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"Lugar de mulher... É onde ela quiser!" — Ana Paula Veríssimo: Há 30 anos sem nunca parar

"Lugar de mulher... É onde ela quiser!" — Ana Paula Veríssimo: Há 30 anos sem nunca parar

No âmbito da rubrica "Lugar de Mulher... É onde ela quiser!", a edição de Março 2021 do Correio de Lagos (CL) deu também a conhecer Ana Paula Veríssimo, proprietária do afamado estabelecimento "Ana Paula − Mariscos", em Lagos, "de porta aberta" desde 1991 até ao presente.

Marta Ferreira

Beatriz Maio

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Quem é Ana Paula?

Ana Paula Martins Veríssimo, 57 anos, nasceu em Abril de 1963, em Marmelete, no concelho de Monchique. Reside na Torre, em Odiáxere, é divorciada e completou o 9.º ano de escolaridade. Mudou-se para Lagos há 41 anos, quando começou a trabalhar num restaurante na Praia da Luz. Tinha 25 anos quando se iniciou como empregada na actual casa de mariscos, que agora detém, um negócio que desde logo se mostrou bem-sucedido entre os locais. Desde 1991, que trabalha por conta própria - já lá vão 30 anos. Sete dias por semana, das 8 da manhã às 8 da noite, "Ana Paula - Mariscos" não encerrou portas nem por um dia desde que o negócio existe, nunca tirou férias.

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Correio de Lagos − Está provado que é uma mulher empreendedora. Como foi criada esta empresa?
Ana Paula −
Comecei a trabalhar aqui como empregada. Entretanto, o senhor já estava velhote, decidiu vender e eu comprei o negócio em si. Fiquei com isto e foi assim, desde 1991 até hoje, todos os dias de porta aberta.

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«Toda a minha luta, toda a minha vida foi baseada neste negócio. (...) Passei uns anos muito maus, mas felizmente consegui recuperar. (…) Não desisti devido aos clientes e às pessoas com quem fiz amizade»

CL − Ao longo dos anos, acha que valeu a pena seguir este ramo profissional?
AP −
Sim. Conto com a colaboração dos meus filhos: do Samuel, que é o mais novo, e do mais velho, que é o Jorge. Também tinha sempre uma empregada. Se acho que vale a pena? Sim, porque é daqui que nós temos vivido. Toda a minha luta, toda a minha vida foi baseada neste negócio, com a melhor qualidade e os melhores produtos para que ninguém venha reclamar. Felizmente, não tenho nem uma reclamação no meu livro de reclamações.

CL − Considera que o esforço e dedicação valeram a pena?
AP −
Sim, mas também tive altos e baixos, como toda a gente.

CL − No seu percurso, alguma vez pensou em deitar a toalha ao chão?
AP −
Tive uma fase muito má, em 2007 e em 2011. Apanhei uma crise muito má, uma crise brutal, mas lutei, lutei, lutei... Tenho um grande amigo, que eu considero como um dos meus suportes, que dizia sempre “Não desistas, amiga. Vai em frente”. Mas a crise foi muito complicada. Entretanto, eu tinha uma loja em Portimão e nessa altura a minha irmã ficou com ela. Vendi-a, as coisas complicaram-se muito. Passei uns anos muito maus da minha vida, mas felizmente consegui recuperar e hoje as coisas estão um pouco mais equilibradas.

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«Agradeço aos lacobrigenses, especialmente, porque sou o que sou hoje também devo a esta cidade, que me acolheu de braços abertos»

CL − Nunca pensou em desistir?
AP −
Não, porque como referi tive sempre aquela pessoa que me incentivou a seguir em frente. Também a pensar nos meus filhos, que não se aperceberam muito da situação. Agradeço aos lacobrigenses, especialmente, porque se sou o que sou hoje também devo a esta cidade, que me acolheu de braços abertos. E tenho bons clientes! É um conjunto de situações que nos fazem pensar e seguir em frente... Não desisti devido aos clientes e às pessoas com quem fiz amizade. Decidi sempre continuar.

CL − Como analisa o avanço das mulheres na liderança de negócios?
AP −
Acho que somos capazes, mas com muita dificuldade em enfrentar, por vezes, certas situações em relação aos homens - porque nós sabemos que eles se consideram assim... Um bocadinho “acima de nós”.
Há uns anos atrás os homens é que lideravam a maior parte das empresas, mas eu acho que também somos capazes. Vê-se cada vez mais mulheres a dar um passo em frente nesta área.

CL − Acha que ainda se justifica a comemoração do Dia Internacional da Mulher?
AP −
Sim, acho que merecemos, mas acho que por vezes há excessos. Não é que não mereçamos e que não se deva continuar [a celebrar], só acho que as pessoas deveriam ser um bocadinho mais moderadas em certas situações. Mas claro que se deve continuar, porque se as mulheres lutaram tanto - as nossas antepassadas - para que tivéssemos este dia, só temos de agradecer.

CL − Em tempo de pandemia, que balanço faz quanto à afluência de clientes?
AP −
A Covid foi uma situação que ninguém estava à espera. Foi uma situação brutal, que nos apanhou a todos desprevenidos: ao Serviço Nacional de Saúde e a nós, trabalhadores... A todas as pessoas. Eu perdi os meus clientes da Restauração. Como frisei há pouco, os meus queridos lacobrigenses continuam a vir. Continuo a trabalhar na ordem dos 60% talvez, com os clientes da nossa terra. Como aos fins-de-semana temos proibição de circular entre concelhos, as pessoas de fora também não vêm. Estamos numa época baixa - mês de Janeiro, Fevereiro e Março só por si já são fracos em termos de clientela.

Antes ainda tínhamos os pescadores aqui da zona, de Sagres... Mas neste momento não temos esses clientes. Tenho os da cidade, que vêm comprar o marisco, especialmente ao fim-de-semana, para cozinharem e comerem em casa. Felizmente, continuo a trabalhar com a ajuda do meu filho. Não temos empregados neste momento porque não se justifica.

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«Deixo um apelo a todas as mulheres: que lutem sempre pelos seus objectivos porque nos dias de hoje o mundo dos negócios pertence ainda aos homens, então temos que continuar a lutar»

CL − Como avalia o trabalho dos nossos governantes locais?
AP −
São pessoas que têm todo o meu respeito. Acho que têm dado o seu melhor e estão condicionados a certas situações, como a pandemia. Sei que estão a fazer refeições nas escolas para dar às crianças que não têm possibilidades e que a Câmara está a contribuir para ajudar pessoas carenciadas. Vai daqui a minha felicitação ao Sr. Hugo Pereira, que tem todo o meu respeito e acho que tem feito o melhor que pode. Há situações em que ninguém consegue agradar a todos e criticar é mais fácil do que fazer ou ajudar.

Esperemos bem que esta pandemia nos deixe, porque já há um ano que estamos nisto e é degradante. Aqui no Algarve dependemos do Turismo e se o comércio não abrir vai ser muito complicado para todos nós. Esperemos que as coisas se resolvam pelo melhor. Deixo um apelo a todas as mulheres: que lutem sempre pelos seus objectivos porque nos dias de hoje o mundo dos negócios pertence ainda aos homens, então temos que continuar a lutar.

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In: Edição Impressa do Jornal Correio de Lagos nº365 · MARÇO 2021

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