No âmbito das entrevistas aos autarcas dos Municípios das Terras do Infante, é agora a vez de Afonso Nascimento, único Vereador na oposição, sem pelouros distribuídos e eleito pelo Movimento “Juntos Pela Mudança” em Coligação PPD/PSD/CDS-PP/MPT/PPM).
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Nota:
A resposta do entrevistado só aconteceu no dia 3 de Setembro, pelo que respeitando as directrizes da Comissão Nacional de Eleições (CNE), esta entrevista não é publicada na edição impressa de Setembro, que é destinada a um caderno especial “Autárquicas 2021 em Terras do Infante”. Uma cobertura inédita contemplando entrevistas a todos os cabeças-de-lista das forças políticas concorrentes, com igualdade de espaço, de oportunidade e tratamento jornalístico.
Porém, a entrevista a Afonso Nascimento é publicada hoje, dia 9 de Setembro, no nosso diário correiodelagos.com.
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Quem é Afonso Nascimento?
Afonso dos Santos Fernandes do Nascimento, nascido a 20 de Fevereiro de 1974, é natural e residente em Sagres, concelho de Vila do Bispo.
Habilitações académicas: Completou o Ensino Secundário na Escola Secundária Júlio Dantas, em Lagos. Frequentou a Escola de Hotelaria e foi voluntário no serviço militar, tendo passado à reserva como 2.º Sargento do Exército Português.
Percurso político: De 2005 a 2009, foi secretário do Presidente da Assembleia Municipal, de 2004 a 2009 foi deputado na Assembleia de Freguesia de Sagres, de 2009 a 2013, exerceu as funções de Secretário da Vereação na Câmara Municipal de Vila do Bispo, de 2009 a 20013 foi primeiro secretário da Assembleia Municipal. De 2013 a 2017, cumpriu funções de Vereador na Câmara Municipal de Vila do Bispo. Actualmente é Vereador da Câmara Municipal de Vila do Bispo.
Percurso profissional: Empresário hoteleiro e agrícola.
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«O bichinho da política não se compra nem se vende, nasce em cada um de nós (…)»
Correio de Lagos – Desde logo, como nasceu esse “bichinho” da Política?
Afonso Nascimento – O bichinho da política não se compra nem se vende, nasce em cada um de nós. Para uns, ao primeiro obstáculo o “bichinho” morre e para outros esses obstáculos ainda fazem querer continuar e lutar ainda mais. Enquanto cidadãos, quando pretendemos fazer algo pela nossa região, pelos nossos cidadãos e se quer fazer algo para mudar o que está menos bem, o “bichinho” não pára de aumentar.
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«(…) Eu sempre estive na política numa estrutura sólida e compacta da JSD e PSD, afirmo sem qualquer complexo, só que a determinada altura me cansei de ser o "acarreta pauzinhos", para outros "terem os pezinhos quentes" (…)»
CL – O Afonso esteve ao lado do Partido Socialista e de Adelino Soares, durante o mandato 2009-2013, como Secretário da Vereação. Depois, foi eleito Vereador em 2013, mas não cumpriu o mandato, saindo logo em 2014. Afinal, o que aconteceu?
AN – Recuando um pouco atrás, se me permite, eu sempre estive na política numa estrutura sólida e compacta da JSD e PSD, afirmo sem qualquer complexo, só que a determinada altura cansei-me de ser o "acarreta pauzinhos", para outros "terem os pezinhos quentes", quando quem estava no poder se julgava acima de tudo e o iluminado sobre todas as matérias, facto esse transversal a quem está na cadeira do poder há algum tempo, tendo como forma de estar, a lei do eucalipto, secando tudo em seu redor.
Só tive uma coisa a fazer, retirar-me e seguir o meu caminho, apoiando e levando por diante o meu ser, que seria contribuir da melhor forma possível para o bem-estar de todos. Resultando o apoio à candidatura de Adelino Soares, não só eu como muitíssimas pessoas que me acompanham há anos. Na altura havia uma enorme necessidade de mudança. Aconteceu e é real que eu não sou pessoa de me acobardar ao poder e muito menos aos partidos, pois caso contrário, teria estado ao lado do antigo Presidente do PSD até que este terminasse as suas funções, e o mesmo teria ou não acontecido em relação ao ex-Presidente do PS, e hoje até poderia ser o Presidente da Câmara, mas não era esse o meu objectivo, que era sim servir o povo de Vila do Bispo, nem que para isso tivesse que estar em contra poder.
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«(…) Estar a lutar contra tudo e contra todos não é nada fácil, mas por respeitar muito todos os que votaram em mim vou representá-los até ao último dia do mandato que estará para breve»
CL – Nas Autárquicas de 2017 surge como cabeça-de-lista da Coligação PPD/PSD/CDS-PP/MPT/PPM). Obteve apenas um mandato, mas certamente que aspirava um resultado superior. O que é que faltou a esta força política? Ou terá o PS de Adelino Soares sido tão forte que conseguiu a maior vitória de sempre?
AN – Sim, é verdade, na altura não era algo que ambicionasse, mas depois de várias pessoas convidadas para serem candidatos, não terem aceite, sabendo à partida que era uma guerra perdida, porque havia um estudo de opinião, sondagem, que reflectiam que. independentemente de quem fosse o candidato do PS, este ganharia com maioria absoluta. E mesmo correndo o risco de não ser eleito, corri esse risco a pedido de um grande e verdadeiro amigo que já não se encontra entre nós, de cabeça erguida, derrotado mas presente, contrariamente a todos aqueles, que em virtude de perderem eleições, abandonam os cargos e aqueles que os elegeram. Mas hoje querem surgir como salvadores!
Todos nós, natural do ser humano, ambicionamos sempre mais, é verdade, mas sempre tive a noção de todo o trabalho que andou a ser feito e preparado. Pois surgiram por aí um ou outro traidor, mas nada de importante, isso será genético, sendo que alguns hoje se perfilam para o poder, e estar a lutar contra tudo e contra todos não é nada fácil, mas por respeitar muito todos os que votaram em mim vou representá-los até ao último dia do mandato que estará para breve.
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«Levei algumas vezes com dificuldade a maioria a seguir os meus passos, a alterarem até alguma trajetória dos seus assuntos e pugnei sempre por não me calar e ser mais desbocado acerca do estado central, porque não tinha a obrigação de me acobardar nem ao PS nem ao PSD»
CL – Durante este mandato, quais foram os contributos e propostas de Afonso Nascimento?
AN – Os meus contributos e propostas foram muitíssimos, como a própria oposição diz e reconhece, que sou uma pessoa experiente com um conhecimento abrangente das matérias, levei algumas vezes com dificuldade a maioria a seguir os meus passos, a alterarem até alguma trajetória dos seus assuntos e pugnei sempre por não me calar e ser mais desbocado acerca do estado central, porque não tinha a obrigação de me acobardar nem ao PS nem ao PSD... Mas os contributos foram muitos e o meu trabalho reconhecido pelo Ex Presidente Adelino Soares, na sua última reunião de Câmara.
CL – Como avalia a gestão do Executivo Municipal liderado por Adelino Soares?
AN – Considero a gestão do PS, durante os últimos 12 anos, normal ao que considerei logo após o final do primeiro mandato, nada mais nem menos, isso só foi permitido porque o povo assim o escolheu. Se concordo, devo dizer que inicialmente sim, mas a partir de determinada altura não concordei com as linhas de orientação, as coisas alteraram-se. E como não fui nem sou como alguns que dizem não ter concordado, mas aguardaram até que o tacho fosse ao lume, eu tentei sempre dar o meu melhor contributo e lutar pelo que sempre achei correcto e melhor para o Concelho, mas eu fui e sou apenas a minoria.
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«Considero que as maiores dificuldades ou até lacunas de Vila do Bispo, seja a habitação social, grande problema com os diversos planos de ordenamento. (…) Não existe uma estratégia de turismo, habitação social, pesca, agricultura e dos demais serviços, ex-libris de uma região»
CL – Em sua opinião, quais são as grandes lacunas existentes no concelho de Vila do Bispo?
AN – Considero que as maiores dificuldades ou até lacunas de Vila do Bispo, seja a habitação social, grande problema com os diversos planos de ordenamento, a situação geográfica, alvo de grande pronúncia por parte das entidades exteriores ao município e por último uma enorme falta e ausência de programação e conhecimento na forma como lançar o concelho para mais além, estamos sempre a reboque de outros municípios. Não existe uma estratégia de turismo, habitação social, pesca, agricultura e dos demais serviços, ex-libris de uma região.
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«A situação que observamos, são uma série de candidaturas, a querer marcar posição, para um cenário futuro, que não passa de uma tentativa de invasão ao poder a todo o custo, pelo menos temos um único estratega por detrás de três candidaturas. (...) Podemos antever uma Câmara em condições ingovernáveis, mas com grandes surpresas e novidades. (…) O funcionamento da Autarquia com esta “guerrilha” de funcionários, nas diversas candidaturas, em nada ajudará o seu normal desempenho»
CL – Estão aí à porta as Autárquicas 2021. Adelino Soares não se pode recandidatar e parece existir um cenário de recorde de forças políticas na corrida às urnas. Como é que analisa esta situação e qual vai ser a posição de Afonso Nascimento?
AN – A situação que observamos, são uma série de candidaturas, a querer marcar posição, para um cenário futuro, que não passa de uma tentativa de invasão ao poder a todo o custo, pelo menos temos um único estratega por detrás de três candidaturas, sabendo que a candidatura do PS só por si tem um considerável eleitorado. Mas podemos antever uma Câmara em condições ingovernáveis, mas com grandes surpresas e novidades. Como sabem temos Juntas que poderiam terminar o seu trabalho, se é que algumas começaram algum, porque poderiam recandidatar-se, fica um vazio. Onde o funcionamento da Autarquia com esta “guerrilha” de funcionários, nas diversas candidaturas, em nada ajudará o seu normal desempenho.
Como sabem, não serei candidato a nada, pois pela primeira vez na vida ouvi os que me são próximos e vou dar-lhes a devida atenção, fazendo um período sabático. Contudo lamento que um concelho tão pequeno, seja constituído por tanta sede pelo poder, ânsia doentia por um lugar ao sol, o que também será o reflexo pelo não êxito de Vila do Bispo, ao mesmo tempo que serão limpas e colocadas nos seus lugares uma série de frentes.
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«A pandemia foi devastadora na economia local, graças a Deus que não tivemos um número avultado de óbitos (…) à excepção dos fura filas das vacinas, sim, não foi só em Portimão, aqui também houve, estão é calados que nem ratos»
CL – Enquanto autarca, e também na qualidade de empresário, como vê esta pandemia que afecta todos, em particular, no que diz respeito a Vila do Bispo, mas também aos seus próprios negócios?
AN – A pandemia foi devastadora na economia local, graças a Deus que não tivemos um número avultado de óbitos, mas temos de fazer uma análise fria. Se não fossem os constrangimentos, precauções e cuidados redobrados da maioria dos portugueses, o que seria de todos nós, à excepção dos fura filas das vacinas, sim, não foi só em Portimão, aqui também houve, estão é calados que nem ratos. A nível local poderíamos ter ido mais além e dar a conhecer uma vez mais o concelho, vendendo até a boa imagem da saúde pública, até há pouco tempo, aqui vivida.
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«Vou deixar uma mensagem ao povo de Vila do Bispo, sejam astutos e que vão votar onde o vosso coração e consciência mandarem, assobiem a todos, sorriam a alguns e mandem passear outros, mas vão descarregar o voto, mesmo que pensem que eleitoralmente pouco signifique»
CL – Pretende deixar alguma mensagem às gentes de Vila do Bispo?
AN – Vou deixar uma mensagem ao povo de Vila do Bispo, sejam astutos e que vão votar onde o vosso coração e consciência mandar, assobiem a todos, sorriam a alguns e mandem passear outros, mas vão descarregar o voto, mesmo que pensem que eleitoralmente pouco signifique, mas como protesto e indignação à forma como os sucessivos governantes nos têm tratado, só contam connosco pelas eleições, só se vê algum trabalho em altura de eleições. Analisem com atenção os desempenhos dos candidatos, pois alguns deles fazem actualmente parte de executivos, e o que fizeram?
O meu muito obrigado a todos aqueles que depositaram, há quatro anos e durante estes anos, confiança na minha pessoa, aguardamos serenamente que o café ferva na cafeteira, e que a borra assente! Até já…