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Elidérico Viegas: “Muitos hotéis que encerraram na época baixa já não vão reabrir na Páscoa, com prejuízos de muitos milhões de euros”

Elidérico Viegas: “Muitos hotéis que encerraram na época baixa já não vão reabrir na Páscoa, com prejuízos de muitos milhões de euros”

Está instalada a crise no turismo algarvio perante a expansão do Covid-19. Mais de 80 por cento dos hotéis e empreendimentos turísticos do Algarve registam cancelamentos nas reservas efectuadas pelos operadores e a Páscoa “está perdida”, com prejuízos de “muitos milhões de euros” para os empresários, numa altura em que muitas unidades encerradas na época baixa já não vão reabrir nesta altura do ano.

É este o novo ponto da situação feito pelo presidente da Direcção dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), Elidérico Viegas, em entrevista concedida ao «Correio de Lagos», sobre o impacto provocado pelo coronavírus Covid-19, e na qual acusa o governo de António Costa de “dar como uma mão e tirar com a outra” no tocante a apoios financeiros atribuídos neste período de crise no país.

 

“Existem unidades hoteleiras com cancelamentos na ordem de 80 por cento e a Páscoa está perdida”

 

“Mais de 80 por cento dos hotéis e empreendimentos turísticos registam cancelamentos para os próximos meses. Mais de 55 por cento destes solicitaram reembolsos dos pagamentos já efectuados. Em bom rigor, não é possível determinar os montantes dos prejuízos em causa, mas ascendem a muitos milhões de euros”, alerta Elidérico Viegas, lembrando que “o alojamento classificado oficialmente gera uma facturação anual de  cerca de 1.200 milhões de euros.”

 Com a expansão do vírus, restrições nas praias, em hipermercados e noutros estabelecimentos comerciais, bares a encerrarem às 21h00 e condicionalismos  de vária ordem em espaços públicos e privados, entre outras medidas, e o governo a admitir que o surto atingirá o pico no mês de Maio, o presidente da Direcção da AHETA não tem dúvidas de que “infelizmente, como sempre acontece nestas situações, os prejuízos correm por conta e risco dos empresários.” “A Páscoa está perdida. Neste momento, cerca de 80 por cento dos hotéis registam um abrandamento acentuado nas vendas para a época turística, cuja média atinge os 30 por cento. Porém existem unidades hoteleiras com cancelamentos da ordem dos 80 por cento”, lamenta.

 

“As empresas terão de considerar a hipótese de proceder a rescisões contratuais com os seus trabalhadores”

 

Nesta entrevista ao «Correio de Lagos», Elidérico Viegas já admite o cenário de desemprego, ao ser questionado sobre reflexos desta crise provocado por coronavírus Covid-19, nos postos de trabalho e na contratação de pessoal para a época alta do turismo no Algarve.

“Muitos hotéis que encerraram na época baixa já decidiram não reabrir na Páscoa como era habitual e outros estão a considerar fazê-lo, já para não falar de alguns que estando em funcionamento decidiram encerrar por iniciativa própria. É verdade que este número não é muito elevado, mas também é verdade que esta realidade já se verifica presentemente. Neste contexto, as empresas não só vão atrasar as contratações sazonais, como terão que considerar a hipótese de proceder a rescisões contratuais com os seus trabalhadores, caso a actividade entre estagnação e/ou recessão como parece ser o caso”, avisa o presidente da Direvção dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve.

 

Apoios financeiros? “O governo dá com uma mão e tira com a outra”

 

Por outro lado, lembra que “é preciso termos bem presente que as linhas de crédito disponibilizadas pelo governo não são subsídios a fundo perdido, mas sim empréstimos que terão de ser pagos mais tarde, e com juros.” “Nesta matéria, o governo dá com uma mão e tira com a outra”, acusa Elidérico Viegas. E neste rol de críticas, acrescenta: “O facto de os trabalhadores com filhos até 12 anos puderem ficar em casa, sendo o salário suportado em partes iguais pela Segurança Social e Entidades Empregadoras não tem qualquer sentido, tanto mais que as empresas e os trabalhadores terão que pagar ainda os respectivos impostos, (Segurança Social e IRS), contrariamente ao que se verifica  em outros países, cujos governos suportam a totalidade dos vencimentos dos trabalhadores, como é, alias, da mais elementar regra de justiça. Por outro lado, o governo adiou o pagamento de alguns impostos, mas não criou incentivos fiscais às empresas.”

 

“Cabe ao governo” decidir se deve fechar fronteiras

 

 Numa altura em que muitos turistas entram em Portugal sem qualquer controlo sanitário nas fronteiras, enquanto empresários e autarcas já defendem o encerramento das fronteiras, aquele dirigente associativo prefere deixar tal decisão ao critério do Executivo do primeiro-ministro António Costa. “Não sei dizer, mas é verdade que o problema tem vindo em crescendo, pelo que todos os cenários estão em cima da mesa e não devem ser ignorados. Cabe ao governo avaliar em cada momento as acções a tomar”, observa.

 

“Atirar areia para os olhos dos algarvios”

 

Já em relação à acção do Governo no Algarve ao nível da saúde, agora com os hospitais de Faro e Portimão ativados para receber doentes com coronavírus, Elidérico Viegas reforça críticas já lançadas a este nível noutras entrevistas ao nosso Jornal: Nesta, como em outras matérias, no que ao Algarve diz respeito, o governo anda sempre atrás dos acontecimentos. Qualquer algarvio sabe bem que os hospitais da região não têm condições para responder eficazmente aos problemas de saúde regionais quanto mais a um surto desta natureza. Tudo o mais é deitar areia para os olhos dos algarvios.”

 

Chegou “tarde” o «Manual de Procedimentos» da Direcção-Geral de Saúde, embora seja “o bem mais precioso para agir em caso de suspeitos de coronavírus” nos hotéis e aldeamentos turísticos

 

 E será que as autoridades de saúde e os responsáveis governamentais despertaram tarde para a realidade resultante do Covid-19? Nesta situação, o presidente da Direcção da AHETA mostra-se cauteloso e acha que “em termos gerais, o governo vem fazendo aquilo que pode e sabe.” ”Trata-se de um processo evolutivo em que o que hoje é verdade amanhã é mentira, havendo que ajustar as medidas e as acções à expansão e impacto do próprio vírus”, nota.

 Questionado sobre a forma como estão os hotéis e os empreendimentos turísticos do Algarve estão a lidar com este surto e as indicações transmitidas pelas autoridades, Elidérico Viegas diz que estas unidades “ tentam implementar internamente o “Manual de Procedimentos” emanado pela Direcção Geral de Saúde.” “Embora tarde, este manual constitui, na actual conjuntura, o bem mais precioso no que se refere à forma de atuar e agir em casos suspeitos de coronavírus nas nossas unidades hoteleiras e de alojamento,” conclui o presidente da Direção da AHETA.

 

José Manuel Oliveira

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