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"Existe muita pobreza envergonhada na região algarvia", alerta Padre Miguel Neto, Director do Gabinete de Informação da Diocese do Algarve

"Existe muita pobreza envergonhada na região algarvia", alerta Padre Miguel Neto, Director do Gabinete de Informação da Diocese do Algarve

Em entrevista, por escrito, ao Correio de Lagos, o Padre Miguel Neto, Director do Gabinete de Informação da Diocese do Algarve, diz como é que a Igreja Católica vai celebrar o Natal, com as limitações devido à pandemia da Covid-19, reconhece falta de padres nesta região e lamenta haver menos casamentos e baptizados, além das restrições nos funerais para os familiares dos falecidos. Sobre os efeitos da vacina contra o novo coronavírus, para acabar com a instabilidade social, económica e emocional, deixa uma mensagem: «Temos de ter esperança».

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Correio de Lagos - Perante as restrições impostas pela pandemia da Covid-19, como vão as igrejas do Algarve celebrar este Natal? Vai haver Missa do Galo em todas as Igrejas? Há limitações na presença de pessoas?

Padre Miguel Neto - O Natal vai ser celebrado com a maior normalidade possível, havendo somente limitações na ocupação das Igrejas e a ausência do gesto tradicional de beijar o Menino no fim das eucarísticas Natalícias. Há comunidades onde não há a chamada Missa do Galo e o Natal é celebrado com igual dignidade. O essencial é que haja uma celebração do Natal na noite de Natal ou no dia de Natal.

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CL - Como têm os padres no Algarve gerido estes tempos difíceis devido ao novo coronavírus? Há menos pessoas nas igrejas e nas missas? Qual é a sensação do uso da máscara durante as celebrações e no contacto com as pessoas?

Pe. MN - Apesar de as realidades das comunidades serem diferentes, tentamos viver este tempo com a maior normalidade possível. Se no início houve algum receio na participação na celebração eucarística, agora nota-se que, aos poucos, há um regresso à celebração física da eucaristia. Penso que é devido ao exemplo de responsabilidade e profundo cuidado que a Igreja Católica deu na segurança e prevenção de contágio no interior dos templos. As máscaras, embora desconfortáveis, são o sinal dessa segurança e cuidado com a saúde do outro.

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“O ano de 2020 é um ano de aprendizagem. Aprendemos que não somos infinitos e superpotentes. E que precisamos de ser próximos e solidários.”

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CL - Que balanço faz sobre o ano de 2020? Que lições retira desta pandemia? O que se aprendeu?

Pe. MN - O ano de 2020 é um ano de aprendizagem. Aprendemos que não somos infinitos e superpotentes. E que precisamos de ser próximos e solidários. A proximidade não é só um conceito físico, mas é sobretudo existencial e empático. Como diz o Papa Francisco, estamos todos no mesmo barco e precisamos de pôr em prática uma cultura de cuidado, cuidado com o próximo, com o ambiente, com tudo o que Deus colocou à nossa disposição.

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“Como em todos os sectores da sociedade, na igreja atravessamos alguns momentos de dificuldade”

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CL - Há quebras de receitas nas igrejas? Quanto já perderam as igrejas do Algarve devido à Covid-19?

Pe. MN - Como em todos os sectores da sociedade, na Igreja atravessamos alguns momentos de dificuldade. Mas a solidariedade é e será sempre maior do que a escassez. Essa escassez não se quantifica. Neste momento, o nosso maior desafio é responder a todos os pedidos de ajuda que nos chegam e é nesse ponto que centramos a nossa atenção, com a colaboração de todos os fiéis.

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CL - Houve menos casamentos e baptizados? E como reage às limitações impostas nos funerais? Como tem visto a acção das autoridades de saúde no Algarve? Há doentes com Covid-19 abandonados nos hospitais, como se tem falado a nível nacional?

Pe. MN - Houve uma redução nos números relativos à celebração do sacramento do matrimónio e batismo. Essa redução deveu-se, sobretudo, à impossibilidade de se fazer a habitual festa depois da celebração. Em relação aos funerais, quem sofre mais com as limitações são os familiares, que se veem impossibilitados de se despedirem fisicamente dos seus entes queridos. Não tenho conhecimento sobre o estado da lotação dos hospitais, nem me compete ter. Apenas posso dizer que ao nível do acompanhamento pelos capelães hospitalares algarvios o seu trabalho manteve-se e continuaram a prestar serviço a todos quantos necessitaram da sua ajuda. Pelo que me apercebo, estamos todos a fazer o melhor que podemos e sabemos em proveito de todos.

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“Há falta de nos adaptarmos ao número de padres existente. Temos 58 padres a residir na diocese do Algarve (…) alguns já aposentados e de idade já avançada”

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CL - Ainda há falta de padres no Algarve? Quantos são necessários? E quantos existem neste momento?

Pe. MN - Há falta de nos adaptarmos ao número de padres existente. Temos 58 padres a residir na Diocese do Algarve. Mas alguns deles já estão aposentados e muitos pertencem a congregações religiosas (comunidades de padres que vivem em comunidade seguindo um carisma específico). Padres que pertencem só à Diocese do Algarve são um número reduzido e de idade já avançada. Temos que adaptar e sensibilizar as comunidades paroquiais para esta realidade.

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CL - Há pessoas a pedir ajuda nas igrejas, para comer e pagar despesas? Existe pobreza envergonhada no Algarve?

Pe. MN - Existe. Existe muita. E como já referi, essa deve ser a nossa principal preocupação.

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“Em relação aos funerais, quem sofre mais com as limitações são os familiares, que se veem impossibilitados de se despedirem fisicamente dos seus entes queridos.”

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CL - Que avaliação faz à actuação do governo neste processo da pandemia em Portugal? E o que lhe parece os comportamentos das pessoas?

Pe. MN - Certamente, estamos todos a fazer. O melhor que podemos e sabemos de acordo com os conhecimentos que possuímos.

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“Temos de ter esperança” que a vacina contra a covid-19 vai acabar com a instabilidade social, económica e emocional”

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CL - A vacina contra a Covid-19 vai acabar com esta instabilidade social, económica e emocional que sente no mundo e, em particular, no nosso país?

Pe. MN - Gostava de saber. Gostava muito que assim fosse. Temos de ter esperança.

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CL - Como perspectiva o ano de 2021? Que apelo deixa às pessoas, em geral, e em especial às que estão infectadas e em quarentena?

Pe. MN - Não faço cenários. Nesta altura, em 2019, não tinha a noção de como seria 2020. O que desejo e peço a Deus é que o ano de 2021 seja, para todos – sobretudo os que estão doentes -, um ano mais feliz e mais próspero que este, mas que não percamos a noção de que se não cuidarmos de nós, dos outros, da terra, de tudo o que nos rodeia, o futuro será sempre mais difícil.

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“Há comunidades onde não há a chamada missa do galo e o Natal é celebrado com igual dignidade”

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É pároco de Tavira e comemora 42 anos de idade no dia de Natal

O padre Miguel Lopes Neto, Director do Gabinete de Informação da Diocese do Algarve, desde 2008, nasceu no dia 25 de Dezembro de 1978, em Quelfes, freguesia do concelho de Olhão. Precisamente no Dia de Natal, em 2020, completa 42 anos de idade. É pároco de Tavira.

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Carlos Conceição

José Manuel Oliveira

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