“Continuamos com grande convicção e confiança a lutar para que o enorme potencial desta Freguesia seja gradualmente materializado”
"... é preciso manter vivas as memórias do seu passado, para que a identidade não se perca."
Quem é José Estevão?
José Francisco da Conceição Estevão, nasceu na aldeia da Carrapateira, Freguesia de Bordeira, Concelho de Aljezur e reside em Lagos, tem 68 anos. Percurso Académico: Fez o 2º ano do liceu na década de 60, tendo aos 16 anos de idade ingressado na Armada, em 1967,como voluntário, continuou os estudos secundários como autodidacta com o auxílio de explicadores particulares. Quatro anos depois sai da Armada e vai trabalhar para uma empresa de construção naval (Arsenal do Alfeite) onde continua os estudos em regime externo e como trabalhador-estudante. Seguiu-se a conclusão do então 7º ano liceal, sempre em regime nocturno, (equivalente ao actual 12º ano) e o ingresso na Universidade em 1973 no então Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras, posteriormente chamado Instituto Superior de Economia da Universidade Técnica de Lisboa, onde concluiu em 1979, com 29 anos de idade, a licenciatura em Economia. Percurso Profissional: Desde sempre apaixonado pelo ensino e pedagogia, logo que terminou a licenciatura, ainda em 1979, parte como cooperante para a República de Cabo Verde com um contrato de cooperação firmado entre Cabo Verde e Portugal, onde se inicia na actividade docente. Neste País vai imediatamente integrar um grupo docente que irá leccionar no então criado “ Curso de Formação de Professores do Ensino Secundário” a nível de Bacharelato, embrião da futura Universidade de Cabo Verde. Este tinha como principal finalidade, por um lado permitir o reforço da formação de docentes locais e por outro minimizar a dependência da cooperação estrangeira. Neste país permanece quatro anos, leccionando as disciplinas de Economia Politica do Desenvolvimento, Matemática e Estatística, contribuindo desta forma para o reforço da autonomia do país em relação ao exterior, no ramo do ensino. Regressa a Portugal em 1983 onde enfrenta novo desafio, este com um cariz mais pedagógico. Inicia a docência a nível do 2º ciclo do ensino básico onde se profissionaliza e lecciona em estabelecimentos de ensino na Baixa da Banheira, Vila do Bispo e por fim Lagos. Termina a sua carreira com a passagem à aposentação no antigo Ciclo Preparatório de Lagos em S. João em 2006. Trajecto Político: Opositor ao antigo regime do Estado Novo, desde cedo, foi com muita alegria e forte convicção que participou activamente no 25 de Abril de 1974 e em todo o processo posterior. Como militante de esquerda integrou vários movimentos de cariz progressista principalmente nas vertentes política, sindical e do associativismo. Colaborou institucionalmente e em determinadas circunstâncias com partidos políticos de esquerda, e é hoje um forte apoiante da pejorativamente denominada “geringonça”. A colaboração institucional teve sempre lugar na vertente do poder local e no Concelho de Aljezur. Neste Concelho, foi eleito ainda nos finais da década de 90 para Assembleia Municipal de Aljezur durante três mandatos seguidos, nas listas da CDU. Em 2013 já em plena aposentação e quando não tinha intenção de voltar à política institucional é-lhe lançado o desafio de integrar as listas do Partido Socialista para a Freguesia da Bordeira. Por insistência do então cabeça de lista acaba por aceitar, assumindo o cargo de tesoureiro do executivo. No último ano do mandato em 2017 situações completamente imprevistas acontecem (falecimentos em Março do então Presidente e posteriormente em Julho do seu substituto no cargo), assume a Presidência da Junta de Freguesia até ao final do mandato Outubro de 2017. Por imperativo de consciência e após convite do então Presidente da Câmara José Amarelinho, aceita encabeçar a lista pelo Partido Socialista como independente, para os órgãos da Freguesia no mandato 2017/2021. Tendo esta lista sido a mais votada, assume a Presidência da Junta no actual mandato. Participação no Associativismo: A paixão pelo associativismo vem de longa data, tendo facetas diversas desde associado e colaborador em diversas colectividades e Associações até dirigen Foi sócio fundador e dirigente da ADPHA (Associação de Defesa do Património Histórico e Arqueológico de Aljezur), onde desde 1996 data da sua criação sempre fez parte dos seus órgãos dirigentes, desempenhando diversos cargos desde Presidente e VicePresidente da Direcção, a Segundo Secretário da Assembleia Geral, sendo actualmente Presidente da Mesa da Assembleia Geral. Integrou desde os primeiros corpos gerentes eleitos no início da década de 90 a Mesa da Assembleia Geral do CCRAC (Clube Cultural e Recreativo os Amigos da Carrapateira) como Presidente da Mesa até 2012, tendo dado o seu modesto contributo para o início da construção da sua sede. Integrou durante vários mandatos os corpos gerentes da CPCCRD (Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura Recreio e Desporto) como membro do seu Conselho Nacional e neste último do qual ainda faz parte, as funções de 2º Secretário da Mesa do Congresso; por indicação da ADPHA.
Dados da Freguesia da Bordeira
Área Geográfica - 80,15 Km2 Nº de Habitantes - 432 Nº de Eleitores - 322 Executivo composto por 3 elementos: Presidente – José Francisco da Conceição Estevão Secretário – Fabrice Sandro Walther
Tesoureira – Elisabete Alexandra dos Ramos Oliveira Assembleia de Freguesia Assembleia de Freguesia composta por 7 elementos Presidente – Isabel Maria Serrão 1ª Secretária – Sílvia Maria Fernandes Domingos 2ª Secretária – Magda Sofia Alves Furtado Vogal – Sérgio Manuel da Silva Santos Vogal – José Fernando Pacheco Marreiros Vogal – José Carlos Seromenho Vogal – Nelson Miguel dos Santos Inácio Orçamento de 2019 – 172.664,00€
Correio de Lagos – Decorrido quase metade deste mandato à frente dos destinos da Junta de Freguesia da Bordeira, mantém a mesma motivação e firme convicção que determinaram a sua candidatura?
José Estevão – Sim, continuo profundamente empenhado e motivado no desempenho do cargo para que fui eleito. Pese embora a capacidade de intervenção de uma Freguesia com a dimensão populacional da Bordeira ser muito limitada, o que nos cria por vezes algumas frustrações e angústias. Continuamos com grande convicção e confiança a lutar para que o enorme potencial desta Freguesia seja gradualmente materializado, através de novas acções no terreno, previstas para os próximos tempos.
CL – Que medidas já tomou e qual a receptividade dos seus fregueses?
JE - Muito daquilo que estamos a fazer, já estava planeado no anterior executivo do qual fizemos parte. Partindo dessa matriz e no cumprimento do programa que apresentamos no acto eleitoral, temos vindo a tomar medidas que segundo cremos, vão tendo receptividade positiva nos nossos fregueses. Destas salientamos: a aquisição de equipamento novo(Tractor, limpa bermas e pequena retro-escavadora) para melhor fazer face a reparação de caminhos rurais, ruas e suas envolventes, com o apoio do Município. Construímos balneários públicos na envolvente da Igreja e Forte da Carrapateira. Nas vertentes social, cultural e educativa
te continuamos a promover o almoço de Natal aberto aos residentes, a promover passeios e outras actividades com os nossos seniores e com as crianças, em colaboração com o Município, na área da cultura apoiamos três conferências com temática ligadas à História promovidas pela ADPHA, promovemos uma prova de vinhos onde estiveram presentes cerca de 30 produtores oriundos do Concelho, apoiamos o programa “Entrelaçar” onde os seniores participam em muitas actividades de cariz artesanal, disponibilizamos um espaço no rés-de-chão da Sede onde se realizam pequenos espectáculos musicais e estão patentes frequentemente exposições com temáticas variadas.
CL – A Bordeira é uma freguesia única que respira natureza, uma simbiose entre mar e floresta. Há fixação, aumento ou diminuição de residentes?
JE – Esta é uma afirmação com a qual concordo inteiramente. A extensa área de 80 Km2 desta Freguesia é dotada de uma orla marítima de grande beleza com três óptimas praias (Amado, Bordeira, Vale Figueiras) e arribas artisticamente escarpadas pela natureza, com uma grande diversidade cromática. A partir do azul do mar assiste-se a um prolongamento para terra em que esta cor dá lugar ao serpenteado verde dos montes e vales. Ao longo destes foram criados vários trilhos pedestres por onde circulam cada vez mais caminhantes, encantados com a beleza destes locais, onde se deliciam com a observação de uma variada fauna e flora. Os residentes permanentes têm-se mantido relativamente estáveis sem alterações de maior, provavelmente devido à escassa oferta de habitação para se fixarem a que estão sujeitos.
CL– As praias trazem turismo, visitantes e particularmente o projecto surf na Praia do Amado. Cresceu o número de visitantes com esta aposta e potencia a economia local?
JE – É um facto que a economia local tem nas praias e no Surf e outros desportos ligados ao mar e ao vento a sua maior referência. Neste sentido, aproveitamos já para divulgar que em meados de Junho, na praia do Amado, irá decorrer mais uma relevante prova de Surf, promovida pela “Liga Meo Surf 2019”. Mas, também outras actividades mais ligadas ao campo começam a fazer o seu caminho, estamos concretamente a pensar nos trilhos e rotas pedestres, que ano após ano atraem crescente número de caminhantes, evidenciando um crescente dinamismo, com especial destaque nas épocas da Primavera, Verão e Outono. Cremos no entanto que a aposta principal deverá ser na diversificação da oferta turística, sob pena de ficarmos dependentes de uma ou duas actividades, o que não nos parece salutar. A Freguesia da Bordeira tem enormes potencialidades noutros sectores que a materializarem-se podem vir a fazer caminho no futuro. Por tudo isto a economia local está de boa saúde e em crescendo, com destaque para o alojamento local, restauração e comércio em geral, porque a afluência de visitantes não para de crescer, especialmente na época alta mas, com a mesma tendência na época mais baixa.
CL – A cultura, património e tradição também fazem parte do cartão de visita de turistas e aljezurenses. Para além do Museu da Carrapateira, que outras referências destaca a sua freguesia?
JE – O património, as tradições e a cultura em geral são o bilhete de identidade de qualquer localidade é preciso manter vivas as memórias do seu passado, para que a identidade não se perca. Em especial as aldeias da Bordeira e Carrapateira têm Igrejas com elevado valor patrimonial, desde arte alusiva ao período manuelino até altares em talha dourada do período barroco, século XVIII, passando por duas tábuas com pinturas de estilo maneirista. Salientamos ainda o Museu do Mar e da Terra, museu comunitário que é hoje a nossa imagem de marca. Brevemente será aberto ao público (previsto para o início de Maio) um museu ao vivo recentemente instalado, através do Programa Polis Litoral, cujo itinerário parte do Museu do Mar, onde está instalada a letra A (em modelo gigante) com a descrição da criação deste museu e continua com a letra B, no largo central da aldeia, seguindo-se a letra C num dos à praia da Bordeira e percorrendo com as outras letras do alfabeto, até à letra K toda a orla costeira envolvente do Pontal da Carrapateira até à Praia do Amado. Estamos em crer que estes dois museus à medida que forem sendo mais conhecidos, através da sua divulgação, irão ter no futuro papel de grande relevo para a nossa Freguesia e Concelho.
CL – Uma das questões mediáticas que afectam a sua freguesia prende-se com o Caravanismo. Qual a sua posição e quais as medidas que devem ser imple
mentadas?
JE – O Auto-Caravanismo é sem dúvida um quebra-cabeças para a Freguesia da Bordeira. Da praia do Amado à da Bordeira em especial a partir dos finais Maio e até Outubro, toda a orla marítima na envolvente do Pontal e parques de estacionamento ficam com uma intensa pressão destes veículos. Naturalmente, que todos temos o direito de usufruir com aquilo que a natureza nos contempla, contudo é necessário algum equilíbrio e ordenamento na ocupação dos espaços mais sensíveis, sob pena de entrarmos num caos, em que alguns usufruem plenamente, em detrimento de todos os outros. Neste contexto, como este problema se estende a todas as freguesias e municípios do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina urge tomar medidas que possam atacar o problema, em todo este espaço ou seja de Sines a Burgau. Como entendemos que a “ união faz a força”, e existindo legalmente constituída e a funcionar a AFPNSACV (Associação de Freguesias do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina) que ainda recentemente esteve reunida em Sagres, poderá ser mais fácil encontrar soluções melhores e mais duradouras. Nesta reunião esta temática foi amplamente debatida e foram tomadas algumas decisões que garantidamente serão mais eficazes em conjunto do que de forma individual. Neste contexto, salientamos a aprovação de uma moção, que irá ser brevemente publicitada, dirigida às autoridades e órgãos de soberania, onde é solicitada a alteração de legislação de forma a permitir uma actuação mais firme e eficaz das forças de segurança e a criação de parques alternativos para pernoita e prestação de outros serviços aos auto-caravanistas.
CL – Como é que reagiu à renúncia de José Amarelinho, e já agora que balanço faz da gestão de José Gonçalves?
JE - Assisti à renúncia de José Amarelinho com surpresa, mas compreendendo os motivos que o levaram a essa sua decisão. Quanto à gestão do seu sucessor José Gonçalves é para mim ainda prematuro fazer uma avaliação e um balanço consistente sobre a sua gestão. Naturalmente que ele integrou o executivo liderado pelo José Amarelinho e estará a dar cumprimento ao programa com que foi sufragado. Contudo, as formas de gerir terão forçosamente as suas diferenças. Para já observo algumas dinâmicas novas e métodos de acção diferentes que com o decorrer do tempo podem alterar aspectos menos conseguidos no passado e consolidar a sua liderança.
CL – Que projectos ou obras relevantes estão na forja para o futuro?
JE – Para o futuro temos vários desafios na forja que gostaríamos de concretizar, no âmbito da Freguesia. Existem outros dependentes também doutras instituições que muito gostaríamos que fossem gradualmente implementados. No âmbito da Freguesia, contamos abrir a muito curto prazo um posto de turismo na Carrapateira, concluir um miradouro na Bordeira, abrir ao público o núcleo museológico da Vilarinha, onde se encontra instalada uma réplica de sala de aulas do ensino primário da época do Estado Novo, em edifício de uma antiga Escola Primária, entre outras. Dependentes, e em parceria com outras instituições: criação de novas estruturas e ordenamento do espaço envolvente da praia do Amado, com destaque para a distribuição de energia eléctrica, melhoria dos acessos à praia da Bordeira, realização das obras no edifício da Ex-Escola Primária da Carrapateira e sua envolvente, para permitir o desenvolvimento de actividades diversas em sintonia com os desejos da população residente, realização de obras de consolidação e reparação dos edifícios das Igrejas da Bordeira e Carrapateira, bem como restauro da sua talha dourada, com destaque para a da Bordeira, por se encontrar em pior estado de conservação, implementação do SAD (Serviço de Apoio Domiciliário) às Alfambras e consolidação e reparação do edifício da Ex- Escola Primária da Bordeira, entre outras.
CL – Existe uma boa cooperação entre a Junta de Freguesia e a Câmara Municipal de Aljezur?
JE – A Junta de Freguesia da Bordeira continua a manter uma boa cooperação com a Câmara municipal de Aljezur. Tendo presente o universo de quem nos elege e a partilha da administração do território em comum, as respectivas competências legais e as delegadas, tem havido e penso que continuará a haver uma salutar colaboração e articulação entre as duas autarquias, no respeito pelo princípio da autonomia institucional. Consideramos que o serviço prestado às populações residentes e visitantes, tem tudo a ganhar com uma acção institucional concertada que seja capaz de gerar sinergias, conducentes à intensificação de benefícios para estas populações.
CL – Que opinião tem acerca da Associação de Municípios Terras do Infante?
JE – A minha opinião em relação à Associação de Municípios Terras do Infante é de total concordância com a sua criação. Como membro da Assembleia Municipal de Aljezur quando do seu nascimento, fui desde sempre um forte entusiasta desta solução para estes três Concelhos. Como tenho uma visão globalizante do poder, defendendo que deve funcionar essencialmente da base para o topo ou seja pensando global e agindo localmente. Sem, pôr em causa a autonomia de cada município integrante, considero que uma visão mais globalizante da gestão destes espaços, com um modelo de planeamento mais abrangente poderá contribuir para o aumento da economia de escala, através do desenvolvimento de sinergias, entre eles. Considero ter havido uma lacuna após o seu nascimento, foi não ter imediatamente sido criada uma estrutura executiva como o foi recentemente. Creio que realizou um bom trabalho, na área da protecção civil e silvicultura e um pouco na cultura, mas ficou muito aquém em outras temáticas como o social, a saúde, a educação, os transportes bem como em outras actividades que os municípios têm em comum. Com a recente criação da estrutura executiva à qual presto desde já a minha homenagem, pelo brilhante evento com que nos presenteou o “Iº Congresso sobre a temática do Mar” . Mais actividades desta natureza, contemplando outras temáticas podem ser uma mais valia indispensável para o futuro desta sub-região.
“A extensa área de 80 Km2 desta Freguesia é dotada de uma orla marítima de grande beleza com três óptimas praias (Amado, Bordeira, Vale Figueiras) e arribas artisticamente escarpadas pela natureza, com uma grande diversidade cromática”