Este profissional de segurança aponta, em entrevista ao nosso Jornal, a falta de “meios humanos” nesta área como a principal lacuna em Lagos, reconhece que “nunca é fácil controlar” o ajuntamento de pessoas na via pública e diz que o encerramento temporário de discotecas e de bares com pista de dança, decidido pelo Governo, faz parte de “medidas que temos de respeitar e compreendo, face ao aumento dos casos de contágio” da pandemia de Covid-19.
Depois de “um Natal calmo” neste concelho, o guarda-nocturno Carlos Tendeiro perspectiva que, na passagem-de-ano, “poderá haver um desacato ou outro, mas nada de alarmante, acho que resultado do espírito natalício.”
“Lagos continua a ser uma cidade segura e existem, felizmente, muitas pessoas desta cidade que permitem isso através das contribuições para os Guardas-Nocturnos, o que possibilita um reforço efectivo da segurança comunitária”, destaca Carlos Tendeiro. Mas deixa avisos.
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Correio de Lagos - Como foi passada a noite de Natal em Lagos, em termos de segurança? Havia pessoas de forma suspeita na via pública durante a madrugada? Houve assaltos, ou tentativas de assaltos? Teve de abordar alguém?
Carlos Tendeiro - As noites de Natal são geralmente calmas. O risco ocorre nas noites antes e seguintes, com a proximidade da Passagem de Ano. Felizmente foi um Natal calmo.
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CL- E como perspectiva a passagem-de-ano, agora com as restrições em face da pandemia de Covid-19, nomeadamente o encerramento de discotecas e bares com pista de dança?
CT- São medidas que temos de respeitar e compreendo, face ao aumento dos casos de contágio.
Certamente será uma noite calma, mas também costuma ser quando esses estabelecimentos estão abertos. Poderá haver um desacato ou outro, mas nada de alarmante, acho que resultado do espírito natalício.
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“Esta semana é sempre de risco, por assim dizer, no que respeita a assaltos a estabelecimentos que tenham bebidas alcoólicas para venda, em virtude da festa de passagem de ano”
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CL- O Governo proíbe ajuntamentos com mais de dez pessoas na via pública? É possível controlar essa situação?
CT- Nunca é fácil controlar, até porque, falando na nossa cidade, existe muito local onde se podem verificar ajuntamentos sem serem detectados. O fecho dos estabelecimentos referidos deve ter também essa intenção, que não haja ajuntamentos na via pública.
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CL - E o encerramento de discotecas e de bares com pista de dança resolve o problema de aglomerações de pessoas?
CT - Em parte acredito que sim, uma vez que é usual aglomerados de pessoas no exterior desses estabelecimentos, ou amigos que se encontram na via pública.
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CL - Como perspectiva as noites nas próximas semanas em Lagos?
CT - Esta semana é sempre de risco, por assim dizer, no que respeita a assaltos a estabelecimentos que tenham bebidas alcoólicas para venda, em virtude da festa de passagem de ano.
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No último Verão houve “os problemas habituais, algum vandalismo entre um ou outro caso pontual, como o furto de catalisadores, mas nada demais”
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CL - Quais foram os problemas que sentiu no último Verão? E nos meses seguintes?
CT- Os problemas habituais, algum vandalismo entre um ou outro caso pontual, como o furto de catalisadores, mas nada demais. Lagos continua a ser uma cidade segura e existem, felizmente, muitas pessoas desta cidade que permitem isso através das contribuições para os Guardas-Nocturnos, o que possibilita um reforço efectivo da segurança comunitária.
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Videovigilância? “A área onde se encontram os estabelecimentos de restauração e bebidas deve ser uma prioridade. Mas muito deve ser ponderado, a criminalidade adapta-se às novas tecnologias”
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CL - A videovigilância faz falta em Lagos?
CT - Esse é um ponto sensível, porque na segurança tudo se complementa e nada se deve substituir. Podemos ter tecnologia, mas existirão meios humanos suficientes para responder às ocorrências? Será que ao serem colocadas em certas zonas da cidade, não levará a um certo sentimento de insegurança noutras zonas da cidade?
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CL - Em que áreas deve haver sistema de videovigilância?
CT - Sem dúvida que a área onde se encontram os estabelecimentos de restauração e bebidas deve ser uma prioridade. Mas muito deve ser ponderado, a criminalidade adapta-se às novas tecnologias, por exemplo, quem efectua assaltos com as suas viaturas, certamente passará a fazer ‘carjackings’, por exemplo, de forma a não ser identificado, e por aí a fora.
É um tema sensível, que poderá gerar um falso sentimento de segurança e, como costumamos dizer, as câmaras de videovigilância e os alarmes não correm atrás de ninguém. Poderão certamente fazer parte da solução, mas não são decerto a solução.
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“Lagos é uma cidade segura, sem dúvida, onde se pode andar a qualquer hora da madrugada na rua sem correr grandes riscos”
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CL - Que lacunas sente ao nível da segurança no concelho de Lagos? O que faz falta?
CT- Meios humanos. Mas é um tema em que não quero, nem devo, entrar. Lagos é uma cidade segura, sem dúvida, onde se pode andar a qualquer hora da madrugada na rua sem correr grandes riscos. Temos a PSP e a GNR que fazem o que podem e muitas vezes sem o reconhecimento do seu esforço. Aliado a isto, ainda temos a Polícia Marítima que tem uma área vasta de intervenção, o que dificulta, certamente, a vigilância de alguns locais na cidade, onde existem ajuntamentos de pessoas, furtos, roubos, entre outros, durante a madrugada.
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“Estimamos que haja cerca de 250” guardas-nocturnos em Portugal. “No Algarve existem somente 7 (...) Muito se deve à falta de abertura de concurso de licenciamento por parte das câmaras municipais.”
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CL - Quantos guardas-nocturnos existem em Portugal?
CT - Não existe uma base de dados fidedigna. Contudo, estimamos que haja cerca de 250 profissionais no País.
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CL - E no Algarve?
CT - No Algarve existem somente 7. Desses, 3 em Lagos, 1 em Portimão, 2 em Loulé e 1 em Faro. Muito se deve à falta de abertura de concurso de licenciamento por parte das câmaras municipais.
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“Quem paga aos guardas-nocturnos acaba por pagar a um amigo, porque se gera uma relação de grande confiança e proximidade”
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CL - As entidades e pessoas particulares que contratam guardas-nocturnos, cumprem os pagamentos dos serviços?
CT - Quem paga aos guardas-nocturnos acaba por pagar a um amigo, porque se gera uma relação de grande confiança e proximidade. Nem sempre temos quem pague pontualmente, também aliado à sazonalidade, pelo que quando se fecham estabelecimentos, muitas vezes só conseguimos receber quando reabrem. Nesta pandemia aconteceu muito, mas tem de haver compreensão de ambas as partes, pelo que geralmente corre bem.
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CL - Que alertas pretende deixar para o ano de 2022?
CT - Nada em especial. Vivemos momentos difíceis, pelo que devemos ser cada vez mais solidários com o próximo. De resto, agradecer a todos aqueles que contribuem para o nosso serviço, pois é um exemplo de que todos juntos podemos fazer a diferença.