarte, o AVC, a insuficiência renal, a doença arterial periférica, a arritmia, as alterações na visão, a disfunção eréctil, a demência precoce, entre tantas outras evitáveis com medidas relativamente simples e ao alcance de todos. Durante a fase inicial da doença não há sintomas, dificultando a perceção da importância do cumprimento da medicação e facilitando os esquecimentos, bem como a noção das consequências graves e potencialmente fatais.
Mas é nesta fase inicial que é ainda mais fácil de prevenir e controlar, evitar que evolua e danifique lentamente os vasos sanguíneos, os órgãos; nesta fase a medicação é capaz até de reverter algumas das consequências silenciosas que a HTA possa ter causado. É por estas razões que deve ser encarada com responsabilidade o mais precocemente possível e não deixar que as lesões se tornem irreversíveis. É verdade que a genética ainda ninguém a muda – pelo menos não a olhos vistos – mas não basta aceitar que “é de família”.. daí ter sido apelidada de sindemia nas primeiras linhas deste texto, já que muito do nosso comportamento influencia a evolução deste fator de risco impossível de negligenciar, e está intimamente ligado a várias outras doenças que também predominam nos dias de hoje: o colesterol elevado, a diabetes, o excesso de peso, e tantas outras.
Há mensagens simples que mudam o rumo da HTA, para a “saúde ou para a doença”: medir a pressão arterial regularmente e conhecer os nossos valores (só medindo é que sabemos como anda); saber os valores-alvo e perceber que devemos estar regra geral abaixo dos “14/9” (mas há nuances para cada pessoa, daí ser importante o seguimento médico regular); reduzir o sal na alimentação (as ervas aromáticas ajudam a dar sabor); evitar as gorduras e optar por encher metade do prato com legumes/ salada; evitar o tabaco (talvez o comportamento aditivo associado a maior número de doenças, e não só cardiovasculares); tentar praticar exercício físico (não precisa ser ginásio, basta a caminhada regular e algo que se encaixe na rotina de cada um). Por fim é importante lembrar que só tomando a medicação é que ela poderá fazer efeito – já dizia um famoso cirurgião nos anos 80 – e a toma deve ser regular: a HTA não dói, mas o efeito do paracetamol também passa ao fim de algumas horas..!