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Lagos agora. E o futuro?

Lagos agora. E o futuro?

Artigo da Revista Nova Costa de Oiro https://www.novacostadeoiro.com

Em Agosto de 2019, escreveu-se o seguinte na Nova Costa de Oiro: «Ano após ano, quando chega o mês de Agosto, escuta-se um pouco por toda a cidade a mesma lamúria: «Nunca mais chega Setembro, para termos alguma tranquilidade...». E, também: «Como destino turístico de “Sol e Praia” é no Verão e em especial no mês de Agosto que Lagos recebe maior número de visitantes. Estima-se que nestes 31 dias, o número de pessoas presentes seja cerca de três vezes superior ao da população residente. E, assim, acaba por acontecer o inevitável mau-estar que se verifica por estes dias. E as queixas que se escutam um pouco por todo o lado».

No espaço de 8 meses, o Mundo mudou e, com ele, as expectativas e as preocupações das populações do planeta e as dos empresários, igualmente. Um vírus, para o qual não há ainda vacina, veio alterar tudo.

Em Lagos (e noutros destinos turísticos), onde antes havia muitos que reclamavam dos excessos provocados pela grande afluência de veraneantes, especialmente durante o período estival, hoje teme-se a falta de trabalho e de rendimento para milhares de pessoas.

Nesta edição da Nova Costa de Oiro, proceder-se-á a uma análise do impacto da pandemia nas empresas locais, através da recolha de depoimentos de lacobrigenses de vários sectores de actividade. Escutámos Nuno Rocha, lacobrigense, bancário, Miguel Velhinho, lacobrigense, 54 anos, fundador e CEO do Projecto Manhattan, profissional de comunicação que trabalha há 30 anos na indústria do marketing e da publicidade, João Pedro Jacinto, lacobrigense desde os primeiros 4 dias mas nascido em Faro, arquitecto, empresário / proprietário de um pequeno aldeamento turístico de apartamentos turísticos em Lagos, Fábio Mateus, de 31 anos, natural de Burgau, autarca (presidente da Junta de Freguesia de Budens), pescador, Jaime Maximiano, “algarvio” há quase há 50 anos, na área da restauração, Rui Catarino, 55 anos, comerciante no ramo da ourivesaria (proprietário da Ourivesaria Coimbra) e a do lacobrigense Nuno Marques, urbanista.

A primeira análise é de Nuno Rocha, 45 anos, 20 anos de experiência no sector bancário, em Portugal e nos EUA, com formação académica em Economia, e especialização em análise financeira e banca de empresas. Actualmente, é responsável pela sucursal Barlavento Negócios, do Banco Comercial Português: «Atravessamos um período sem precedentes, e sem ponto de comparação com o passado, algo que em economia é difícil de aceitar, porque retira qualquer hipótese de previsão, e permite o reinado da especulação.

Desta vez não foi culpa do ímpeto gastador do país, ou dos erros de bancos ou empresas, ou mesmo de qualquer outra característica intrínseca que nos acompanha há séculos como nação, e que irritantemente nos tem mantido na cauda da Europa.

Uma crise de saúde pública, provocada por um vírus, ainda perigosamente desconhecido, mais uma vez com origem no Império do Meio, conseguiu parar o Mundo, e criar-nos uma nova rotina, que muitos já denominam de novo normal, mas que a maioria anseia por um regresso à outra tradicional e antiquada normalidade, que será no futuro, certamente, muito mais valorizada.

Vivíamos no Algarve um período de clara expansão económica, espoletada pelas medidas decididas e implementadas em mais um período de intervenção do FMI, onde se destacaram a nova lei do Alojamento Local, o Golden Visa, e o Estatuto de Residente não Habitual, cujos benefícios permitiram despertar a atenção da comunidade internacional, tornando este rectângulo à beira mar plantado um destino preferencial de investimento estrangeiro, e desta vez, não apenas concentrado nas ilhas britânicas.

Lagos é um dos expoentes máximos dessa realidade, quer em termos turísticos, quer em termos de mercado imobiliário, onde a construção tem vindo a assumir um papel catalisador duma multiplicidade de outros sectores, e em que os preços por metro quadrado da habitação atingem valores estratosféricos, rivalizando mesmo, com outros destinos bem mais famosos e conhecidos.

Esta era a realidade nos primeiros meses deste ano, e nada faria prever que 2020 não desse continuidade ao desempenho dos anos anteriores. Infelizmente tudo mudou.

Agora, o nosso tecido empresarial luta pela sobrevivência, e os Bancos são literalmente inundados por pedidos de financiamento, que suportem as necessidades de tesouraria dos próximos meses, e por moratórias de crédito, que chegam aos milhares. Estas medidas são correctas, e teoricamente, irão ajudar a superar este período, mas mais uma vez se constata que é mais fácil para um político as anunciar, do que depois as implementar.

Mas atenção, que ninguém pense que existe uma única solução milagrosa, que por si só consiga resolver todos os problemas.

Empresas e empregados deverão recorrer a todos os meios que foram criados para superar este terrível período, como as medidas fiscais e de apoio à actividade e ao emprego.

Será a utilização conjunta e simultânea de todos estes instrumentos criados para o combate às consequências nefastas do Covid-19, que permitirão mitigar os seus efeitos. Acredito que gradualmente a economia do país seja reactivada, e que de acordo com novos parâmetros de segurança e saúde, os nossos hotéis, unidades de alojamento, restaurantes e cafés voltem a laborar.

Seria insustentável não o fazermos. Outros países já tomaram essa iniciativa. Tenho a certeza que as companhias aéreas, e operadores turísticos, não irão ficar de braços cruzados, e que lançarão agressivas campanhas turísticas, para o retomar do sector, apesar de nos próximos tempos termos que nos habituar a entrar num avião de máscara cirúrgica posta, e de óculos embaciados. E que seja.

Tenho igualmente esperança, que o Algarve, e Lagos em particular, possam inclusivamente beneficiar da forma como atravessámos estes tempos de Covid-19. Vários artigos na imprensa internacional chamam a atenção para esse facto. Poderá mesmo ser uma importante vantagem competitiva, que não iremos certamente desperdiçar.

E justiça seja feita, o Município de Lagos, ao contrário de outros na Região, tomou medidas concretas e de forma rápida, impedindo a propagação dos casos infectados. O que é bem feito, terá sempre o seu retorno.

Contudo, esta crise também vem colocar a nu a cada vez maior dependência do Algarve ao sector do Turismo. Continuamos sempre a seguir o caminho mais fácil, e a optar pelo que dá garantia de retornos imediatos, não se tendo apostado na diversificação da economia Regional. Temos condições para sermos uma região de forte investimento em indústrias tecnológicas, e pessoalmente, preferia sermos a Califórnia do que a Florida da Europa…

Hoje foi o vírus, mas amanhã poderá ser uma outra qualquer catástrofe, que exporá novamente a “doentia” dependência do Turismo.

Que este momento também sirva para aprendermos com os erros, e que nos dê coragem, para nem sempre seguirmos o caminho mais curto e mais fácil.»

Eis o diagnóstico detalhado e pertinente de Miguel Velhinho, lacobrigense, fundador e CEO do Projecto Manhattan, profissional de comunicação que trabalha há 30 anos na indústria do marketing e da publicidade:

«Uma das actividades que desenvolvo em permanência desde que trabalho em estratégia de marketing é a análise de tendências de mercado e o modo como estas afectam o comportamento das pessoas em geral. Perceber e antever o futuro, numa óptica de consumo é a minha matéria para desenvolver estratégia de marketing e de comunicação para as marcas.

É com muito prazer que partilho convosco as minhas observações e previsões, ressalvando o facto que prever o futuro para desenvolver estratégia, seja ela de tipo for, é sempre um exercício onde se consideram cenários alternativos feitos com base em experiências passadas e presentes.

Como sabemos o presente é dinâmico e por isso as previsões não conseguem na maior parte das vezes ser 100% certeiras. O tema é vasto e por isso partilharei convosco alguns temas que considero que terão impacto na comunidade lacobrigense e deixarei para outra oportunidade temas mais gerais, relevantes para a sociedade humana como um todo.

A contenção do Vírus

Uma das coisas que temos de ter em conta é que o modo como lidamos com a contenção do vírus, de uma forma global, tem um impacto directo na vida das pessoas de Lagos. Enquanto não existir uma vacina ou um anti-viral, teremos que ter regras de contenção.

Neste momento, países pelo mundo forma testam novas abordagens à contenção do vírus e não é ainda claro qual o modelo a seguir para se conseguir manter a economia a funcionar (que implica sempre algum grau liberdade na circulação de pessoas) e ao mesmo tempo manter os índices de contágio baixos para que os serviços nacionais de saúde não entrem em colapso.

Na altura em que escrevo, os países que tinham adoptado uma abordagem mais descontraída (Holanda, Suécia e Grã-Bretanha) começam a observar um maior aumento de contágios o que deixa antever que as regras de contenção tenderão a apertar.

Mais contenção significará que as fronteiras continuarão fechadas durante mais tempo e isso terá um impacto mais prolongado no turismo e consequentemente na economia lacobrigense. O

lhando para o passado, para as características do surto de gripe Espanhola em Portugal, vemos que existiu um primeiro surto, grave, na primavera de 1918; e um segundo surto, muito mais grave, no inverno do mesmo ano.

Hoje os responsáveis de saúde começam a alertar para eventualidade de um segundo surto quando voltarem a baixar as temperaturas. O fenómeno foi semelhante noutros países.

O turismo

Mesmo que as fronteiras terrestres e aéreas sejam reabertas após 17 de Maio o turismo sofrerá uma quebra grande por vários motivos: - os estrangeiros, que também estiveram confinados em quarentena nos seus países, não terão um período de férias normal para gozar.

A maioria acordará com as suas empresas um período pequeno de férias para gozar e trabalhará o resto do ano para compensar o longo período que estiveram de quarentena, sem trabalhar.

- a maioria dos turistas estrangeiros que estão dispostos a viajar no próximo verão terão um perfil muito particular: a maioria estará nas faixa 18-30 anos (idades menos afectadas pelo vírus) e terá um poder de compra mais baixo que a média dos anos anteriores.

- a maioria dos turistas estrangeiros fará um planeamento e compra de férias num período obviamente mais curto que o normal. Irão aproveitar as promoções das companhias aéreas e da oferta hoteleira e comprarão férias com 3 a 1 semana de distância do check-in.

- o turismo interno voltará a ser o segmento mais importante para a comunidade lacobrigense, o que muito provavelmente terá um impacto no tipo de oferta dos negócios em Lagos.

Existe um conjunto de produtos e serviços que são muito procurados pelos estrangeiros que não têm a mesma procura pelo mercado interno. Terão de se reinventar para ser relevantes para os turistas portugueses.

- o turismo interno também será um turismo de curta duração (uma média de 7 dias de estadia) pelas mesmas razões apontadas acima para o turismo estrangeiro, mas terá uma média de idades mais elevada e uma média de poder de compra ligeiramente maior que os estrangeiros.

- O turismo de terceira idade (relevante para reduzir a sazonalidade na comunidade lacobrigense) tenderá a sofrer uma queda abrupta.

- Em 2020 a sazonalidade será mais sentida (já está a ser) e os turistas virão mais tarde e regressarão a casa mais cedo. Este ano parecerá um ano do “antigamente” onde os turistas se concentravam essencialmente entre 15.07 e 15.09.

O mercado imobiliário

A menor procura turística terá um impacto nos pequenos negócios de alojamento local. Os AL que conseguirem aguentar o embate da crise do turismo em 2020 terão novas (e melhores) oportunidades em 2021.

Mas uma grande parte destes pequenos negócios não resistirá e isso aumentará a oferta de habitação na região: as pessoas preferirão ter algum rendimento certo ao longo do ano do que voltar a arriscar perder o seu rendimento abruptamente por tempo indeterminado.

Dependendo da velocidade da recuperação económica, o mercado imobiliário poderá sofrer um embate considerável, o que fará que com o preço do metro quadrado baixe. A importância da comunidade e do made in Portugal Uma das mudanças comportamentais esperadas no pós Covid-19 está no modo como compramos e consumimos.

Os portugueses estão neste momento mais despertos para a importância de comprar português, porque sabem que, ao fazê-lo, estão a ajudar a economia do seu país e ajudar aqueles que, no período longo de quarentena, fizeram chegar os bens de consumo até si. Este fenómeno de proteccionismo é global, vemos o mesmo acontecer em países vizinhos.

Do ponto de vista local iremos ver em Lagos o renascer da economia de comunidade de uma forma mais evidente e não apenas confinada ao mercado de fim de semana.

Produtores de bens consumo alimentares locais terão no futuro mais oportunidade de negócio do que tiveram até hoje.

O impulso da economia digital na logística e distribuição, que falarei a seguir, fará com que este fenómeno comunitário entre no dia a dia da comunidade de uma forma muito transversal a todos os negócios, mas principalmente na área da alimentação.

Logística e Distribuição

A logística e a distribuição impulsionadas por plataformas digitais, foram duas áreas intimamente ligadas que têm crescido exponencialmente durante o período de quarentena dos portugueses.

O responsável de um grande banco nacional dizia-me há dias que “há anos que estava a trabalhar na digitalização do seu negócio e foi preciso aparecer um vírus para, que de momento para o outro, colocasse a trabalhar uma série de soluções inteiramente digitais”.

É certo que antes do vírus já existiam uma série de plataformas digitais que faziam chegar os bens a casa das pessoas, mas depois do vírus nada voltará a ser o mesmo nesta área. E uma maior digitalização poderá levar a uma recuperação económica/financeira mais rápida.

Por exemplo, um restaurante em Lagos poderá minimizar o impacto financeiro de ter menos clientes desenvolvendo refeições para entrega ao domicílio (com entrega próprio ou recorrendo a plataformas existentes de distribuição como a Uber Eats ou a Glovo).

Tele-trabalho

A maioria das empresas e uma grande parte dos serviços públicos testaram neste últimos 2 meses, modelos de tele-trabalho e acredito que, também nesta área, iremos assistir a mudanças profundas quando se perceber que, apesar das pessoas em regime de tele-trabalho trabalharem menos tempo (em média 6 horas diárias segundo um estudo da Marktest feita em Março passado) são mais produtivas.

As próprias pessoas sentem uma melhoria na qualidade de vida (dormem mais, gastam menos em comida fora de casa, têm mais tempo livre, e quando as crianças tiverem aulas nas escolas, o tele-trabalho será mais fácil).

Novas regras de socialização

O vírus irá mudar o modo como socializamos, pelo menos num futuro próximo onde continuará a estar presente o nosso instinto de protecção. Seremos um pouco menos latinos e um pouco mais escandinavos, mas é algo que na minha opinião será muito difícil de alterar porque está enraizado na nossa cultura.

E mudar aspectos culturais não é algo que se faça por decreto governamental. Vamos certamente voltar aos beijos, aos abraços e aos amigos, mas durante algum tempo seremos mais cuidadosos.

Sejam cuidadosos. Mantenham-se seguros. Utrapassaremos isto juntos».

Passamos a palavra a João Pedro Jacinto, que analisa a situação actual e traça linhas para o futuro próximo, que antevê como «negro»: «o cenário futuro é negro e vai tratar-se de simples sobrevivência», diz.

«Sou João Pedro Jacinto, lacobrigense desde os primeiros 4 dias mas nascido em Faro. Trabalho em três áreas distintas há alguns anos.

A primeira como arquitecto inscrito na Ordem dos Arquitectos Portugueses com o nr. 5151 desde 1993, na segunda exploro como proprietário um pequeno aldeamento turístico, de apartamentos turísticos em Lagos, desde 2003.

E sou ainda inventor, com uma patente registada e outras na forja. Vou por isso referir o que se passa nestes três sectores de actividade.

A situação actual face ao alargamento do corona vírus 2 e a respectiva doença Covid-19 teve impacto muito directo e brutal na actividade turística, a minha e a dos restantes hoteleiros.

Os meus apartamentos têm as reservas barradas até 7 de Junho por minha iniciativa há cerca de um mês, uns dias antes das escolas encerrarem. E embora as reservas estejam abertas a partir dessa data a minha esperança de vir a trabalhar este ano é muito reduzida, pois os poucos turistas que reservaram ou venham a reservar não terão as disponibilidades de voos que existia antes desta crise mundial e provavelmente não virão. Mesmo que o vírus seja vencido. Ou seja, estamos a viver o pior ano do turismo de sempre, nem o vulcão finlandês chegou perto disto.

A minha temporada tinha começado em 2 de Março, já tinha contratado as pessoas e serviços para a época portanto as despesas são certas. Já as receitas parecem uma miragem.

A receita ganha nos anos anteriores irá esfumar-se em breve e será complicado manter ordenados e pagamento de serviços normais, além das contas certas de electricidade e água.

Este sector (alojamento turístico) é o que mais sofre directa e indirectamente com esta crise juntamente com os transportes de turismo, por enquanto. Nós hoteleiros teremos de nos reinventar, tal como todos os outros ramos de actividade e urgentemente, para podermos sobreviver enquanto empresários. Os que não têm empréstimos sobre o negócio como eu, estão mal, mas pior está quem investiu recentemente com recurso a crédito.

Pois os bancos nunca foram benevolentes com os clientes de crédito e não acredito que o venham a ser agora.

O futuro? Esse passará pela reconversão de algumas unidades para habitação permanente, decorrente do ajustamento natural à menor procura turística, especialmente o alojamento local que voltará ao seu uso e destino inicial como habitação.

Haverá uma baixa nos preços quando o turismo voltar a ser possível, quer devido à menor procura que será inevitável e decorrerá da perca de poder de compra dos clientes, quer pela concorrência existente.

Pois todos os clientes do turismo estão a perder dinheiro, quer em ordenados quer em receitas e mesmo que o vírus desapareça levará algum tempo até o luxo que é o turismo seja possível à classe média. A excepção será às unidades mais luxuosas ou com mais valências, pois a clientela dessas tem capacidade económica para viver vários anos só das poupanças.

A classe de trabalhadores com rendimento baixo será das mais afectadas, pois quem vive de ordenado mínimo ou parecido não teve condições para poupanças e essas pessoas estarão a viver uma crise brutal já em Setembro. Ou seja, o cenário futuro é negro e vai tratar-se de simples sobrevivência.

Como arquitecto estou prestes a iniciar um novo trabalho ainda não adjudicado. Em caso de adjudicação virá dar-me alguma capacidade para ir pagando as despesas do negócio e da casa.

Pois com ou sem turismo a procura por apartamentos não vai desaparecer e sendo o Algarve o que é, há muita gente a perceber que aqui no Algarve a qualidade de vida está ao nível do melhor do mundo. Logo a procura pode baixar um pouco, mas não irá desaparecer.

Entretanto irei desenvolver umas ideias que venho trabalhando há alguns anos até as efectivar em patentes. Em áreas da aeronáutica, do automóvel e das energias renováveis.

Mas estou atento às necessidades que surgem devido à Covid-19 e irei tentar criar respostas onde a sociedade não esteja a consegui-las.

Os ventiladores já têm uma resposta dos inventores, portugueses por acaso, mas outras necessidades irão surgir e será preciso espírito inventivo para o novo mundo que estamos a viver.

E é disso que se trata, um novo mundo em gestação. Nada será como antes, mas muitos perderão tudo... até hoje já mais de cem mil perderam a vida, perderam tudo. E, infelizmente, a crise ainda mal começou.

Temo o efeito do vírus em África, na Índia e na América do Sul, Países com zonas densamente povoadas em sobrelotação mas sem os meios que a Europa tem.

Se na Europa com todas as condições de hospitais, redes básicas de saneamento, etc acontece isto, nos países sem essas condições a crise poderá atingir proporções quase inimagináveis.

E daí surgirem novas vagas do vírus no futuro. É um quadro feio admito, mas não se baseia em teorias da conspiração, apenas nos factos e eventos ocorridos.

Entre a ciência e a adaptabilidade da natureza a crise será debelada.

E o velho mundo será um novo mundo».

As análises e os depoimentos anteriores centraram-se, essencialmente, no sector terciário da actividade económica.

Procurando perceber como o sector primário está a viver o actual momento de excepção, escutámos Fábio Mateus, 31 anos, natural de Burgau, autarca (presidente da Junta de Freguesia de Budens, no concelho vizinho de Vila do Bispo), pescador desde 2009 (com formação específica nesta área) e proprietário da embarcação de pesca de cerco «Flor de Burgau».

Fábio Mateus é, igualmente, Presidente da Associação AAPABA (Associação de Armadores da Pesca Artesanal do Barlavento Algarvio) desde 2015 e Secretário na Barlapesca (Cooperativa dos Armadores da Pesca do Barlavento).

«Neste momento vivemos tempos muito difíceis devido ao surto do vírus que provoca a Covid-19, momentos em que todos os sectores estão a ser afectados profundamente.

A junta de Freguesia de Budens, em conjunto com todas as Juntas de Freguesia do concelho, tomou algumas medidas de apoio à população. Todos nós sabemos que as juntas de freguesia têm autonomia limitada, contudo fazemos aquilo que é possível para ajudar aqueles que mais precisam.

Participámos no lançamento de programas de apoio à população de risco, levando às suas casas bens alimentares de primeira necessidade e medicamentos.

Em conjunto com a Santa Casa da Misericórdia e com a Câmara Municipal conseguimos ainda levar cabazes com alimentos para aqueles que mais precisam.

Na pesca, estamos também a atravessar dificuldades. O arrastar de algumas debilidades do sector acentua-se nesta crise, primeiramente devido à idade das embarcações que, por ser excessiva, não permite uma adaptação eficiente da pesca.

As condições de trabalho, em termos de higiene e segurança, são poucas, sendo que com as normas impostas pela DGS quase nenhuma embarcação está a pescar de forma adequada.

No que diz respeito ao pescado, as embarcações têm ido ao mar e têm conseguido trazer peixe para a lota. Todavia, o preço do peixe também baixou e, nos primeiros dias que o estado de emergência foi implementado, o preço do pescado baixou imenso. Foi depois melhorando, pelo que neste momento o valor está um pouco melhor para o pescadores, ainda que varie conforme a quantidade, dado que não devemos capturar muito pescado atendendo ao baixo escoamento do mercado.

Penso que tempos ainda mais difíceis se avizinham. Tudo vai depender de como vamos superar o vírus e as consequências vão ser muitas; todos os sectores estão ligados ao turismo e se não tivermos turismo vamos ficar muito afectados.

Mas não podemos baixar os braços: o pescador tem de continuar a pescar e o agricultor tem de continuar a cultivar, todos os sectores tem de começar a laborar segundo as medidas do Estado. Isto é muito importante, porque o que preocupa mais é o facto de que se as pessoas não laborarem, não será possível obter rendimentos, significando um crescendo de dificuldades para as quais temos de estar preparados sem um horizonte de certezas, do “quando” e “como” vai ficar tudo bem.

Penso que a pesca vai ser um sector importantíssimo para toda a região do Algarve, como sempre o foi. Consumimos muito pescado oriundo de outros Países e neste momento temos de voltar a consumir o que produzimos, o que capturamos, melhorar o consumo interno. Nesse sentido devemos consumir aquilo que é nosso, aquilo que o nosso mar nos dá, contribuindo para gerar crescimento económico local.

Para além do facto nutricional, dado que é importante manter as defesas em alta para enfrentar o vírus e o peixe do nosso mar é rico em vitaminas essenciais, pelas propriedades já reconhecidas.

A pesca tem de se adoptar, medidas para que o preço do pescado não desvalorize em lota e que seja de um valor justo para o consumidor final e para a fonte, para quem o captura. Acima de tudo, preocupa-nos muito a pesca da sardinha neste momento, porque só vamos começar a pescar nos primeiros dias de Junho.

Num momento em que os santos populares foram cancelados, era nessas festividades em que os pescadores do cerco obtinham maior rendimento, era nesse período que o preço da sardinha aumentava, muitas destas embarcações estão paradas, à semelhança de tudo na economia, uma espera que pode causar danos a muitas famílias.

Esta preocupação com o desconhecido está a assombrar a pesca, uma actividade ancestral que já superou outras pandemias e inimigos invisíveis vê-se agora a braços com uma crise nova e diferente que acentua problemas antigos».

Do sector primário da actividade económica, regressamos ao terciário, mais concretamente à área da restauração, com o depoimento de Jaime Maximiano, revelador de sérias preocupações:

«O meu nome é Jaime Maximiano. Não nasci no Algarve, mas sou “algarvio” há quase 50 anos.

Sou sócio gerente do Restaurante Adega da Marina (em parceria) e dos Restaurantes Campimar (na Praia de Porto de Mós), D. Henrique e Giovanni, em Lagos, na Rua 25 de Abril.

Por segurança, devido ao COVID 19, encerrámos todos os estabelecimentos no dia 16 de Março.

Quero acreditar que esta crise é apenas mais uma batalha para ser vencida, mas não é fácil.

Estou, naturalmente, muito preocupado. Receio pelo futuro, pelo meu, o da minha família e especialmente pelo de quase cem colaboradores, cuja sustentabilidade é o seu trabalho nos meus restaurantes.

Receio também que o Verão do Algarve esteja condenado, pois a restauração é uma área muito sensível e não estou a imaginar restaurantes cheios nos próximos tempos. Os apoios financeiros que nos foram propostos, podem, se se concretizarem, servir para atenuar ou adiar a ruptura da tesouraria das empresas, mas penso que não resolvem o problema».

De acordo com os dados recolhidos e processados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), em resposta ao inquérito realizado por esse organismo estatal, 83% os respondentes declararam que as restrições levadas a cabo no contexto de estado de emergência tiveram «muito impacto» no seu ramo de actividade.

Rui Catarino, 55 anos, comerciante no ramo da ourivesaria, em Lagos, está entre os que foram muito afectados pelos efeitos da pandemia. O seu depoimento:

«Neste momento tenho as lojas encerradas por tempo indeterminado, devido a pandemia Covid-19, actualmente sem realizar receitas.

As despesas são diárias e a situação vai apertando a cada dia que passa. Nas crises, o sector é dos primeiros a sentir o impacto e das ultimas a deixar de senti-lo.

Logicamente, com a quebra do poder de compra, o consumo vai destinar-se para os bens essenciais (Saúde Alimentação e Educação), no final é que estão os chamados bens “supérfluos” (onde está o meu ramo).

Estou preocupado e aproveito esta pausa para tentar estar muito atento às mudanças para a elas responder da forma mais eficaz.

Até ao fim do ano, acho que deveríamos retomar o nosso quotidiano de uma forma muita lenta e cautelosa, após a permissão da abertura do comércio pelas instâncias superiores, ainda que com as restrições para a segurança de todos.

Na minha opinião e se tudo correr bem, só no Verão de 2021 é que começará o inicio da retoma».

Terminamos a nossa recolha de depoimentos, de opiniões e de análises com a de Nuno Marques, colaborador da Nova Costa de Oiro desde a sua primeira edição, em Outubro de 1995, e que está agora de volta ao nosso convívio mensal, nesta que foi e que será sempre a sua e a nossa «casa».

Na sua página de Facebook, intitulada «15 Segundos de Urbanismo», Nuno Marques, em artigo intitulado «Que turismo na “Era das Pandemias”?» conduz-nos à necessária reflexão:

«A incerteza adensa-se. O Turismo não foge à regra. A corona-crise já obriga a hotelaria clássica a adaptações significativas. Tenderá a 'apartamentar-se'.

As pessoas continuarão a precaver-se. Formas de fazer turismo com moderado contacto social e maior autonomia interessarão mais.

Parece.

E algum alojamento local não-hostel ou o auto-caravanismo poderão não perder tanto como alguns vaticinam.

Os territórios de Turismo, esses, têm de procurar antecipar os efeitos destas mudanças. Inevitavelmente.

Agora».

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