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Presidenciais 2021: Entrevista ao candidato Vitorino Silva

Presidenciais 2021: Entrevista ao candidato Vitorino Silva

«Eu sou a favor da regionalização. (...) Perde-se muito tempo a levar papéis para assinar. E tempo é dinheiro. É necessário combater a burocracia, que é muita. Há ali muitos muros»

No âmbito das Eleições Presidenciais 2021, o Correio de Lagos endereçou entrevistas a cada um dos sete candidatos a Belém. A proposta foi lançada de igual forma, pelo que apenas dois deles acederam ao desafio, no caso, João Ferreira, candidato pelo Partido Comunista Português (PCP), e Vitorino Silva – popularmente conhecido por "Tino de Rans" –, líder do partido Reagir Incluir Reciclar (RIR). Posto isto, vale destacar o espírito democrático demonstrado pelos referidos candidatos, que apesar do corropio pré-eleições aceitaram responder às nossas perguntas.

2.º candidato a figurar: Vitorino Silva.

Vitorino Francisco da Rocha e Silva: «Queria ser o melhor calceteiro do mundo. Era com isso que eu sonhava. Gosto mais de fazer caminhos do que muros. Queria fazer caminhos por esse mundo fora»

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O Jornal Correio de Lagos enviou, no passado Domingo, dia 17 de Janeiro de 2021, e reenviou, na Quarta-feira de dia 20 de Janeiro de 2021, via e-mail, um questionário aos sete candidatos às eleições para a Presidência da República, com lugar no próximo dia 24 de Janeiro. São eles Ana Gomes, André Ventura, João Ferreira, Marcelo Rebelo de Sousa, Marisa Matias, Tiago Mayan Gonçalves e Vitorino Silva. À data de Sexta-feira, apenas recebemos resposta do candidato João Ferreira e Vitorino Silva, sendo que o último preferiu conceder a entrevista por telefone, através de gravação.

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Breve perfil:

Nome: Vitorino Francisco da Rocha e Silva.

Data de nascimento: 19 de Abril de 1971 (49 anos), signo Carneiro.

Estado civil: Rans, concelho de Penafiel (onde reside).

Naturalidade: Biologia (licenciatura).

Área de estudos: Comunicação (licenciatura).

Profissão: Calceteiro na Câmara Municipal do Porto.

Clube de preferência: «Gosto muito do Rans, do Penafiel, do Porto... E também tenho simpatia pela Académia de Coimbra».

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Católico, admirador de Dom Manuel Martins e Nelson Mandela, Vitorino Silva, de 49 anos, casado e pai de uma jovem de 23 anos, reside em Rans, no concelho de Penafiel, de onde é natural. Exerce a profissão de Calceteiro na Câmara Municipal de Porto e elege como prato favorito «Línguas de Bacalhau». Costuma passar férias no Algarve e no interior do país, considera-se «persistente, teimoso» e para 2021 deseja «que o povo deixe de ser figurante e que atinja o papel principal».

«Não faz sentido haver círculos que tenham deputados que não sejam desses distritos, que venham de Lisboa e que nem conhecem a nação», lamentou, nesta entrevista, por telemóvel, à edição online do Correio de Lagos, o candidato presidencial Vitorino Silva, vulgarmente conhecido por "Tino de Rans". Sem papas na língua, criticou Marcelo Rebelo de Sousa ao considerar, entre outros aspectos, que este «exerceu o seu mandato à procura de votos» e «virou as costas à juventude».

No meio de todo o fulgor da campanha eleitoral, "Tino" fez ainda promessas que afirma cumprir caso conquiste lugar em Belém: «Todos os portugueses vão ser tratados por igual. Serei um presidente livre, e acho que ser um presidente livre é não deixar ninguém para trás. Irei reunir-me com os partidos políticos que têm assento na Assembleia da República para alterar a Constituição».

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Correio de Lagos – O que o leva a candidatar-se a Presidente da República?

Vitorino Silva – Fui candidato há cinco anos, tive 152 mil votos e tenho muito respeito pelos portugueses que votaram em mim. Também tenho muito respeito pelos milhões de portugueses que não votaram e por outros que se abstiveram. E é também por eles que eu vou a votos. Sou um português, um português com direitos e um direito que eu tenho é ser Presidente da República. E estou a exercer o meu direito. É essa a razão principal. Não há portugueses de primeira, nem de segunda, eu não sou mais nem menos que qualquer outro português. Respeito os meus adversários que vão a votos e também aqueles portugueses que não vão a votos. Se eu concorri e fui Presidente da Junta [de Rans, do concelho de Penafiel], porque é que não posso concorrer a Presidente da República? É um direito que eu tenho e estou a exercê-lo como tal.

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«Acho a Constituição da República obsoleta. (...) Não faz sentido os grandes partidos meterem pessoas do aparelho a concorrerem a distritos que não são deles»

CL – Qual a primeira medida que tomará se for eleito e porquê?

VS – Todos os portugueses vão ser tratados por igual. Serei um presidente livre e acho que ser um presidente livre é não deixar ninguém para trás. Irei reunir-me com os partidos políticos que têm assento na Assembleia da República para alterar a Constituição. Acho a Constituição da República obsoleta. Por exemplo, não faz sentido haver dois círculos eleitorais para os emigrantes, quando deve haver um. Depois, também não faz sentido haver círculos eleitorais com dois, ou três deputados, como é o caso de Portalegre. No fundo, há que ter menos círculos, mas mais representação para todos poderem chegar ao Parlamento.

Por outro lado, não faz sentido haver círculos que tenham deputados que não sejam desses distritos, que venham de Lisboa e que nem conhecem a nação. O que quero com isto dizer é que não faz sentido os grandes partidos meterem pessoas do aparelho a concorrerem a distritos que não são deles. Há gente boa em todos os distritos. Acho que, por exemplo, em vez de haver círculos eleitorais em Bragança e Vila Real, devia existir um círculo único, o de Trás-os-Montes, em que teria, no mínimo, oito deputados. Assim como o Alentejo também teria de ter, no mínimo, oito deputados. Nas Beiras, na Guarda, em Castelo Branco, sete, ou oito deputados. Não faz sentido haver círculos eleitorais com dois deputados. Não terei problema nenhum em reduzir o número de deputados para 200 ou 210, ou 180. Nem em haver círculos uninominais, que é para as pessoas verem em quem votam. Normalmente as pessoas votam e não conhecem os deputados.

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«Fiquei triste quando a jovem sueca Greta Thunberg, activista do meio ambiente, passou por Portugal e o Presidente não quis ir ter com ela. Também fiquei muito triste que ele, que foi professor universitário e passou a sua vida a dar aulas a jovens, não tenha tido nenhum jovem no Conselho de Estado»

CL – Quais os aspectos positivos e negativos que destaca no primeiro mandato do actual Chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa?

VS – Eu acho que não teve aspectos positivos. Não suporto ouvir um médico dizer que os testes ao novo coronavírus, ao actual Presidente da República, foram mal feitos. É muito mau se metade dos testes não foram verdadeiros. Por outro lado, ao longo destes cinco anos, houve choques a mais. O Presidente da República exerceu o seu mandato à procura de votos. Quando a situação está boa, é o Presidente que fala; noutras alturas, são os assessores. Não pode ser. O Presidente da República tem de dar a cara nos bons e nos maus momentos.

Eu não tenho nada contra o cidadão Marcelo Rebelo de Sousa, de quem também fui adversário há cinco anos e tenho todo o direito de discordar dele. Toda a gente, nestes cinco anos, viu o que ele fez de bem e fez de mal. Não sou eu que vou descobrir a pólvora. Também gosto dos afectos às pessoas, mas é preciso haver afectos à Natureza, às Artes. Fiquei triste quando a jovem sueca Greta Thunberg, activista do meio ambiente, passou por Portugal e o Presidente não quis ir ter com ela. Também fiquei muito triste que ele, que foi professor universitário e que passou a sua vida a dar aulas a jovens, não tenha tido nenhum jovem no Conselho de Estado. Ou seja, o Presidente da República virou as costas à juventude. Não levou a juventude a sério.

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Os restantes candidatos «são portugueses, como eu. Com estilos de vida diferentes, que eu respeito. Tenho de ter fair play»

CL – Qual é a sua opinião sobre os restantes candidatos? Que aspectos positivos e negativos aponta a cada um deles?

VS – São portugueses, como eu. Com estilos de vida diferentes, que eu respeito. Tenho de ter fair play. São todos diferentes. E nestas eleições, uma coisa em que as pessoas podem votar é em pessoas diferentes. Tenho a certeza de que os votos chegam para todos.

CL – Como avalia a actuação do Governo?

VS – Este Governo foi apanhado de surpresa pela pandemia de Covid-19. Portanto, dizer mal do Governo, quando neste momento temos de estar todos unidos nesta situação… E eu estou ao lado do Governo. A outro nível, não gostei muito da colagem à geringonça. Mas, pronto, olhe, já passou.

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«Na situação actual, sem regionalização, é um caso muito complexo. É preciso muita assinatura do Algarve para Lisboa, do Porto, do Norte, para Lisboa, do interior para Lisboa. Perde-se muito tempo a levar papéis para assinar. E tempo é dinheiro»

CL – É a favor ou contra a regionalização e porquê? O que poderia mudar no Algarve com a regionalização?

VS – Eu sou a favor da regionalização. Já se fez um referendo à regionalização, que não foi vinculativo, pois não votaram cinquenta por cento das pessoas. No Algarve, até ganhou a regionalização. Na situação actual, sem regionalização, é um caso muito complexo. É preciso muita assinatura do Algarve para Lisboa, do Porto, do Norte, para Lisboa, do interior para Lisboa. Perde-se muito tempo a levar papéis para assinar. E tempo é dinheiro. É necessário combater a burocracia, que é muita. Há ali muitos muros.

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«Sou um homem muito ocupado. E uma pessoa ocupada, é uma pessoa feliz»

CL – Como ocupa os tempos livres?

VS – Sou um homem muito ocupado. E uma pessoa ocupada, é uma pessoa feliz. Tenho sempre que fazer. Gosto de escrever, gosto de fazer uns poemas, gosto de tratar do jardim, gosto de fazer umas calçadas. Gosto de estar ocupado.

CL – O que destaca em 2020 pela positiva? E pela negativa?

VS – Pela positiva: o acreditar, o não baixar os braços, enfrentando os problemas. Pela negativa, a Covid.

CL – O que espera do ano de 2021?

VS – Que o povo deixe de ser figurante e que atinja o papel principal.

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«Tenho limitações. E quem tem limitações, tem mais evolução. Gosto de evoluir»

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Respostas rápidas:

Gastronomia/prato preferido – «Línguas de Bacalhau».

Destino de férias predileto – «Algarve, interior... Quase sempre em Portugal. Gosto muito de estar em Quarteira, em Portimão, em Lagos, em Aljezur, na Fuseta e em Olhão».

Filmes que mais aprecia – «Titanic» e «Santo António à deriva».

Livros de eleição – «Gosto muito de ler Fernando Pessoa, gosto muito de Almeida Santos. Gosto muito de ler revistas, jornais. Gosto de ler um pouco de tudo».

Religião – «Sou católico».

Brinquedo de infância – «Um tractor e uma gancheta».

Principal virtude – «Tenho limitações. E quem tem limitações, tem mais evolução. Gosto de evoluir».

Principal defeito – «Sou persistente, sou teimoso».

O que mais aprecia nas pessoas – «A honestidade e a pureza».

O que mais detesta – «Hipocrisia».

Figuras que mais aprecia – A nível nacional, «gostava muito do Bispo Dom Manuel Martins, que já faleceu». A nível internacional, «Nelson Mandela, também já falecido».

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Questionário e tratamento da peça: José Manuel Oliveira.

Edição e complementos: Marta Ferreira.

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