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Mais de meio século de porta aberta: Padaria Central no Centro Histórico de Lagos apenas a uma mão cheia de sucesso de celebrar o centenário

Mais de meio século de porta aberta: Padaria Central no Centro Histórico de Lagos apenas a uma mão cheia de sucesso de celebrar o centenário

Na edição de Maio do Correio de Lagos viajamos por mais uma empresa de Lagos, de grande referência, através da nossa já histórica e apreciada rubrica “Mais de meio século de porta aberta”. Desta vez contemplamos a Padaria Central, que está a caminho do Centenário.

Fundada em 1926, a Padaria Central, Flor dos Paposecos, situada num prédio de interessante arquitectura centenária, pertence à família Amélio há algumas gerações. Nesta padaria antiga e tradicional, Gilberto Amélio, padeiro por vocação e devoção, cozia o pão em forno de lenha e confeccionava deliciosos pães de torresmos e pequenas arrufadas cobertas de açúcar, com um travo a limão e erva-doce.

Em 1975, sucedeu-lhe o seu único filho Adelino Alberto Amélio, que remodelou e aumentou a área de fabrico, trazendo alguma modernidade ao estabelecimento.

Na década de 80, a sua esposa Teresa Maria Sousa Dias, possuidora de grande espírito empreendedor, introduziu o fabrico próprio de pastelaria variada e biscoitaria, trazendo ao estabelecimento um novo fôlego de prosperidade. Actualmente, ao lado da sua mãe, Paula Amélio assegura “sangue novo”, iniciativa e ambição.

A Padaria Central é conhecida pela sua afamada pastelaria salgada e doce e pelos seus biscoitos e bolos secos com sabor a amêndoa, côco e canela. Entre outras especialidades da casa, destaque para o Bolo Rei na sua versão mais tradicional ou nas versões mais inovadoras, e para os folares da Páscoa, feitos a preceito e à semelhança de outros tempos.

Na Padaria Central tudo é feito como no tempo dos nossos avós, com “ovos de casca” e ingredientes naturais e servido num ambiente familiar, onde cada cliente é único e especial.

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Entrevista com a Gerente Paula Amélio

Correio de Lagos – A Padaria Central é uma forte referência do Comércio de Lagos. Para quem não sabe, já está apenas a uma mão cheia de sucesso de celebrar o centenário. Como define este inédito percurso?

Paula Amélio – É uma história de uma vida de trabalho e dedicação de três gerações. O meu avô, Gilberto Amélio iniciou esta empresa familiar muito jovem, ele era padeiro de profissão, num tempo em que em Lagos existiam apenas duas padarias. Pela sua localização, em pleno Centro Histórico, a Padaria Central é uma referência para quase todos os lacobrigenses e para muitas pessoas que regularmente vinham passar férias, que recordam saudosamente o cheiro a lenha que saía das chaminés. Hoje em dia, tenho o prazer de afirmar que é também uma referência para muitos turistas vindos de todos os cantos da Europa, somos referenciados em muitos sites e roteiros turísticos.

O meu pai, Adelino Amélio, era contabilista de profissão e trabalhava em Moçambique, quando se deu o 25 de Abril e a família teve de regressar a Portugal. Deu então continuidade ao negócio após o meu avô se ter reformado. Após alguns anos, voltou a integrar os quadros do Entreposto Comercial, firma onde trabalhava em Moçambique e a exercer a profissão de que realmente gostava, tendo passado a gestão para a minha mãe, Teresa Dias que implementou reformas de fundo, tendo corajosamente arregaçado as mangas e arriscado uma nova área do negócio, a Pastelaria. Iniciou neste ramo confeccionando ela própria os bolos, com as suas receitas caseiras e só mais tarde passando a ter pasteleiros que deram continuidade também às suas receitas. A minha mãe foi realmente uma empresária visionária e posso afirmar uma figura de referência pela sua simpatia e bom trato com os clientes. Embora tenha deixado de trabalhar há já alguns anos ainda é lembrada por muitos clientes da terra e turistas que por ela perguntam regularmente.

Eu sou a terceira geração a trabalhar nesta empresa familiar. A minha formação é em Gestão e assumi com prazer a responsabilidade de manter o negócio na família, dinamizando, inovando e mantendo a qualidade dos nossos produtos, respondendo assim, às exigências dos nossos clientes mais antigos e mais jovens.

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CL – Situada em pleno centro histórico da cidade, acha que a visão de escolher esta localização está a par da qualidade dos produtos?

PA – No nosso caso não houve grande escolha de localização, uma vez que continuamos no mesmo edifício da Padaria Central original. O nosso esforço foi no sentido de melhorar as condições de trabalho dos nossos colaboradores e remodelar o espaço de atendimento dos nossos clientes, tornando-o mais atraente e acolhedor, tentando manter a qualidade e a diversidade dos produtos. O facto de estarmos no Centro Histórico prejudica-nos um pouco, visto que muitos dos nossos clientes se queixam que não vêm porque não há estacionamento.

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CL – A empresa atravessa gerações familiares, integrando diversas formações académicas, mas sempre no sentido de dar continuidade e potenciar esta famosa padaria. Trata-se de uma verdadeira aposta da família?

PA – Bom, não diria que a minha formação académica e do meu pai tenha sido no sentido de dar continuidade à padaria; diria antes que soubemos colocar a nossa formação na gestão desta empresa que quisemos manter na família.

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CL – Em algum momento pensaram em desistir ou mudar de ramo face a crises ou o aparecimento da concorrência, sobretudo as grandes superfícies?

PA – Nunca pensámos em desistir ou mudar de ramos. mas passámos por momentos muito difíceis, como quase todos os comerciantes com estabelecimentos no centro da cidade. Mais do que a grande concorrência por parte das grandes superfícies, o que representou um grande prejuízo para a vida comercial do centro da cidade, foi o facto de o terem transformado em zona histórica, fechada ao trânsito, com parques de estacionamento absurdamente caros, e terem retirado os serviços da Câmara Municipal do centro e encerrado a Escola Gil Eanes. O afluxo de clientes diminuiu drasticamente e podemos afirmar que como todos os outros comerciantes, neste momento dependemos do Turismo.

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CL – A Padaria Central adaptou-se aos novos conceitos. Manteve a clientela?

PA – Devido à qualidade e diversidade dos nossos produtos, que tentamos ao máximo que vá de encontro ao gosto e às necessidades dos nossos clientes, ao atendimento personalizado que lhes prestamos e à fidelidade, temos conseguido manter alguma clientela da cidade e atrair bastantes turistas.

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CL – Ao longo de todos estes anos, já a caminho do centenário, a Padaria Central teve honras de homenagem da Câmara Municipal de Lagos. Foi um reconhecimento pelo trabalho desenvolvido pelos empresários e por toda a equipa de colaboradores?

PA – Foi com bastante reconhecimento que recebemos essa distinção, prémio que consideramos justo pelo nosso esforço e esforço de todos os nossos colaboradores, alguns dos quais que já trabalham connosco há quase 30 anos e outros mais novos que tentamos formar no sentido de prestarem um atendimento de qualidade e simpatia.

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CL – Existe dificuldade em atrair jovens para este ramo profissional?

PA – É muito difícil atrair os jovens para este ramo. Afinal, o ramo de Padaria e Pastelaria é uma arte que exige bastante aprendizagem e dedicação. Somos prejudicados pelo facto de sermos uma zona turística e os jovens no verão terem oportunidades de trabalho sazonal mais apelativas.

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CL – Presume-se que a maioria dos vossos clientes sejam lacobrigenses. Os turistas também afluem em número significativo a este estabelecimento comercial?

PA – Neste momento de pandemia sim, mas em tempos normais temos grande afluxo de turistas durante todo o ano, somos referenciados em muitos sites e roteiros turísticos.

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CL – Sentiu quebras do negócio em tempo de pandemia?

PA – Claro, como todos os pequenos comerciantes, apesar de não termos fechado as portas, embora no primeiro confinamento tivéssemos tido uma quebra de negócio maior.

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CL – Como analisa o estado do Comércio tradicional?

PA – Como em todo o lado, o comércio tradicional tem tendência a desaparecer derivado às grandes superfícies e franchises. Neste momento as poucas lojas que existem no centro servem uma população idosa porque os jovens mudaram-se para núcleos habitacionais fora dele. Está vedado ao trânsito e com parques de estacionamento caros que condicionam o afluxo de clientes.

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CL – Como observa a evolução de Lagos e como perspectiva o seu futuro?

PA – Lagos nos últimos anos vocacionou-se como destino turístico de excelência, dependemos demasiado deste segmento comercial para a sobrevivência, o que foi notório agora, nesta situação de pandemia. Os lacobrigenses suportam um custo de vida inflaccionado pelos turistas, há dificuldade nos nossos jovens em adquirirem casa própria devido também à inflacção causada no preço das habitações pela procura de casa por parte de turistas europeus e há pouca oferta de trabalho para além do trabalho sazonal no segmento turístico e por isso muitos dos nossos jovens, que acedem a cursos superiores, acabam por abandonar a cidade.

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Equipa

A Padaria Central possui uma equipa jovem e dinâmica cujo único objectivo é servir os seus clientes, oferecendo-lhes um atendimento personalizado e de qualidade, através da confecção. Gerentes: Teresa de Sousa Dias, Paula Amélio. Atendimento a Clientes: Susana Gonçalves, Joana Luísa Leal, Paulina Marciana de Araújo, Marta Correia e Sónia Jesus. Pasteleiros: Luís João e Fernando Silva. No caso, Fernando Silva, Luís João e Susana Gonçalves trabalham há mais de 25 anos na casa.

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Horário de Funcionamento

Aberto de segunda a sábado, das 7:00 às 19:00 horas.

Encerra aos domingos.

Serviços: Faça a encomenda do seu bolo favorito através do contacto 282 763 994.

Bolos de Aniversário, Bolos de Casamento, Bolos de Baptizado.

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Curiosidades

A terceira geração da família Amélio é protagonizada por Paula Amélio, 50 anos, casada e com dois filhos: António, de 21 anos, e Tomás, de 16. Licenciada em Gestão pela Universidade Internacional, na juventude foi jogadora de Andebol no Clube Desportivo da Escola Secundária Gil Eanes.

Curiosamente, o seu marido, Pedro Protásio, também foi jogador de Andebol no Clube de Futebol Esperança de Lagos e Grupo Desportivo Amador de Lagos. Ambos os filhos são igualmente desportistas, mas optaram pelo Futebol no Clube de Futebol Esperança de Lagos. Porventura, seguiram as pisadas do avô, Adelino Amélio, que foi jogador e treinador no emblema lacobrigense.

No caso de António, jogou até aos 17 anos e depois ingressou na Universidade onde estuda Gestão, tal como aconteceu com a mãe. Já o mais novo, continua a praticar futebol e frequenta a Escola Secundária Júlio Dantas.

Outra particularidade interessante prende-se com o facto de que o marido de Paula é gerente do restaurante “O António”, na praia de Porto de Mós.

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Respostas rápidas

Prato favorito – Cozido à portuguesa.

Bebida predilecta – Gin tónico.

Livro de eleição – “Equador”, de Miguel Sousa Tavares.

Filme memorável – Titanic.

Destino de férias – África.

Clube do coração – Sporting.

Passatempos – Praticar desporto, ler e ir ao cinema.

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In: Edição Impressa do Jornal Correio de Lagos nº367 · MAIO 2021

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