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Afonso Lima: Do Direito ao Desporto, jovem dá cartas na Música e representa Lagos além-Algarve

Afonso Lima: Do Direito ao Desporto, jovem dá cartas na Música e representa Lagos além-Algarve

No âmbito da rubrica "Círculos de Cultura", a edição impressa de Junho deu destaque a Afonso Lima, jovem lacobrigense que conta já com ambiciosos projectos no ramo da música – e não só.

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Marta Ferreira

Afonso Sena da Cunha Lima, 24 anos, natural de Lisboa mas residente em Lagos desde que se lembra. Tinha apenas 12 dias quando a família escolheu fixar-se no Sul, onde passou toda a infância e adolescência. Apesar de ter crescido rodeado da beleza inconfundível de Lagos, lugar que carinhosamente apelida de "casa", o ingresso no Ensino Superior levou-o de volta à capital, onde faz vida actualmente.

Em uníssono, é jurista – licenciado pela Universidade Nova de Lisboa –, músico freelancer, professor de guitarra (desde 2016) e treinador adjunto de Voleibol no Sport Lisboa e Benfica. Além disso, encontra-se a completar Mestrado em Direito Forense e Arbitragem, sendo ainda responsável pela parte de coordenação musical da Tuna Académica de Lisboa. Mais recentemente iniciou também a carreira como mediador de conflitos.

Afonso define-se como «apaixonado», o que considera ser uma qualidade e, ao mesmo tempo, um defeito. Tem por banda preferida o quinteto "Radiohead" e aponta como referências musicais Bernardo Sassetti, Manel Cruz, Jorge Palma, André Henriques, Steven Wilson e, claro, Thom Yorke. Jovem de interesses vários, uma das questões que se impunha era como conseguia dar a todos a devida atenção no seu quotidiano.

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Tríade "Direito, Desporto e Música"

Para Afonso, conciliar áreas tão distintas é-lhe, em parte, natural. Desde os 8 anos que estuda música, isto enquanto treinava no Clube de Futebol Esperança de Lagos, fora a formação escolar obrigatória, pelo que desde sempre tem estes três caminhos bem presentes.

Com a carreira académica, a nível jurídico, quase terminada, hoje Afonso afirma conseguir empregar não só mais tempo na música e no desporto, como ter um nível de foco mais elevado nestes campos, algo que no passado nem sempre se verificou. «Evidentemente, a prioridade com que enfrento cada uma destas áreas oscilou ao longo dos anos, não só pelo tempo que a dada altura determinada área me ocupava, mas também pela minha própria vontade em ocupar-me com ela», desvendou.

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Influências e percurso musical

Afonso começou a frequentar a Academia de Música de Lagos em 2005, incentivado pelos pais, onde trocou as consolas de que tanto gostava pela guitarra: «Havia chegado a Portugal a primeira Playstation portátil e os meus pais prometeram-ma no Natal caso eu fosse estudar música. A experiência, como grande parte das crianças que cedo começam a fazê-lo, não foi particularmente endiabrante, e em Janeiro, já com a consola na mão, não quis regressar para o 2.º período. Como é lógico, os meus pais não cederam à minha birra e lá fiquei o resto do ano», recordou.

A paixão foi crescendo e eis que tudo começa a tomar um rumo mais sério com o aparecimento da banda "Wellman", que conta já com um disco gravado. Nos anos posteriores, seguiram-se concertos com Beatriz Amorim, Beatriz Marques, Marta Lima e outros artistas, até que em 2019 embarca no projecto "Falso Nove", que inclusive acaba de lançar o seu primeiro single intitulado "Canção da Antemanhã", disponível nas plataformas Youtube, Spotify e Bandcamp.

Afonso sempre foi aficionado por música. Ouvia muito rock, embora hoje em dia navegue mais pelo jazz. Por norma, costuma ir beber inspiração às próprias vivências e experiências. Além disso, toma o repertório português como um exemplo: «É em Portugal, e cantando em português, que pretendo incidir o meu trabalho», afirma. Gosta de escrever ao ritmo da vida, conforme tudo vai surgindo na sua caminhada e também na de quem o acompanha: «A inspiração reside precisamente aí, nas paisagens e no momento, normalmente associados ao amor, à nostalgia e à solidão», explicou.

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Viver em Lagos e metas pessoais

O artista relembrou algumas memórias da vivência em Lagos, como quando a avó o esperava junto à Academia de Música e até as vezes em que o avô se sentava «no banco do velhinho pelado» da Trindade, à espera que este terminasse o treino. «Lagos é casa. Esse sentimento creio jamais ser substituído por outro lugar, no entanto, sei que nesta fase muito dificilmente conseguirei basear uma vida em torno da música ficando na cidade. Gostaria que um dia fosse possível, e ocorrendo, acredito que seria essa a minha opção», confessou.

De olhos postos no futuro, pretende lançar, a curto prazo, os projectos que tem vindo a desenvolver mais recentemente, quer o disco dos "Falso Nove", quer o EP de Beatriz Marques, ambos trabalhos de estreia. Numa perspectiva mais alargada, expressa a vontade de vir a colaborar profissionalmente com a irmã: «Tenho outras ideias que quero começar a desenvolver com a Marta Lima, num plano mais longínquo», desvendou.

Pretende também lançar-se a solo, embora não para já, assim como escrever bandas sonoras para qualquer tipo de demonstração de arte: «Sempre foi algo que me deu um gozo tremendo fazer. Para lá disto, espero evoluir dia após dia enquanto instrumentista e compositor. (...) A música terá sempre um grande destaque nas minhas ambições pessoais e profissionais», garante.

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Projectos artísticos

Em 2015, surgem no Bairro de Campolide, em Lisboa, os "Wellman", fruto de uma simples conversa entre Afonso e o actual vocalista da banda: «Tínhamos acabado de ingressar na Faculdade de Direito, éramos jovens. Cedo nos apercebemos que havia malta na nossa turma que tocava, e inclusive com projectos no activo. Coincidência do destino, aquela turma reuniu o Afonso Teixeira, que cantava e tocava guitarra acústica; o Mateus Carvalho, que tocava saxofone e teclado; o José Saraiva, que tocava viola-baixo; e eu, que tocava guitarra eléctrica. Até nos encontrarmos para tocar foi um saltinho e pelo caminho encontrámos o Marcelino, que não sendo do meio jurídico, tocava bateria», contou.

No mesmo ano, junta-se à Tuna Académica de Lisboa, tendo assumido em 2020 a coordenação artística deste projecto.

A par dos "Wellman", o que começou por ser um plano para actuar na festa de fim de ano da faculdade rapidamente escalou. Formaram os primeiros arranjos e, no Verão de 2016, estavam a gravar o primeiro disco. Nos anos seguintes, fizeram-se à estrada entre covers e temas originais: «Tocámos bastante em Lisboa, nomeadamente no LX Factory, no Musicbox e no Tokyo. Participámos em alguns festivais e tivemos também algumas incursões em Lagos, no "Miss&Mister 2018" e no Lendas Bar, onde começámos o conceito que temos vindo a desenvolver nos dias de hoje». Desde então, tocam em eventos privados como festas e casamentos, tendo percorrido essencialmente o Sul do país neste formato.

Os "Falso Nove" surgiram, pois, do próprio amadurecimento musical que os seus membros apuraram com o tempo. Segundo explicou, a essência do projecto visa englobar as várias influências musicais individuais de cada um e harmonizá-las com versos calculados em português. A ideia partiu de Afonso e do colega Mateus, mas rapidamente se alastrou aos restantes.

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Impacto da pandemia e perspectivas futuras

Fevereiro de 2020 marca a data do primeiro concerto dos "Falso Nove". Inesperadamente, no mês seguinte o país entrou em confinamento, trazendo um período não tão brilhante para o sector cultural. No caso da banda, o tempo longe dos palcos serviu para «ponderar com calma a mensagem a passar», bem como para criar sinergias com a equipa que costuma auxiliar nas vertentes de comunicação e promoção: «Aproveitámos a tempestade para conceber o nosso primeiro disco e dar-lhe vida, surgindo a oportunidade de gravá-lo em plena cidade do Porto, no fim do mês de Agosto», deslindou.

E continuou: «A experiência foi marcante pela amizade de todo o processo. No último dia, vários amigos músicos foram ter connosco para gravar sopros e vozes, dando ao disco um significado ainda mais íntimo. O primeiro single já está nas ruas e o disco para lá caminha».

Apesar da mais recente restituição dos espectáculos, na óptica de Afonso, ainda paira alguma incerteza quanto aos moldes em que os eventos se podem proporcionar: «Creio que após o lançamento do disco haverá concertos pelo país e oxalá encontremos as pessoas que nos têm ouvido por aí fora», exprimiu.

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In: Edição Impressa do Jornal Correio de Lagos nº368 · JUNHO 2021

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