Entrevista de Margarida Sousa, lacobrigense, 19 anos, frequenta a Universidade Autónoma de Lisboa, curso Ciências da Comunicação 1º ano. Trabalho apresentado na disciplina de Técnicas Redatoriais em Jornalismo.
Entrevista Exclusiva na edição impressa de Junho do jornal Correio de Lagos!
Licenciado em Economia e pós-graduado em Finanças, Hugo Pereira, 44 anos, é o atual presidente da Câmara Municipal de Lagos (CML). Lacobrigense de gema, ingressou na política há 19 anos, pelo PS. Em 2013, passou a fazer parte do executivo da CML como vice-presidente e, mais tarde, alcançou o cargo de presidente interino, na sequência da anterior líder da autarquia de Lagos ter suspendido o mandato para concorrer às legislativas de 2019. Nesse mesmo ano, tornou-se presidente da CML, após Maria Joaquina Matos ter sido eleita deputada à Assembleia da República, pelo círculo do Algarve, a partir do mês de outubro. Por inerência é também presidente da Associação de Municípios Terras do Infante: Lagos, Aljezur e Vila do Bispo.
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Em 2013, candidatou-se às eleições autárquicas pelo PS tendo vindo a ocupar o cargo de vice-presidente. Em 2019, na sequência da anterior líder da autarquia de Lagos ter suspendido o mandato para concorrer às legislativas de 2019, assumiu a pasta de presidente interino e hoje é presidente da Câmara Municipal de Lagos. Como é ‘’dar a cara’’ pela sua cidade?
É um motivo de orgulho. Não estava nos horizontes, nem estava pensado na altura em que vim para a Câmara Municipal de Lagos, nem quando em 2017 me recandidatei. Mas, como consequência dos acontecimentos e do convite à Senhora Presidente para ir para a Assembleia da República, acabou por acontecer. Obviamente, é um motivo de orgulho e de grande responsabilidade poder estar à frente de um município como Lagos, que tanto admiro e de que tanto gosto.
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Zelar pelo bem-estar dos cidadãos é uma das principais funções de um presidente de Câmara. Como tem sido lidar com a pandemia COVID-19?
É um grande desafio. A última coisa para que estamos preparados ou pensamos algum dia ter que defrontar é viver uma guerra, e esta pandemia é muito equiparada a isso. É uma guerra contra um inimigo invisível que nos altera o dia a dia, o que estava projetado, e cria uma série de preocupações. Exige muita responsabilidade conseguir evitar o máximo possível de efeitos devastadores e negativos no concelho. E, felizmente, temos conseguido controlar muito a pandemia. Veremos como serão os próximos dias e, acima de tudo, qual será o seu efeito na economia.‘
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“Estamos a trabalhar para que ninguém fique para trás’’
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Que medidas foram tomadas em concreto assim que a COVID-19 foi considerada pandemia Mundial?
A primeira coisa que fizemos foi tentar ao máximo ajudar no confinamento da população, fechando grande parte dos equipamentos públicos. À medida que as coisas foram evoluindo, tentámos encerrar zonas que ainda tinham muita utilização: frentes ribeirinhas, praias e praças. Deste modo, evitámos que a população se dirigisse para esses sítios e que houvesse concentração de pessoas. Depois, em articulação com as empresas locais, foi possível que algumas se antecipassem ao encerramento, antes da decisão por parte do Governo. Reduzimos alguns horários e proibimos a ocupação da via pública para evitar que os negócios se fizessem na parte de fora. Ao fechar esta ocupação, as empresas iriam atrás e acabariam por encerrar. Isto tudo foi feito numa tentativa de meter o máximo de pessoas em casa e o mais rapidamente possível, evitando contágios em maior escala.
A Câmara Municipal continuou sempre a trabalhar e a procurar a melhor forma de ajudar. Criámos iniciativas de apoio na área social, ao fornecer refeições e cabazes alimentares a quem mais precisava; um conjunto de medidas para apoiar a economia das famílias e das empresas. Antecipámo-nos com a aquisição de equipamento de proteção individual para todas as equipas essenciais do município, sejam das forças de segurança e proteção civil, da parte hospitalar ou das IPSS. Fizemos essa distribuição para que ninguém pudesse estar na linha da frente sem as condições de proteção. Ao nível da educação, com a telescola e o não voltar para a escola, adquirimos 400 portáteis e 100 tablets para serem distribuídos a quem tem de continuar em casa sem os meios de acesso à Internet. Estamos a trabalhar para que ninguém fique para trás.
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De entre as várias medidas, o que considera ter sido mais difícil de controlar?
O mais difícil seria o confinamento das pessoas, garantir que ficavam em casa. Tem que se dar uma palavra de agradecimento à população de Lagos que cumpriu muito acima daquilo que se foi vendo pelo País. As pessoas acederam e, com aqueles que estavam na linha da frente, fizeram bem o seu papel. Os resultados são os poucos casos que tivemos e todos já tratados. Aqueles que tinham que ficar em casa porque era possível ficar, ficaram e isso ajudou muito. Aquele que seria o meu maior receio, transformou-se no maior sucesso.
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‘’Há um reconhecimento da parte do município’’
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Como tem sido a recetividade por parte dos lacobrigenses face ao conjunto de medidas aplicadas?
Acho que tem sido favorável, mas falar em causa própria é complicado. Há um reconhecimento da parte do município, das forças envolvidas nas ações do terreno. Ainda assim, quem deverá fazer essa avaliação não somos nós, que estamos na linha da frente: será a população. Estamos numa fase ainda inicial e temos um caminho que desejava que fosse mais curto, que rapidamente se encontrasse a cura.
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São quatro os casos recuperados e zero os casos positivos no concelho de Lagos. Julga que as medidas de segurança implementadas e acordadas se refletem neste número?
Sim, os resultados são o exemplo do trabalho que foi feito. Foi possível parar em tempo útil, controlar a vigilância ativa e o resultado disso foram os poucos casos não graves. Daí que, no espaço de um mês e meio, fosse possível a recuperação rápida e simples a partir de casa. Sabemos que isto não acabou. Vamos ter de continuar atentos na segunda fase porque começa a haver mais pessoas na rua e a atividade tem que retomar. É muito importante que todos cumpram as normas da DGS para que isto não volte a disparar: distanciamento, uso da máscara, material de proteção individual, desinfeção e lavagem de mãos. Podemos ter, no meio disto, alguma sorte, mas a sorte dá muito trabalho.
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‘’O turismo vai sofrer mais do que eu desejo e que é esperado’’
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Fala-se em sérios impactos para o turismo global. Sendo o Algarve um dos maiores geradores de receitas turísticas do País, no caso de Lagos, o que prevê que possa acontecer?
É a tal vaga da pandemia económica e financeira. Na verdade, o turismo, como atividade económica do país e, mais especificamente, da região, é muitas vezes o mais sacrificado em caso de crise económica. Havendo dificuldade por parte das famílias em terem folga financeira, estas não podem gozar das merecidas férias. Normalmente o turismo sofre, como aconteceu na crise de 2008, porque há menos capacidade económica no Mundo, logo, menos pessoas a viajar. Foi um dos setores que mais sofreu e o último a recomeçar. Dizer que vai acontecer exatamente igual não é possível. É uma crise que depende do tempo que perdura e que poderá ter efeitos mais devastadores ou não, na parte económica. Este ano vai ser mais complicado e os resultados vão ser piores do que o esperado. Mas, se isto rapidamente se resolver, no próximo ano as pessoas recuperam o poder económico e têm mais vontade de viajar. Se se prolongar por mais tempo e não existir uma maneira de controlar rapidamente, então aí sim, o turismo vai sofrer mais do que desejo e que é esperado. Eventualmente o Algarve viverá muito do turismo nacional, porque não se sabe como será a gestão das fronteiras, dos voos ou quais os países preparados para voltar a viajar. Não há muito o hábito do turismo alemão vir para Portugal, o que até pode ser uma janela de oportunidade. A pandemia lá foi mais ou menos controlada, como em Portugal. Aquilo que eu gostava era que fossem só mais dois, três meses e que se conseguisse arranjar uma maneira de resolver tudo; que este ano fosse um ano complicado, mas que no próximo ano se conseguisse ganhar já a Páscoa. Espero que seja mesmo um “V” na sua forma, ou seja: viemos abaixo pela crise pandémica e agora rapidamente voltamos a subir. Vai ser um ano instável e complicado e as pessoas terão que voltar a ganhar esperança e fé.
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Numa época em que a linha liberdade/consciência coletiva se mostra tão ténue, existe algo que gostasse de acrescentar a par da mensagem que deixou por escrito onde refere, passo a citar: ‘’Trata-se de um combate global, face a uma ameaça que não tem rosto, nacionalidade nem conhece fronteiras, e que a todos pode atingir’’?
Acrescentar isso mesmo. Isto aconteceu e não estávamos preparados, nem no nosso pior pesadelo. Nem o melhor realizador de cinema se lembraria de fazer este filme. Mas o que é certo é que aconteceu de uma forma muito rápida e transversal, começando numa pequena ‘’coisita’’ que, passado uns meses, invadiu o Mundo. Fez-nos refletir sobre um Mundo global, que somos iguais – onde não se separa ricos de pobres, grandes de pequenos, feios de bonitos, grandes de pequenas nações ou religiões. Bem como sobre a vida; que há forças maiores que nos conseguem meter na ordem e provocar o medo. O que desejo é que todo o Mundo, em especial aquele que manda mais no Mundo, perceba que as coisas vão ter que mudar. Tem de haver mais solidariedade, cooperação e paz. As questões ambientais também foram interessantíssimas! Há anos que se reclama para baixar o número de voos, diminuir a pegada ecológica e a poluição. E foi preciso vir esta “coisa invisível” para nos fazer meter a mão na consciência, para nos obrigar a parar e recuperar décadas de destruição do mundo. Que isto seja uma lição de vida para o Mundo.