No I Fórum Intermunicipal Terras do Infante sobre Educação, realizado este sábado, dia 11 de maio, no Auditório Paços do Concelho Séc. XXI em Lagos, debateu-se e promoveu-se uma reflexão sobre o que se tem feito e o que é necessário ainda fazer para promover o sucesso escolar.
A iniciativa foi organizada pela Terras do Infante, em estreita parceria com as três Câmaras Municipais que a integram, com o Centro de Formação Dr. Rui Grácio e as direções dos quatro Agrupamentos Escolares que gerem a oferta pública no território desta Associação.
Adelino Soares, Presidente da Câmara Municipal de Vila do Bispo, fez a abertura dos trabalhos recordando alguns dos investimentos feitos pelo seu Município na área da Educação, dando como exemplos a construção de uma nova escola, a atribuição de bolsas de estudo e de investigação, os transportes escolares, o apoio a projetos escolares, alguns dos quais reconhecidos a nível nacional, mas salientou também a importância de outras iniciativas, como sejam feiras do livro e projetos de sensibilização ambiental, por ajudarem a capacitar os alunos e a construir uma sociedade cada vez mais preparada. Segundo o autarca de Vila do Bispo, trabalha-se bem no Poder Local em matéria de Educação, sendo esta uma área em que os municípios têm cada vez mais incumbências e estão preparados para as desempenhar. Para Adelino Soares, o Fórum foi uma oportunidade de valorizar o trabalho dos professores, dos funcionários, dos pais e dos políticos naquilo que é o seu papel em matéria de Educação.
O painel da manhã proporcionou aos participantes um contacto com dois projetos de referência que, oriundos do meio universitário, têm sido aplicados com resultados muito positivos no ensino básico: o IDEA coordenado cientificamente e apresentado por Maria Dulce Gonçalves (Universidade de Lisboa) e o Hypatiamat da Universidade do Minho, apresentado por Ricardo Pinto. O primeiro Investiga as Dificuldades para promover a Evolução na Aprendizagem, concebendo, incentivando e divulgando novas metodologias de avaliação e de intervenção que permitam repensar os materiais de estimulação para evoluir na leitura e na escrita. Para Maria Dulce Gonçalves não basta mudar tecnologicamente a escola, pois “é a cooperação e colaboração que nos pode ajudar a ir mais longe, a tornar-nos mais competentes, mais flexíveis e inteligentes”. Ao invés de menosprezar as dificuldades, este projeto procura identificá-las e compreendê-las, para que, ao serem vencidas/superadas pelo aluno, levem à sua evolução na aprendizagem. Segundo os dados partilhados por esta investigadora, as dificuldades de aprendizagem, na sua quase totalidade, derivam das diferenças existentes entre os alunos e dos problemas resultantes da distância entre o estado atual dos alunos e o estado de aprendizagem definido como meta. Para esta investigadora é necessário repensar a própria formação dos professores, pois estes não estão preparados para lidar com estas diferenças, e apostar numa diferenciação pedagógica e numa abordagem multinível. Por sua vez, o projeto Hypatiamat, desenvolvido por uma equipa de investigadores da Universidade do Minho, da Universidade de Coimbra e da Escola Superior de Educação de Coimbra e que tem estado a ser implementado em escolas situadas na zona Norte do país, visa promover o cálculo mental junto dos alunos do Ensino Básico (1.º ao 9.º ano) e melhorar o seu desempenho na Matemática, apostando na exploração das TIC e das aplicações hipermédia utilizadas nos IWB (interactive whiteboards).
No painel da tarde tiveram a palavra os diretores dos Agrupamentos de Escolas Gil Eanes (Lagos), de Aljezur, de Vila do Bispo, e Júlio Dantas (Lagos), respetivamente Paula Couto, Piedade Mattoso, Joaquim Azevedo e José Lopes. Todos fizeram uma apresentação sumária de caracterização dos respetivos agrupamentos, em termos de escolas, de população escolar, corpo docente, oferta formativa, projetos, resultados, metas e problemas a resolver, identificando as principais necessidades e deixando algumas pistas aos decisores políticos sobre áreas a investir.
Nesta sessão foi divulgada a existência do compromisso por parte do Município de Lagos em criar as condições, já no próximo ano letivo, para minimizar o problema da sobrelotação existente na Escola das Naus, solução que vai passar pela colocação de mais 8 salas em monoblocos e, no médio prazo, pela construção de uma nova EB 2,3, conforme ficou previsto na revisão da Carta Educativa do Município de Lagos.
A última comunicação coube a José Verdasca, Coordenador do Programa Nacional de Promoção do Sucesso Escolar, que partilhou com o auditório os objetivos estratégicos que lhe foram traçados, os quais têm como metas: reduzir o insucesso escolar no ensino básico para metade até ao fim da legislatura; priorizar o 1.º Ciclo do EB com vista a que no final da legislatura a retenção seja residual; criar as provas de aferição no 2.º, 5.º e 8.º anos; e promover a flexibilização curricular como instrumento poderoso de estratégia de gestão do currículo e autonomia generalizada das escolas, que sirva os propósitos do progresso no desenvolvimento de processos de avaliação interna, visando a regulação e autorregulação das aprendizagens, do ensino e dos projetos educativos. Este responsável destacou alguns dos principais problemas identificados, entre os quais a percentagem de alunos com desempenho insuficiente em Português no 1.º e 2.º anos de escolaridade, sublinhando que os fatores como a escolaridade da mãe ou a estrutura socioeconómica da família são os que mais influenciam o desempenho dos alunos no 1.º ciclo, o que permite concluir que continua a existir muita dominância social e cultural nas escolas, sendo necessário alterar esta situação para que o efeito escola, professor e método possa emergir mais. Apesar de considerar que a profissão de professor é das mais desgastantes, José Verdasca afirmou que os estudos mostram que em Portugal é onde os alunos mais valorizam os professores, o que mostra como os professores são pessoas fantásticas.
Fátima Neto, Vereadora da Câmara Municipal de Aljezur, encerrou os trabalhos, considerando os mesmos muito enriquecedores por permitirem compreender melhor o que se passa no território, os problemas e as angústias sentidas, mas também as coisas boas que se fazem. Aos presentes deixou o compromisso, da Associação Terras do Infante, de manter o contacto e voltar a promover encontros, com ideias já mais firmes sobre as respostas e os caminhos a trilhar. A responsável política pela Educação no Município de Aljezur afirmou ainda que este evento foi “um ponto de partida para o futuro que já aí está com a transferência de competências” e que os municípios querem ser parceiros efetivos das escolas, apoiar projetos e fazer a ponte com as universidades e a investigação.
Conversar mais sobre os resultados e trabalhar em conjunto para os melhorar foi também a disponibilidade manifestada por Maria Joaquina Matos, Presidente do Conselho Diretivo da Associação Terras do Infante.