Direcção-Geral das Artes considera Festival Terras sem Sombra elegível ao Programa de Apoio Sustentado às Artes, mas projecta não o considerar, por falta de verbas. A decisão põe em risco a sobrevivência do Festival nos moldes actuais, uma temporada de Música, Património e Biodiversidade que decorre em dezenas de concelhos de todo o Alentejo.
“Foi com surpresa e consternação que recebemos a notificação, por parte da Direcção-Geral da Artes (DGArtes), de que esta entidade considerou elegível a candidatura do Terras sem Sombra ao Programa de Apoio Sustentado às Artes, na modalidade bienal, mas projecta não a considerar, em termos financeiros, ‘em virtude de ter sido esgotado o montante global disponível para a área artística e/ou modalidade de apoio", adianta Sara Fonseca, directora executiva do Festival Terras sem Sombra.
A responsável reage ao anúncio da DGArtes, de 4 de Novembro último, que “põe em risco a continuação do Festival, nos moldes em que o temos feito”. Uma decisão que, de acordo com Sara Fonseca, “discrimina negativamente o Alentejo, região onde não foi contemplado um único projecto no âmbito da Música, ao contrário do que tem sucedido nos últimos cinco anos”. Facto que, de acordo com a direcção do Festival Terras sem Sombra, “causa estranheza, face ao anúncio de que está previsto um notório reforço das verbas consignadas às Artes em 2023”.
Uma decisão com tanto de inesperado como de singular, “uma vez que nunca aconteceu durante os últimos anos”, adianta a direcção do Festival. Sendo uma temporada cultural de acesso livre e gratuito, realizado em territórios afastados dos grandes centros, pela inclusão e pela formação de novos públicos, “só consegue oferecer uma programação de qualidade graças à rede de apoios que tem conseguido granjear, dentro e fora do nosso país”. Para tal, apresentou a sua candidatura ao patamar mais baixo do Programa de Apoio Sustentado às Artes (60.000 euros), à semelhança dos anos anteriores.
“Como a Direcção-Geral da Artes nos convida a pronunciar-nos, no prazo de dez dias úteis, sobre este projecto de decisão, vamos fazê-lo, confiando em que sejam reprogramadas verbas e a nossa região não fique marginalizada”, conclui a direcção do Terras sem Sombra, que acrescenta: “sem esconder a preocupação, mas na certeza de que baixar os braços não é solução, tudo faremos para prosseguirmos serenamente este caminho em prol da cultura, da coesão territorial e do Alentejo. Confiamos que o ministro da Cultura atenda ao equilíbrio entre territórios e modalidades artísticas e à qualidade do projecto, aliás reconhecida pela Direcção-Geral das Artes”.
A 5 de Novembro, o Festival Terras sem Sombra findou, no concelho de Odemira, a sua 18.ª edição, após oito meses de uma intensa programação em 13 concelhos alentejanos. Uma temporada que marcou a etapa de maturidade do Festival e se pautou pela assumida feição internacional e pelo incremento de públicos, parceiros e concelhos abrangidos.
Sublinhe-se que este é o único projecto de música erudita, património cultural e salvaguarda da biodiversidade que abrange a região como um todo. O Festival assenta numa rede de colaborações com municípios e outras instituições do Baixo Alentejo, Alentejo Litoral, Alentejo Central e Alto Alentejo. Envolve também mais de uma centena de voluntários, residentes em diversos pontos da região.
A decisão provisória da DGArtes chega num momento em que o Festival Terras sem Sombra prepara a programação das duas próximas temporadas (2023 e 2024), estruturadas, do ponto de vista temático, em torno da diversidade e pluralidade na música e da mulher na música, respectivamente. Conta já, para o efeito, com a participação de 15 municípios, além de colaborações com embaixadas e entidades de diversos países, entre eles, a Áustria, Bélgica, Brasil, Espanha, Filipinas, Hungria, Itália, Paraguai e República Checa. A internacionalização do Alentejo, através de uma programação cosmopolita que não esquece os autores e intérpretes nacionais, tem sido uma das marcas do Festival Terras sem Sombra.