«O maior exemplo de simplicidade e amor» foram as palavras que Paulo Figueiras, Director do Jardim Zoológico de Lagos, utilizou para descrever a actriz, falecida a 13 de Maio de 2021, vítima da rotura de um aneurisma cerebral.
Infra, remete-se a Nota de Pesar enviada à Imprensa a par da tragédia, da lavra de Paulo Figueiras:
Até já, Maria João, o maior exemplo de simplicidade e amor. Parece que foi ontem, mas já lá vão uns aninhos, que eu saía de Barão rumo à Avenida da Liberdade para me encontrar com o Luís da Malveira (Luís Ferreira), um amigo muito especial, para de seguida irmos jantar ali ao Manel no Parque Mayer com a Dona Beatriz Costa, que morava mesmo ao lado no Tivoli. Entre uma laraxa picante, típico da Dona Beatriz e mais uns dedos de conversa, a seguir, como era de praxe, íamos à Revista, a Revista à portuguesa que enchia o coração da gente.
E era nesses momentos que o Luís trazia as trouxas da Malveira com o garrafão de 5 litros, e entravámos camarim adentro para comemorar mais uma sessão daquele que era o grande espetáculo da altura. Tanta história para contar… Ainda me lembro da Dona Beatriz a puxar-me pelo braço e dizer "Oh Paulo, sabes que o elefante é o animal mais sexy?" E eu, "Porquê, Dona Beatriz?". "Porque por onde passa, f*de tudo", ripostava ela em tom malicioso. Ou quando respondia a um jornalista que lhe perguntava porque tinha casado uma vez e nunca mais o tinha voltado a fazer, ela muito brejeira dizia – "Ouça lá, então uma mulher por gostar de leite, tem de comprar uma vaca?".
Passava o João Baião, que na altura estava na Revista, e ela com aquele ar que só ela tinha, lhe dizia: "Oh filho, nunca te prostituas pela Televisão, o Teatro é tudo!" E foi nestes intervalos de abrir e fechar uma cortina, dum frenesim de camarim, que conheci dois seres humanos maravilhosos, com quem privei muitas vezes. Eram eles a Maria João e o Zé, seres humanos duma simplicidade e um carinho extremo. Sim, porque vedetismos não é para eles.
Tantas histórias contadas e risadas vividas! E foi num destes encontros que surgiu a ideia de eles serem os padrinhos deste que é o meu projecto de vida, o Zoo de Lagos.
Foi a 16 de Novembro do ano 2000 que a Maria João Abreu e o José Raposo partilharam comigo um dos dias mais felizes da minha vida. E fomos seguindo, falando, comemorando, vivendo, com as mudanças inerentes da vida, a João com o João, o Zé com a Sara, o Ricardo e a Rita, que por sinal têm um puto que nasceu no mesmo dia que eu, o Miguel. Enfim…
Hoje, parece que um bocado do Mundo desabou sobre mim. Não, minha querida João. Tu não merecias isto, aquele ser humano sempre a querer dar de si, simples, humilde, trabalhador, apaixonado. Mas, estejas onde estiveres, quero que saibas que tenho o maior carinho por ti.
Apesar de amanhã não estar presente na tua despedida, estarei sempre contigo. Aos pais da João, ao João, ao Zé, ao Ricardo, ao Miguel; a todos aqueles que te queriam, recebam um beijo no coração!