A AGIGARVE - Associação de Guias Intérpretes do Algarve endereçou uma Carta Aberta às seguintes entidades: Presidente da República, Primeiro Ministro. Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital, Directora Geral da Saúde, Presidente do Turismo de Portugal, Presidente do Turismo do Algarve e Deputados da Assembleia da República.
Estamos a chegar ao final do Verão mais atípico das nossas vidas, num ano também ele ímpar e assaz complicado. Um vírus veio transformar as nossas vivências, obrigando a repensar as nossas atitudes. O país fechou durante 2 meses, mas verificou-se que esta não seria a melhor forma de viver e começou a abrir-se ou, como se diz agora, a desconfinar. Aos poucos a economia foi mexendo, embora com grandes constrangimentos.
Um país que nos últimos anos viu o sector dos serviços ocupar grande parte do sector económico, sentiu e sente, de forma drástica, estes momentos. O Turismo, motor dessa oferta de serviços, foi abruptamente atingido. A chegada do Verão e alguma recuperação na hotelaria e na restauração vieram dar a entender que ainda era possível conseguir alguma estabilidade. No entanto, o Turismo é um grande sector onde se incluem várias actividades, onde os movimentos não são iguais para todos e, consequentemente, a dita retoma também não se sente de forma igual.
Nós, Guias-Intérpretes, mediadores das tradições e cultura do país, estamos entre as actividades ligadas ao Turismo, para as quais a retoma continua ainda a ser uma luz muito distante num longo túnel de medos, incertezas e incoerências. Se quisermos fazer uma analogia, podemos dizer que o Turismo é como o Titanic. Teve o seu tempo para se desenvolver, foi lançado ao mar e a navegação fazia-se a todo o vapor, sem grandes problemas e sempre a avançar. Existiam diversas classes, mas todas elas apreciavam o que de bom a viagem prometia. De repente, apareceu o “iceberg”, o Covid 19, e o barco começou a meter água, ameaçando ir ao fundo. Começam a preparar-se os botes salva-vidas, mas só dão para alguns. Tal como nesta pandemia, há apoios do governo, mas só chegam a alguns. Aos outros só lhes resta sobreviver o melhor possível e muitas vezes as tábuas de salvação que vão aparecendo são-lhes retiradas e são deixados a chapinhar na água.
Muitos profissionais de informação turística, para além dos reveses que sofreram ao longo dos últimos anos com as alterações legislativas que muito prejudicam os profissionais certificados, são trabalhadores independentes. Mas também são trabalhadores do Turismo. Estamos integrados nos trabalhadores independentes para receber um apoio que chega ao fim neste mês de Agosto. Haverá um outro apoio, a partir de Setembro, que implica descontos obrigatórios nos próximos 30 – trinta – meses. Um apoio que será no valor de 1 IAS, 438,81€, sujeito a descontos. Este não é, de todo, o apoio que esperávamos para poder sobreviver com alguma dignidade nos próximos meses! Muitos de nós estão sem trabalhar desde Outubro/Novembro de 2019, uma vez que a época turística terminou nessa altura e iríamos recomeçar a trabalhar quando foi declarada a pandemia. Alguns não foram elegíveis para os apoios, o que torna a situação ainda mais grave. Da parte do Turismo, apoios para nós, não existem!
A partir de Setembro, normalmente, iniciava-se uma época promissora, para nós, com muito serviço, muitos grupos, excursões diárias, muito mais que em Julho e Agosto, onde os turistas, maioritariamente vêm para a praia. Agora enfrentamos outros problemas: Trabalhando nós quase em exclusivo com grupos organizados, neste momento, há grupos a serem cancelados na origem porque, incompreensivelmente, pode-se fazer deslocações de avião com muita gente, pode-se transportá-los num
autocarro (lotação de 49 pode ter até 30 clientes mais motorista e guia), mas não se pode estar na rua com mais de 20 pessoas ou visitar um monumento, com excepção de uma grande instituição portuguesa, que compreendendo a importância económica e cultural de grupos acompanhados por guias-intérpretes, continua a permitir a visita dos seus espaços a grupos até 40 pessoas e guia.
Não queremos, de forma alguma, ser irresponsáveis e contribuir para o aumento de casos. As medidas de prevenção como o uso de máscaras e distanciamento teriam de ser cumpridas e quem sabe até se poderia exigir teste Covid para grupos organizados. Gostaríamos que a Tutela percebesse as nuances das várias actividades e se soubesse adaptar para que todos possamos trabalhar e sentir que somos iguais de direito. Porque nesta época de grandes dificuldades, vemos que não há igualdade de tratamento e que uns continuam a ser mais iguais que outros. Só assim se explicam as festas de caracter político – cultural, onde se esperam largos milhares de participantes, assim como vários outros eventos com público, enquanto outros não o podem ter.
Caros Governantes deste nosso país, o que solicitamos é tão somente que escutem as pessoas e tenham a coragem de ver as reais necessidades e prioridades e que as saibam adaptar por forma a que todos possam ser tratados com respeito e dignidade. Não queremos o peixe, queremos pescar, mas se não nos deixarem pescar, ao menos dêem-nos um peixe, não um peixinho!